Casas de palafitas já foram retratadas em quadros, músicas, poesias e romances. Se essa situação serviu de fonte de inspiração para muitos artistas, por que não percorrer a via contrária e levar arte até os habitantes desses espaços e, com ela, ampliar seus horizontes, seus sonhos?
Esse foi o desejo de Wenner George, um produtor cultural de Macapá (AP). “Recebi uma indenização de uma casa e resolvi investir em um espaço junto às palafitas de Muca, na Zona Sul daquela cidade. A população ali não tinha acesso a produtos artísticos”, explica o criador do projeto Encanto dos Alagados. Em parceria com um coletivo que integrava no ano de 2011, George começou a fazer apresentações teatrais, de circo, contação de histórias, oficinas e muitos outros eventos que, no decorrer do tempo, atraíram a atenção para a situação do local.
Em dezembro de 2013, por exemplo, a encenação do Auto de Natal sobre as passarelas de madeira da área, muitas em más condições, conquistou a promessa de reforma pela prefeitura. No mesmo ano, conseguiu transformar o que era um ponto de leitura em uma biblioteca, graças à parceria com a escola estadual da região. Nos seis anos de trabalho, mais agentes culturais se juntaram à iniciativa e aproveitaram para levar informações essenciais aos moradores, além de apurar seu senso estético e filosófico.
“Somos um ponto de resistência”, define George. Já a poeta Márcia Corrêa prefere ver o Encanto como uma flor-de-lótus dedicada a transformar o entorno em um jardim de “saberes, pulsares e fazeres”.