Empreendedores nigerianos anunciaram esta semana que começarão a construir uma cidade-satélite inteligente junto à capital, Abuja, para celebrar o centenário da liberação do país do domínio britânico. Sua meta é atrair multinacionais, empresas com foco em sustentabilidade e turistas para essa comunidade com capacidade para 100 mil habitantes. O vídeo promocional e um tanto meloso (ao lado, em inglês) informa que a nova cidade será orgânica, biomimética e atenderá a todos os requisitos do urbanismo de baixo impacto. Ou seja: prioridade dada a pedestres e ciclistas, excelente transporte público, auto-suficiência na geração de energias limpas, uso de águas pluviais, produção local de alimentos e diversidade étnica e cultural.
A Cidade Biomimética de Abuja não é a primeira, nem a mais ambiciosa comunidade concebida para servir de vitrine das possibilidades do urbanismo sustentável. Uma dezena de iniciativas no gênero pipocaram em várias latitudes nos últimos oito anos:
- Dongtan – Este projeto pioneiro na ilha chinesa de Chongming, nos banhados próximos a Xangai, foi iniciado em 2005 com a ambição de chegar, um dia, a meio milhão de habitantes.
- Masdar – O mais badalado de todos é um oásis artificial que começou a ser construído em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes em 2006. Ele deverá consumir mais de US$ 22 bilhões até ficar pronto, em 2025, e terá 50 mil habitantes. Vendido como o primeiro projeto global a ter pegada de carbono zero, ele foi detalhado aqui na Página 22 pelo professor Ignacy Sachs no artigo Paraísos artificiais. Os dois vídeos que compõem o documentário ao lado (num inglês um tanto jocoso), ajudam a circular virtualmente pela nova cidade.
- Songdo – Distrito de negócios próximo a Seoul, capital da Coreia do Sul, com um custo estimado de US$ 40 bilhões, com previsão de ter 65 mil habitantes em 2015.
- Zira – Lançado em 2009 numa ilha em frente à capital do Azerbaijão, Baku, tem um design digno de Flash Gordon. Os edifícios serão aquecidos e resfriados por bombas de calor instaladas sob o Mar Cáspio e a eletricidade virá de uma fazenda eólica off-shore.
Todas são um misto de sonho de consumo com virtuosismo arquitetural. Entretanto, como aponta a The Economist na sua última edição, este é um sonho difícil de sair da prancheta, sobretudo por problemas financeiros, aguçados pela crise global e o desinteresse de investidores.
Em quase uma década, o pioneiro Dongtan não foi para a frente, afundando na burocracia local. O projeto da ilha de Zira também não saiu do papel. O distrito coreano Songdo continua sendo construído, mas poucas empresas se animaram a mudar para lá.
Masdar parece ser a exceção que se mantém graças aos bolsos sem fundo dos xeiques que financiam o empreendimento. O projeto continua firme e já completou as suas duas primeiras fases, mas teve que abrir mão de algumas ambições pouco realistas, como os veículos magnéticos com pilotos automáticos ou a dessalinização de águas subterrâneas com energia solar. Também enfrenta problemas para atrair ocupantes, já que a crise reduziu o valor dos imóveis na vizinha Abu Dhabi. Mesmo assim, o projeto avança e manterá elementos essenciais: é completamente independente dos combustíveis fósseis que correm no seu subsolo e, mais importante numa região desértica, foi capaz de cortar drasticamente o consumo de água e reduzir seu desperdício a zero.[:en]
Empreendedores nigerianos anunciaram esta semana que começarão a construir uma cidade-satélite inteligente junto à capital, Abuja, para celebrar o centenário da liberação do país do domínio britânico. Sua meta é atrair multinacionais, empresas com foco em sustentabilidade e turistas para essa comunidade com capacidade para 100 mil habitantes. O vídeo promocional e um tanto meloso (ao lado, em inglês) informa que a nova cidade será orgânica, biomimética e atenderá a todos os requisitos do urbanismo de baixo impacto. Ou seja: prioridade dada a pedestres e ciclistas, excelente transporte público, auto-suficiência na geração de energias limpas, uso de águas pluviais, produção local de alimentos e diversidade étnica e cultural.
A Cidade Biomimética de Abuja não é a primeira, nem a mais ambiciosa comunidade concebida para servir de vitrine das possibilidades do urbanismo sustentável. Uma dezena de iniciativas no gênero pipocaram em várias latitudes nos últimos oito anos:
- Dongtan – Este projeto pioneiro na ilha chinesa de Chongming, nos banhados próximos a Xangai, foi iniciado em 2005 com a ambição de chegar, um dia, a meio milhão de habitantes.
- Masdar – O mais badalado de todos é um oásis artificial que começou a ser construído em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes em 2006. Ele deverá consumir mais de US$ 22 bilhões até ficar pronto, em 2025, e terá 50 mil habitantes. Vendido como o primeiro projeto global a ter pegada de carbono zero, ele foi detalhado aqui na Página 22 pelo professor Ignacy Sachs no artigo Paraísos artificiais. Os dois vídeos que compõem o documentário ao lado (num inglês um tanto jocoso), ajudam a circular virtualmente pela nova cidade.
- Songdo – Distrito de negócios próximo a Seoul, capital da Coreia do Sul, com um custo estimado de US$ 40 bilhões, com previsão de ter 65 mil habitantes em 2015.
- Zira – Lançado em 2009 numa ilha em frente à capital do Azerbaijão, Baku, tem um design digno de Flash Gordon. Os edifícios serão aquecidos e resfriados por bombas de calor instaladas sob o Mar Cáspio e a eletricidade virá de uma fazenda eólica off-shore.
Todas são um misto de sonho de consumo com virtuosismo arquitetural. Entretanto, como aponta a The Economist na sua última edição, este é um sonho difícil de sair da prancheta, sobretudo por problemas financeiros, aguçados pela crise global e o desinteresse de investidores.
Em quase uma década, o pioneiro Dongtan não foi para a frente, afundando na burocracia local. O projeto da ilha de Zira também não saiu do papel. O distrito coreano Songdo continua sendo construído, mas poucas empresas se animaram a mudar para lá.
Masdar parece ser a exceção que se mantém graças aos bolsos sem fundo dos xeiques que financiam o empreendimento. O projeto continua firme e já completou as suas duas primeiras fases, mas teve que abrir mão de algumas ambições pouco realistas, como os veículos magnéticos com pilotos automáticos ou a dessalinização de águas subterrâneas com energia solar. Também enfrenta problemas para atrair ocupantes, já que a crise reduziu o valor dos imóveis na vizinha Abu Dhabi. Mesmo assim, o projeto avança e manterá elementos essenciais: é completamente independente dos combustíveis fósseis que correm no seu subsolo e, mais importante numa região desértica, foi capaz de cortar drasticamente o consumo de água e reduzir seu desperdício a zero.