Governos planejam produzir o dobro de combustíveis fósseis em 2030 do que o limite de aquecimento de 1,5°C permite
Relatório da ONU publicado nesta quarta-feira (8) revela que os governos planejam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com a limitação do aquecimento a 1,5°C, contrariando compromissos assumidos no Acordo de Paris.
As emissões globais de dióxido de carbono — quase 90% das quais são provenientes de combustíveis fósseis — aumentaram para níveis recordes em 2021-2022. O aumento das emissões leva a ondas de calor mortais, secas, incêndios florestais, tempestades e inundações, deixando claro que a mudança climática induzida pelo homem está causando efeitos devastadores para as pessoas, comunidades e a economia, em todo o mundo.
O relatório fornece perfis de 20 grandes países produtores de combustíveis fósseis: Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Alemanha, Índia, Indonésia, Cazaquistão, Kuwait, México, Nigéria, Noruega, Qatar, Federação Russa, Arábia Saudita, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e Estados Unidos da América. Esses perfis mostram que a maioria desses governos continua a fornecer políticas e apoio financeiro significativos para a produção de combustíveis fósseis.
Isso ocorre apesar de 151 governos nacionais terem se comprometido a atingir emissões líquidas zero e das últimas previsões, que sugerem que a demanda global de carvão, petróleo e gás atingirá o pico nesta década, mesmo sem novas políticas.
Quando combinados, os planos governamentais levariam a um aumento na produção global de carvão até 2030 e na produção global de petróleo e gás até pelo menos 2050, criando uma lacuna cada vez maior na produção de combustíveis fósseis ao longo do tempo.
As principais conclusões do relatório são:
- Considerando os riscos e as incertezas da captura e do armazenamento de carbono e da remoção de dióxido de carbono, os países devem ter como meta a eliminação quase total da produção e do uso de carvão até 2040, e uma redução combinada da produção e do uso de petróleo e gás em três quartos até 2050, no mínimo, em relação aos níveis de 2020.
- Embora 17 dos 20 países apresentados tenham se comprometido a atingir emissões líquidas zero – e muitos tenham lançado medidas para reduzir as emissões das atividades de produção de combustíveis fósseis – nenhum deles se comprometeu a reduzir a produção de carvão, petróleo e gás de acordo com a limitação do aquecimento a 1,5°C.
- Os governos com maior capacidade de fazer a transição dos combustíveis fósseis devem buscar reduções mais ambiciosas e ajudar a apoiar os processos de transição em países com recursos limitados.
O Relatório sobre a Lacuna de Produção 2023, intitulado “Redução ou aumento gradual? Os principais produtores de combustíveis fósseis planejam ainda mais extração, apesar das promessas climáticas”, é produzido pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), Climate Analytics, E3G, Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Ele avalia a produção planejada e projetada de carvão, petróleo e gás dos governos em relação aos níveis globais compatíveis com a meta de temperatura do Acordo de Paris.
“Os governos estão literalmente dobrando a produção de combustíveis fósseis, o que significa um problema duplo para as pessoas e o planeta”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.