O lixo é um dos principais produtos da pauta de exportação dos Estados Unidos para a China. Em 2011, os EUA venderam para os chineses US$ 10,8 bilhões de sucata metálica e papel para reciclagem – resíduos embarcados nos navios que voltavam ao Oriente depois de despejar bens de consumo vendidos pela China ao Wal-Mart e similares. Desde então, Beijing começou a impor barreiras à importação de lixo de baixa qualidade, sobretudo embalagens plásticas. Esse assunto, aliás, foi coberto há pouco tempo aqui no post da Flávia “A muralha verde da China”. Mas a nova legislação não foi o bastante para esmorecer o comércio de sucata dos metais mais valorizados.
Uma centena de traders chineses têm palmilhado as estradas americanas, disputando a tapa sucata de cobre que alimente a expansão econômica de seu país. Os chineses são responsáveis por 43% do consumo global desse metal e a sua demanda tem atingido níveis recordes. Sucata reciclada representa mais da metade das cerca de 8 milhões de toneladas de cobre consumidas pela China anualmente e 70% dela é importada, principalmente dos Estados Unidos.
A revista BusinessWeek acabou de publicar um relato impressionante sobre este cobreduto internacional – um extrato do livro “Junkyard Planet: Travels in the Billion-Dollar Trash Trade”, do jornalista Adam Minter, a ser lançado em novembro. O autor mapeia as ramificações internacionais da indústria da reciclagem americana, avaliada em US$ 250 bilhões. Minter publica um blog que dá um gostinho do livro.
O vai-e-vem de resíduos, sejam eles computadores quebrados despejados num lixão da Nigéria, seja o “upcycling” – a reciclagem que agrega valor – do cobre americano pelos chineses, é um daqueles efeitos colaterais da globalização capazes de gerar muita confusão. Claro, o interesse chinês evita que a quantidade fabulosa de cobre descartada nos EUA seja abandonada e esquecida em aterros, não há dúvida. Mas ele também fomenta uma caça ao tesouro que leva sucateiros a invadir casas abandonadas para arrancar antigas tubulações de cobre e desmantelar televisores que poderiam ter sido doados para extrair parte da fiação. Meu marido, que é escultor, desistiu de comprar cobre, que desapareceu do mercado americano desde que os intermediários sentiram o calor da demanda na China, de uns cinco anos para cá. E isso, claro, é só a pontinha do iceberg.[:en]
O lixo é um dos principais produtos da pauta de exportação dos Estados Unidos para a China. Em 2011, os EUA venderam para os chineses US$ 10,8 bilhões de sucata metálica e papel para reciclagem – resíduos embarcados nos navios que voltavam ao Oriente depois de despejar bens de consumo vendidos pela China ao Wal-Mart e similares. Desde então, Beijing começou a impor barreiras à importação de lixo de baixa qualidade, sobretudo embalagens plásticas. Esse assunto, aliás, foi coberto há pouco tempo aqui no post da Flávia “A muralha verde da China”. Mas a nova legislação não foi o bastante para esmorecer o comércio de sucata dos metais mais valorizados.
Uma centena de traders chineses têm palmilhado as estradas americanas, disputando a tapa sucata de cobre que alimente a expansão econômica de seu país. Os chineses são responsáveis por 43% do consumo global desse metal e a sua demanda tem atingido níveis recordes. Sucata reciclada representa mais da metade das cerca de 8 milhões de toneladas de cobre consumidas pela China anualmente e 70% dela é importada, principalmente dos Estados Unidos.
A revista BusinessWeek acabou de publicar um relato impressionante sobre este cobreduto internacional – um extrato do livro “Junkyard Planet: Travels in the Billion-Dollar Trash Trade”, do jornalista Adam Minter, a ser lançado em novembro. O autor mapeia as ramificações internacionais da indústria da reciclagem americana, avaliada em US$ 250 bilhões. Minter publica um blog que dá um gostinho do livro.
O vai-e-vem de resíduos, sejam eles computadores quebrados despejados num lixão da Nigéria, seja o “upcycling” – a reciclagem que agrega valor – do cobre americano pelos chineses, é um daqueles efeitos colaterais da globalização capazes de gerar muita confusão. Claro, o interesse chinês evita que a quantidade fabulosa de cobre descartada nos EUA seja abandonada e esquecida em aterros, não há dúvida. Mas ele também fomenta uma caça ao tesouro que leva sucateiros a invadir casas abandonadas para arrancar antigas tubulações de cobre e desmantelar televisores que poderiam ter sido doados para extrair parte da fiação. Meu marido, que é escultor, desistiu de comprar cobre, que desapareceu do mercado americano desde que os intermediários sentiram o calor da demanda na China, de uns cinco anos para cá. E isso, claro, é só a pontinha do iceberg.