O derretimento de geleiras até então eternas da Groenlândia está causando uma revolução política nesse país escassamente povoado, subordinado ao reino da Dinamarca. O aquecimento global já começou a comprometer o estoque pesqueiro, principal fonte de recursos local. Em compensação, o degelo está revelando extensas reservas de urânio, platina e ouro – e a expectativa de lucros fabulosos com a mineração está acordando um movimento separatista há décadas sonolento.
“No passado nós dependemos sobretudo da indústria pesqueira, o que fragilizou nossa economia”, declarou há alguns meses a primeira-ministra Aleqa Hammond. Hoje, metade da economia da ilha está atrelada às exportações de camarão. “Precisamos de uma outra indústria que ajude a estabilizar nossa economia, e esta será a mineração. Realmente não há nenhuma outra alternativa. O interesse dos estrangeiros pela exploração mineral na Groenlândia é enorme e podemos nos aproveitar disto”.
As águas profundas que envolvem a região estão se aquecendo a um ritmo dez vezes mais rápido que o conjunto dos oceanos (aqui você encontrará um texto que detalha essa tendência). Uma das consequências tem sido a queda na produção pesqueira – bacalhau, halibute e outras espécies estão procurando águas mais frias, cada vez mais raras. Em terra, as mudanças também são visíveis. A população de renas está caindo, segundo um estudo que acaba de sair. Agora, os brotos das plantas que crescem na Groenlândia começam a surgir cerca de 16 dias, em média, antes da data em que surgiam em 2002. Entretanto, os filhotes de renas continuam nascendo na mesma época do ano e agora se deparam, segundo a pesquisa, com plantas mais velhas, que passaram do seu pico nutricional. A elevação da temperatura também está mudando a paisagem. Estão surgindo, por exemplo, as primeiras hortas domésticas de que se tem notícia na ilha, algo até então impossível.
Com uma população de apenas 58 mil habitantes, a Groenlândia é uma espécie de nova fronteira de colonização e exploração econômica criada pelo aquecimento global. Em tese, é dos poucos lugares que pode se sair relativamente bem na transição climática. Terá recursos financeiros, uma população maior, quiçá a independência da Dinamarca – mas sua fauna e a riqueza do estoque pesqueiro provavelmente ficarão na memória.[:en]
O derretimento de geleiras até então eternas da Groenlândia está causando uma revolução política nesse país escassamente povoado, subordinado ao reino da Dinamarca. O aquecimento global já começou a comprometer o estoque pesqueiro, principal fonte de recursos local. Em compensação, o degelo está revelando extensas reservas de urânio, platina e ouro – e a expectativa de lucros fabulosos com a mineração está acordando um movimento separatista há décadas sonolento.
“No passado nós dependemos sobretudo da indústria pesqueira, o que fragilizou nossa economia”, declarou há alguns meses a primeira-ministra Aleqa Hammond. Hoje, metade da economia da ilha está atrelada às exportações de camarão. “Precisamos de uma outra indústria que ajude a estabilizar nossa economia, e esta será a mineração. Realmente não há nenhuma outra alternativa. O interesse dos estrangeiros pela exploração mineral na Groenlândia é enorme e podemos nos aproveitar disto”.
As águas profundas que envolvem a região estão se aquecendo a um ritmo dez vezes mais rápido que o conjunto dos oceanos (aqui você encontrará um texto que detalha essa tendência). Uma das consequências tem sido a queda na produção pesqueira – bacalhau, halibute e outras espécies estão procurando águas mais frias, cada vez mais raras. Em terra, as mudanças também são visíveis. A população de renas está caindo, segundo um estudo que acaba de sair. Agora, os brotos das plantas que crescem na Groenlândia começam a surgir cerca de 16 dias, em média, antes da data em que surgiam em 2002. Entretanto, os filhotes de renas continuam nascendo na mesma época do ano e agora se deparam, segundo a pesquisa, com plantas mais velhas, que passaram do seu pico nutricional. A elevação da temperatura também está mudando a paisagem. Estão surgindo, por exemplo, as primeiras hortas domésticas de que se tem notícia na ilha, algo até então impossível.
Com uma população de apenas 58 mil habitantes, a Groenlândia é uma espécie de nova fronteira de colonização e exploração econômica criada pelo aquecimento global. Em tese, é dos poucos lugares que pode se sair relativamente bem na transição climática. Terá recursos financeiros, uma população maior, quiçá a independência da Dinamarca – mas sua fauna e a riqueza do estoque pesqueiro provavelmente ficarão na memória.