Mudança climática e esgotamento de recursos do mundo mobilizam novos modelos econômicos sustentáveis com uso eficiente de insumos e produtos. Soluções são debatidas no WCEF2025, o maior evento global sobre economia circular, em São Paulo
Por: Redação de Página22*
O mundo precisa multiplicar políticas, investimentos e inovação na busca de crescimento econômico sustentável, com soluções frente à escassez de recursos naturais e matérias-primas para suprir o consumo global, no cenário de demandas da transição verde, da mudança climática e das questões sociais.
O engajamento da indústria na adoção de novos modelos de produzir e consumir dentro dos limites planetários, em cooperação com governos, mercado financeiro, academia e sociedade, marcou a abertura do Fórum Mundial de Economia Circular 2025 (WCEF2025, na sigla em inglês), do dia 13 de maio, em São Paulo.
“A economia circular é hoje mais importante do que nunca no mundo, representando uma oportunidade para os negócios, as comunidades e o planeta”, afirma Kristo Lehtonen, diretor do Fundo de Inovação da Finlândia (Sitra), organização que realiza o WCEF junto à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Senai-SP, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Senai Nacional. O WCEF ocorreu até dia 16/5, com 120 sessões no total.
Pela primeira vez, o maior evento do mundo sobre economia circular ocorre na América Latina, com ênfase no potencial das soluções tropicais no desenvolvimento da economia circular e regenerativa, em que o papel do setor produtivo é chave. Lidar com ineficiências e desgaste, reduzir desperdícios, manter produtos e materiais em uso por mais tempo possível e projetar soluções que respeitem as capacidades do planeta, segundo Lehtonen, faz parte do desafio global da circularidade. “Em resumo, devemos fazer mais com menos”, enfatiza o diretor.
Ele completa: “No mundo atual de incertezas, a circularidade – que começou como iniciativas de sustentabilidade para as empresas – agora é uma questão estratégica de competitividade e autonomia nacional”.
Em mensagem no evento, Geraldo Alckmin, presidente do Brasil em exercício e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, destaca que a política do governo federal Nova Indústria Brasil, lançada em janeiro, “reconhece o poder da economia circular como instrumento para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar social, ao otimizar o uso de recursos, reduzir desperdícios e criar novos modelos negócio”.
Ao sediar o WCEF, o País fortalece o potencial de protagonismo na economia circular. O maior desafio é o engajamento do sistema financeiro na modelagem de negócios circulares, de modo que o setor privado consiga superar o cenário complexo de custos e tecnologias e acelerar a transição para economia circular, na análise de Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e vice-presidente da Fiesp. A organização participou da criação das normas internacionais da família ISO 59000, lançada no ano passado.
“Isso é essencial para acelerar a transição rumo a um modelo produtivo mais sustentável, resiliente e justo”, observa Cervone.
Necessidade estratégica
O Global Resources Outlook aponta que o uso de materiais crescerá 60% até 2060, no mundo, com riscos de esgotamento de recursos naturais, conforme adverte Marcelo Thomé, vice-presidente da CNI e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero). “A transição para modelos circulares não é só uma alternativa, mas uma necessidade estratégica, com ganhos de valor, empregos e inovação. É preciso sair da retórica para a prática”, avalia.
De acordo com a Circularity Gap Reporting Initiative, a economia circular representa em torno de 7% do PIB Global. Para sua expansão, “é preciso vencer barreiras não só econômicas, como também da falta de profissionais qualificados”, ressalta Thomé, ao defender maior aproximação entre setor financeiro, governo e cooperação internacional. O Brasil, que além do WCEF também sediará a COP 30 do clima em Belém, “dá passos importantes para o protagonismo da circularidade global”.
O Plano Nacional de Economia Circular, recém-aprovado, apresenta 18 objetivos e 71 ações para implementar a circularidade na economia brasileira nos próximos 10 anos, com incentivos à eficiência no uso de recursos naturais, geração de empregos verdes, redução de impactos ambientais e menor pegada de carbono.
Segundo Pedro Guerra, chefe de gabinete da vice-Presidência da República, a economia circular é transversal a diferentes políticas e planos estratégicos federais ligados à sustentabilidade e competitividade.
“Não é por falta de base científica que ainda não desenvolvemos a contento uma economia circular. O elemento central para o seu florescimento são as nossas decisões políticas”.
Para Luiz Gabriel de Azevedo, diretor executivo de ESG no IDB Invest, um dos desafios principais para escalar um sistema de economia circular é a característica do modelo de negócio. “Em relação aos formatos lineares tradicionais, em que você pode priorizar a produção máxima em curto prazo, os negócios circulares requerem mudanças sistêmicas, colaboração e investimento a longo prazo”, diz.
São necessárias políticas e regulações claras para evitar incertezas que afetam o ambiente de investimento em negócios circulares. Além da questão regulatória, “a economia circular exige parcerias ousadas e conhecimento compartilhado para impulsionar e ampliar soluções impactantes”, diz Ambroise Fayolle, vice-presidente do European Investment Bank. Segundo ele, relatório dos bancos multilaterais de investimento informa o repasse de U$ 1,4 bilhão para países de diversas faixas de renda em 2024. “É um processo lento, mas temos observado uma expansão”, ressalva Fayolle.
Tarja Halonen, ex-presidenta da Finlândia que impulsionou o tema naquele país há 10 anos afirma: “Sabemos do que precisamos e agora o momento é de ações, para as quais são necessárias boas ideias”. Ela conta que na Europa 14% das empresas investem em soluções circulares e reforça que a cooperação é fundamental para maior crescimento em países, como o Brasil. “A economia circular não tem apenas o aspecto do financiamento ambiental, mas envolve questões sociais, porque reduz pressões, promovendo a paz e a resiliência de longo prazo”.
*Por meio de parceria com a Fiesp, a Página22 cobriu o WCEF2025