Pesquisadores australianos estão levando o laboratório para debaixo d’água para estudar o que alguns chamam de “o gêmeo do mal” das mudanças climáticas: a acidificação oceânica. Trata-se da dissolução de CO2 nas águas dos oceanos e a consequente redução de seu Ph. Embora se saiba muito pouco sobre os efeitos da acidificação, os cientistas preocupam-se particularmente com seus impactos sobre os recifes de corais.
Os oceanos absorvem de 30% a 40% do CO2 presente na atmosfera e a concentração desse elemento só aumenta. Sem obstáculos às emissões oriundas de atividades humanas, caminhamos para atingir 400 partes por milhão (ppm).
Até recentemente, as pesquisas sobre acidificação eram feitas com corais em pequenos tanques na superfície. Nessas circunstâncias, os corais eram expostos a águas mais ácidas, mas também a muito mais luz do que em seu ambiente natural. No experimento submarino, os pesquisadores usam cúpulas transparentes para isolar partes do coral e submetê-las a condições duas vezes mais ácidas do que o normal. As cúpulas são parte de um sofisticado sistema computadorizado para monitorar os efeitos da acidificação. Outro experimento na Noruega busca conhecer os efeitos sobre a ecologia marinha em geral. Um dos grandes empecilhos à pesquisa sobre acidificação, segundo Malcolm McCulloch, da Universidade de Western Australia, é a falta de registros de longo prazo sobre o Ph das águas oceânicas para efeitos de comparação.
Além da acidificação, o aumento do CO2 na atmosfera causa a elevação das temperaturas das águas – o que, no caso dos corais, leva ao branqueamento –, assim como do nível do mar. Isso sem falar em impactos locais como a descarga de fertilizantes nos oceanos. Diante de tudo isso, a pergunta que move os cientistas é se os corais serão capazes de se adaptar ou se assistiremos à morte em massa desses organismos tão importantes para o restante da vida marinha.
A Austrália, em particular, tem interesse em preservar esses delicados ecossistemas marinhos. A Grande Barreira de Corais, na costa noroeste do país, é o maior sistema de recife de corais do mundo, abriga uma gigantesca diversidade biológica e física, e gera cerca de 5 bilhões de dólares anualmente em receitas do turismo.
O mais interessante é que os corais são também um ótimo registro das mudanças ambientais de longo termo, como lembra McCulloch. Eles guardam em seus esqueletos a prova do chamado “efeito Suess”, ou a mudança nas concentrações de diferentes isótopos de carbono na atmosfera devido à presença de grandes quantidades de CO2 oriundos da queima de combustíveis fósseis. Esse efeito mostra que, ao contrário do que dizem os “céticos”, o aumento da concentração de CO2 na atmosfera é, sim, resultado das atividades humanas.