A Copa do Mundo da África do sul vai deixar um legado climático pesado para todo o mundo: será o evento esportivo com maior quantidade de emissões de carbono da história, de acordo com um estudo formulado pelo governo sul-africano com apoio do governo noruguês.
O total de emissões — em torno de 2,75 milhões de toneladas de carbono equivalente — será cerca de dez vezes a pegada deixada pela Copa da Alemanha de 2006, de acordo com a ministra de Água e Meio Ambiente sul-africana, Buyelwa Sonjica. E a razão para tantas emissões é a mesma que deve preocupar os brasileiros em 2014, a distância entre as cidades-sede.
Johanesburgo, coração financeiro e maior cidade do país, será a sede da primeira partida e da final do mundial, e dista cerca de 1400 quilômetros da Cidade do Cabo, que fica na ponta meridional do continente africano. Ambas devem receber oito dias de eventos ligados aos jogos e, para fazer essa viagem de carro ou de ônibus, os torcedores gastarão cerca de 17 horas (leia matéria do jornal britânico The Guardian).
As emissões decorrentes das viagens entre as cidades (no total, serão 64 jogos divididos entre nove cidades sede) representarão 17,6% do total do evento, enquanto aquelas oriundas do transporte internacional figuram 67,4% — são esperados cerca de 500 mil turistas estrangeiros para o evento. Assim como na África do Sul, o Brasil não conta com uma malha ferroviária eficiente que possibilitaria economizar emissões em uma situação como essa.
Para se ter uma ideia, o país sede de 2010 é um pouco menor que o Estado brasileiro do Pará em área territorial. Os torcedores que em 2014 quiserem assistir jogos em Porto Alegre e Manaus, fazendo uma parada no Rio de Janeiro, por exemplo, terão de praticamente cruzar o país (a distância é de 4620 quilômetros) e deixarão uma pegada de carbono 0,82 toneladas de CO2- cerca de quatro vezes mais do que quem voar entre Cidade do Cabo e Johanesburgo (total de 0,26 toneladas de CO2), de acordo com cálculos do site CarbonFootprint.
Como evitar essa overdose de carbono?
O mesmo estudo divulgou que programas de mitigação dos impactos da primeira Copa do continente africano custarão entre 5,4 milhões e 9 milhões de dólares. O governo local anunciou uma iniciativa com “green gols”, ou objetivos verdes para os jogos, que incluem o uso de detritos do antigo estádio FNB na construção do Soccer City (sede da abertura e a final da Copa) e três das cidades-sede sul-africanas consideram a implementação de ciclovias. Ainda parece muito pouco ante as previsões tão poluentes.
Por aqui, os estádios espalhados pelas cinco regiões deverão adotar selo de sustentabilidade ambiental. O comitê organizador da Copa de 2014 aconselhou “fortemente” a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que atesta a sustentabilidade ambiental de obras, construções e edifícios. Outra ideia brasileira é investir no projeto “Estádios Solares”, que propõe a instalação de painéis solares na cobertura de estádios – inclusive o Maracanã, no Rio, como informa o portal Carbono Brasil.
De acordo com Ricardo Rüther, diretor técnico do Instituto Ideal e responsável pelo projeto, a cobertura com painéis fotovoltaicos no Maracanã gerará energia suficiente para suprir a energia de duas mil residências. E olha que nesse quesito poderíamos sair muito a frente dos alemães, pois “a radiação solar na região mais ensolarada da Alemanha é 40% menor do que na região menos ensolarada do Brasil”, compara Rüther.
Usar a luz do sol poderia ser uma ideia mais desenvolvida na África do Sul. Usá-la em grandes eventos esportivos não é grande novidade: a China também usou tecnologia similar para um dos estádios das Olimpíadas de Pequim (2008); sendo que Atlanta (EUA) e Sydney (Austrália) já contavam com essa fonte energética em suas vilas olímpicas em 1996 e 2000, respectivamente.
COI e FIFA em perspectiva
As duas grandes entidades esportivas tiveram diferentes despertares para o legado ambiental de seus torneios. Desde 1995, o Comitê Olímpico Internacional inclui a sustentabilidade como um dos pilares da Carta Olímpica, documento que rege os princípios do Olimpismo. Quatro anos depois, a entidade passou a exigir que as cidades candidatas apresentassem informações acerca do impacto ambiental dos Jogos e projetos para mitigá-los.
Já a Federação Internacional de Futebol pegou emprestado do comitê organizador da Copa da Alemanha o projeto Green Goal, a partir de 2006, incluindo-o no caderno de encargos –documento que orienta os países-sede na construção de estádios. Mas, ao contrário do COI, a Fifa faz apenas recomendações, e não exigências. Com isso, o comitê organizador da África do Sul-2010 não vem cumprindo à risca o Green Goal.
Toda essa discussão não diz respeito apenas aos impactos diretos, mas à imensa capacidade dos eventos esportivos modernos de influenciar as melhores práticas. A Copa do Mundo, por exemplo, é o evento mais midiático do planeta e na sua última edição foi acompanhado por 560 milhões de espectadores. Para saber mais, leia a nossa reportagem especial sobre a Copa no Brasil.