Pela primeira vez, um estudo sistemático examinou em que medida as corporações de alimentos estão comprometidas com a nutrição de seus consumidores. Divulgado em 12 de março, o relatório da Access to Nutrition Index (ATNI) – uma iniciativa da Aliança Global para Nutrição Aprimorada (Gain, na sigla em inglês), da Fundação Bill e Melinda Gates e do Welcome Trust – mostra que a “Big Food”, como é conhecido o grupo das grandes multinacionais de alimentos, está falhando nesse quesito. Das 25 maiores empresas do mundo avaliadas, a maioria mostrou resultados insatisfatórios (mais na reportagem “Em Fogo Alto”, edição 70).
O relatório partiu de documentos disponibilizados pelas próprias empresas para examinar compromissos, práticas e desempenhos em políticas corporativas globais relacionadas à nutrição, com base em recomendações internacionais. Entre os sete quesitos avaliados estão os esforços para melhorar o perfil nutricional e a rotulagem dos produtos; o cumprimento de acordos envolvendo o marketing de alimentos destinados ao público infantil (mais em “Nutrição infantil em questão”) e a facilitação do acesso a alimentos saudáveis em comunidades pobres.
Em escala de zero a 10, a maioria das empresas teve pontuação geral abaixo de 5, com exceção de Danone (6,3), Unilever (6,1) e Nestlé (6,0). Em 20o, ficou a BRF (antiga Brasil Foods), com 0,6 (acesse o ranking completo em nosso site).
Quem publica relatórios corporativos acabou se dando melhor. Segundo Inge Kauer, diretora-executiva da ATNI, houve quem levasse nota baixa por não ter informação suficiente sobre suas políticas nutricionais. Mas isso poderá ser corrigido nas próximas edições do relatório, que será bienal. Ainda assim, segundo Inge, está claro que o setor precisa se empenhar mais. “Essas 25 empresas são responsáveis pela alimentação de boa parte do mundo. Elas têm a obrigação de contribuir mais no combate à desnutrição e à obesidade.”
E as obrigações tendem a aumentar. Duas semanas antes da ATNI, a Oxfam havia lançado a campanha “Por Trás das Marcas”, expondo falhas nas políticas socioambientais nessa mesma indústria de alimentos. A vigilância está só começando.