Depois de intervalo de quase um ano e da troca de comando, o governo australiano está de volta à carga. A primeira ministra Julia Gillard anunciou ontem o novo plano do governo para as mudanças climáticas. Dessa vez, o governo vai optar por duas etapas: primeiro a instituição de um preço fixo para o carbono e, depois de três a cinco anos, a transição para um esquema de negociação de permissões para emitir gases de efeito estufa. No geral, é mais do mesmo, apesar de o plano anterior – a criação de um esquema de cap-and-trade – ter sido rejeitado pelo Senado duas vezes.
O governo quer começar a colocar o plano em prática em julho de 2012, mas isso vai depender da sua capacidade de negociar um acordo no Parlamento e aprovar a legislação. Gillard, eleita em agosto passado depois de um “golpe branco” sobre o então primeiro-ministro Kevin Rudd, não detém maioria no Congresso. Conta, entretanto, com o apoio do Partido Verde e de alguns parlamentares independentes.
“Um preço sobre o carbono é um preço sobre a poluição”, disse Gillard em comunicado. “A melhor maneira de fazer com que as empresas parem de poluir e passem a investir em energia limpa é cobrar quando elas poluem”.
Enquanto uma parte da comunidade empresarial australiana recebeu bem o novo plano do governo – destacando, entretanto, a necessidade de clareza nas regras para que haja segurança nos investimentos –, a Câmara Australiana de Comércio e Indústria (ACCI) retomou a ladainha contra o esquema. “A ACCI não acredita que seja do interesse nacional da Austrália comprometer nossa competitividade econômica e impor novos custos de energia sobre as residências e pequenas empresas antes que haja um acordo global com compromissos das outras nações”.
Na mesma linha, o partido de oposição, o Liberal, diz que preço sobre o carbono nada mais é do que um imposto sobre a energia que será pago pelos cidadãos. Tony Abbott, líder dos Liberais, prometeu lutar contra o plano “cada segundo de cada minuto de cada dia de cada semana de cada mês”. Gillard disse que está preparada para a batalha e não vai recuar: “Estou determinada a dar um preço ao carbono”.
O plano divulgado pelo governo é esquemático e os detalhes serão discutidos pelo Comitê Multipartidário sobre Mudanças Climáticas, formado por Gillard após sua eleição. O The Climate Institute, um think tank que defende a ação para reduzir as emissões, disse que o projeto traz progressos, mas ainda há muito trabalho a fazer.
Com certeza haverá batalha política sobre o assunto. Resta saber como vai ser posicionar a opinião pública. A despeito dos eventos climáticos extremos que arrasaram partes da Austrália nesse verão – após mais de uma década de intensa seca –, muitos ainda não parecem convencidos de que as mudanças climáticas estão em curso e que decorrem em parte das atividades humanas. E embora a Austrália seja um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, há sempre quem recorra ao argumento de que suas emissões totais (1,5% to total) são pequenas.
Gosto do contra-argumento do cientista canandense David Suzuki, em entrevista a uma radio australiana dias atrás: se são tão pequenas, mais fácil enfrentar o problema.