Por Amália Safatle
O que a maior operadora de viagens da América Latina tem a dizer sobre sustentabilidade? Como o turismo, de forma geral, poderia ser usado como instrumento de conservação ambiental e cultural?
Nesta entrevista, o fundador da CVC, Guilherme Paulus, que trabalha com o setor há 38 anos, nega que a atividade traga impactos negativos a uma região, defende que o “progresso tem que vir forte”, e acredita que cabe aos governos a tarefa de proteger os lugares.
Paulus aponta as razões pelas quais o turismo associado à natureza não decolou: falta conforto ao turista. “O pobre gosta de luxo e riqueza. Ninguém gosta de coisa ruim. Ele quer curtir a natureza, mas não com borrachudo”, diz. Assim, a seu ver, visitar um zoológico é uma alternativa a conhecer as regiões naturais do Brasil.
Empresa pioneira na disseminação do turismo para a classe média, a CVC, segundo Paulus, não vê riscos na falta de infraestrutura que ameaça o setor no Brasil, a começar da precariedade aeroportuária. Ele acredita que o aumento da demanda, turbinado pela crescente emergência social, será tranquilamente atendido.
O empresário evitou falar sobre os prejuízos que a concentração de mercado pode causar ao setor como um todo. A CVC, segundo ele, tem em torno de 60% do mercado. Mas “os ‘maldosos’ falam em 80%”. Com a abertura de capital da empresa, prevista para o segundo semestre deste ano ou para o ano que vem, as informações sobre a companhia deverão ficar mais precisas.
(Aqui algumas informações institucionais fornecidas pela assessoria da CVC)
O Brasil, apesar do imenso território, belezas naturais e riqueza histórica, ainda explora muito pouco o turismo, em comparação com outros países. Há cidades, como Orlando, que recebem mais turistas que o País inteiro. Em sua avaliação, quais são as razões desse descompasso?
Todos nós sabemos da importância das belezas naturais do País, o sol, o mar, sem contar a diversidade que você vai encontrar na Amazônia e na região Centro-Oeste. Isso tem de ser aproveitado, mas também muito melhorado. Temos uma questão que é infraestrutura, não só de aeroportos, mas os pontos de atração turística precisam ser bem trabalhados. Como o Brasil ganhou (a oportunidade de sediar) os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo, tornou-se a grande vitrine para o mundo. Temos que aproveitar essa oportunidade única. Mas a gente acha que é fácil. Orlando é um destino único, voltada totalmente para o turismo.
Aqui não temos nenhuma cidade totalmente voltada para o turismo. Temos Gramado, que faz o Natal Luz e leva 2,5 milhões de turistas entre o final de outubro e início de janeiro, é um evento fortíssimo. São 90 dias de evento, com desfile de carros alegóricos, em que a cidade fica toda enfeitada e voltada para o clima natalino. Eles criaram lá a semana do colono, em abril. Este ano teve o Chocofest, na época da Páscoa, teve (cobertura da) Rede Globo na sexta-feira, no sábado e no domingo, com o Fantástico. São Paulo é a décima cidade do mundo em recebimento de eventos. No ano passado, em 2010, nós tivemos 90 mil eventos na cidade. Isso, dividido pelos 365 dias do ano, dá um evento a cada 6 minutos. Então, hoje o Brasil vem se desenvolvendo. É claro que queremos aumentar de 5 milhões para 10 milhões de turistas/ano. Mas temos uma dificuldade muito grande, que é o idioma. Somos o único país da América Latina que fala o português e, na Europa, Portugal, com 10 milhões de pessoas. E tem algumas coisas da África lá que falam nosso idioma.
Mas o Egito, por exemplo, também fala outro idioma e é um país que recebe um monte de turistas.
O inglês e o espanhol no mundo todo é facinho. A grande dificuldade nossa é o idioma. O segundo fator são os voos para o Brasil. São muito poucos, a Alitalia voa uma vez por dia para cá. A Air France, uma ou duas vezes. Tem também a distância. Com mais de 10 horas de viagem, muitas pessoas deixam de voar. Precisamos ter mais acordos, a Embratur tem que trabalhar mais com as empresas charter (voos fretados), tanto europeias como americanas, para aumentar o fluxo de turistas.
Então o senhor citou a infraestrutura, o idioma, os poucos voos para o Brasil e as grandes distâncias como os principais fatores.
Isso. Sempre digo assim: o que temos que fazer para o País melhorar? É melhorar nosso destino turístico para o brasileiro viajar mais internamente. Só assim que o destino se fortalece. Quem mais visita a Disney são os americanos.
O brasileiro acha caro viajar internamente, em comparação com o destino internacional? Muita gente faz a conta e vê que é mais barato viajar para os Estados Unidos do que para a Amazônia, não é?
Humm, não. Não é verdade. Hoje você tem as tarifas promocionais, tem os charter com a CVC com preços espetaculares. Você passa uma semana em Porto Seguro por menos de R$ 600, ou US$ 375.
Isso se ele fizer um pacote com vocês. Mas a passagem aérea no Brasil é muito cara, não?Com as tarifas promocionais que se tem, Azul, Webjet, a própria TAM, a Gol, não. Ainda mais quando se compra de madrugada. Quem quiser viajar barato no Brasil consegue. O pacote mais barato para a Disney está na faixa de US$ 1.500 a semana. Para a Europa, Paris, US$ 1.200.
Em relação às questões de infraestrutura que o senhor levantou, como o setor privado, que trabalha com turismo, pode ajudar a encontrar soluções para melhorar a situação?
A infraestrutura não depende de nós, do setor privado, depende do governo.
Sim, é claro, mas ninguém faz nada sozinho, é preciso ter um trabalho conjunto, eu imagino.
É, nas rodovias nós ganhamos bastante. As rodovias brasileiras melhoraram muito em relação ao que tínhamos oito anos atrás. Isso foi feito com base na privatização. Acredito muito na privatização que vai existir nos aeroportos e infraestrutura geral do País. Claro que isso deve vir com o tempo. O Brasil tem problemas, mas pega como exemplo São Paulo: tivemos um evento no final do ano como a Fórmula 1, que tinha mais de 70 mil pessoas e turistas de vários países do mundo. Tivemos, nesse mesmo dia, o Salão do Automóvel, com 15 mil, e teve jogo do Morumbi ou no Pacaembu, não lembro agora, com 20 mil pessoas no estádio. E São Paulo não parou por causa disso. Os aeroportos funcionaram normalmente, o trânsito funcionou normalmente. Então, para tudo o que é preparado, não tem problema nenhum. Não podemos é deixar para contar com a sorte. “Ah, Deus vai ajudar, Deus é brasileiro e vai correr tudo bem.” Até o estádio do Corinthians está saindo a toque de caixa, hoje (18 de maio) ia sair uma resolução de que vão fazer o estádio, que o estádio vai ficar pronto em tempo recorde.
Até agora nada foi feito…
É que o Corinthians perdeu (o Campeonato Paulista), então precisavam dar uma boa notícia, né? (risos) Agora, o Brasil tem que trabalhar os países vizinhos. Por que Paris é a Cidade Luz? Por que Roma é a Cidade Eterna? Porque isso é trabalhado e um país é pertinho do outro. O que precisamos fazer é trabalhar nossos países vizinhos – o Chile, a Argentina, a Bolívia, o Paraguai, a Venezuela, a Colômbia – para que eles venham conhecer nossas belezas naturais. O colombiano viaja para Miami, para a Europa, por que não para o Brasil? Porque ninguém ofereceu isso a ele. Por isso vamos fazer esse trabalho, em vez de vender só para o europeu, que enfrenta uma distância enorme para vir para cá.
E a política para o turismo no Brasil? Existe uma política de fato? Como o senhor a avalia?
Nós ganhamos um ministério do Turismo há oito anos. Antes, ele era dividido com o Ministério do Esporte. O Caio (Luiz) de Carvalho, que é até professor aí na FGV, foi um dos primeiros ministros , só que ele dividia com Esporte. E Esporte é mais forte que Turismo, então ele não pôde fazer muita coisa. Assim mesmo fez muitas coisas. Hoje, temos um ministério com políticas já determinadas. O ministério cuida das ações internas, e a Embratur, das políticas de divulgação do Brasil no exterior. Está bem definido. Ganhamos essa posição que já tem destaque na economia brasileira: o turismo como somador de divisas, de entrada de dinheiro. Cinco milhões de turistas estrangeiros parecem muito pouco, mas movimentam um bom volume de dólares. Poderia entrar mais ainda, e para isso temos que tentar resolver também o problema do visto de entrada do americano, do mexicano, de japonês no Brasil.
O Ministério do Turismo, até por ser recente, parece ser uma das pastas que têm menos força politicamente dentro do governo, como se fosse um ministério “menor”. O senhor partilha dessa opinião?
Depende de quem está como ministro. O Walfrido (Mares Guia) foi um grande ministro, tivemos o Caio, tivemos a Marta Suplicy como política excepcional, e agora o Pedro Novais, que é um político, é… de menor expressão que a Marta, mas…
…mas envolvido naquele episódio de desvio de dinheiro público. (Novais apresentou nota fiscal de R$2.156, referente a despesas em motel, para justificar o uso de verbas destinadas à atividade parlamentar, enquanto era deputado pelo PMDB-MA, e já indicado para a pasta do Turismo no governo Dilma)
Falaram, mas nunca provam, né? Param na metade do caminho. Eu não vou entrar em detalhes, também porque não sei. Quando se trabalha com turismo, motel faz parte, né? (risos) Como meio de hospedagem. (risos)
Quer dizer que a força do ministério depende do ministro que está lá?
Claro! É muito importante a atuação dele. E o ministro Pedro vem fazendo um trabalho muito bom. É muito esforçado, não conhecia nada, né? O grande problema no Brasil são as pessoas escaladas para resolver boa parte de questões do seu partido político. E acaba pecando, porque quatro anos é muito pouco. Quando vai começar a aprender e entender, é trocado por outro ministro. Mas a política brasileira é assim, nós temos que aprender a conviver com ela. O primeiro ano é de estudos, o segundo ano é de planejamento, para uma atuação forte no terceiro, e o quatro é fim de mandato. Não se dá continuidade.
Isso não prova que falta uma política de longo prazo, que supere esse problema da alternância de ministros e partidos políticos?
O Ministério do Turismo tem o Conselho Nacional do Turismo, do qual sou membro desde a primeira gestão do Lula. Então temos uma política traçada e desenvolvida e um plano desenhado até 2014. Todo ministro que entra tem que seguir essa cartilha do que foi desenhado. Mas, até o ministro se posicionar, se colocar, aprender, demora um ano.
Em determinados lugares, o turismo corre o risco de ser prejudicado pela preponderância de outras atividades econômicas. No Sul da Bahia, tem um caso claro, em que a atividade turística pode perder muito, caso seja aprovada a construção de porto e ferrovia, com o turismo perdendo espaço para a mineração. Isso denota uma falta de diretriz, de coordenação nacional sobre o desenvolvimento e as vocações naturais das diversas regiões do País?
Eu tenho uma opinião muito particular. Acho que o progresso tem que vir forte.
O que é o progresso para o senhor?
O progresso não vai atrapalhar. Hoje você tem os meios de proteção ambientais, que são muito fortes em nosso País, que não vão deixar degenerar nenhum produto turístico. Esses boatos que correm com o Sul da Bahia, com o próprio Belo Monte (sic) na Amazônia… isso vai ser preservado e não podemos deixar atravancar o progresso no País. A própria usina (nuclear) de Angra não atrapalha em nada o turismo em Angra dos Reis.
Então o senhor não vê nenhum conflito? Não, não, não. O progresso desenvolve a cidade.
Não acha que existe risco de deteriorar, de mudar as características do local e indicar para as pessoas que a renda vem de outros setores que não o turístico?
Não, isso não acontece. Nunca deixaram isso acontecer.
Como assim? Quem nunca deixou?
Nenhum órgão ambientalista. Em (Fernando de) Noronha há um cuidado extremo, um número limitado de turistas que visitam a ilha. (mais sobre Noronha em Coluna, desta edição) Os paraísos ecológicos no Brasil são muito bem cuidados. Abrolhos é um grande exemplo. O Sul da Bahia é fantástico, nunca aconteceu nada lá e nunca vai acontecer.
Mesmo que vá prá lá uma ferrovia, um porto?
Não vai atingir aquela região diretamente. Não vai passar na beira-mar a ferrovia, né? E tirar licença ambiental é a coisa mais difícil no Brasil.
Quando o governo quer que uma obra saia, em geral ela sai.
Sai. Mas não degrada em nada. Desculpe, eu trabalho com turismo há 38 anos. Qual cidade que teve esse tipo de problema?
No Pantanal tem até projetos para fazer hidrelétrica, o que alteraria a vazão de águas e prejudicaria bastante a região, sob vários aspectos. (há 62 usinas previstas para os próximos nove anos na região)
Mas veja que isso não foi feito.
…Ainda. Que vantagens econômicas, sociais e ambientais o turismo pode trazer em comparação a outras atividades econômicas? Como o turismo pode ser interessante, econômica, social e ambientalmente?
Tudo o que explora o turismo e não explora o turista é bastante viável. Quando se explora o turista, perde-se o potencial de gerar riquezas para a região. Porque o turismo gera um retorno muito rápido. Quando se constrói um hotel, além gerar empregos na construção civil, você gira toda uma cadeia, material de construção, carpete, piso, depois tem o serviço de mão de obra, camareira, gerente, ônibus, tudo isso gera dinheiro na cidade.
Isso são as vantagens econômicas. E as ambientais e sociais?
Olha, isso aí depende… a ambiental, como falei, já é muito bem cuidada no País. Se você tirar uma árvore centenária de um local, e repuser em dobro ou triplo, dependendo da lei que tenha a cidade, você continua preservando e aumentando mais ainda, entendeu? Hoje é muito negociável, não se faz como antigamente, que derrubava a árvore e pronto.
O senhor diz que não gera prejuízo ambiental. Mas o turismo gera benefícios de conservação, que vão além da compensação?Claro! Gera empregos, né.
Isso é um benefício econômico. Digo um benefício de conservação ambiental mesmo. O turismo traz isso?Traz! Quando você tira daqui e leva pra lá, está melhorando a outra área. É uma troca.
Considerando que entre os destinos de maior visitação estão – me corrija se eu estiver errada – a Amazônia, as praias do Nordeste, o Pantanal (segundo a Wikipedia), podemos dizer que a natureza é o maior apelo para o turismo no Brasil? Se sim, como o turismo pode contribuir para conservar essa natureza?
A natureza é um apelo, desde que você dê conforto ao turista. Por que o turismo ecológico não foi pra frente no Brasil? Por que não decolou? Por causa da infraestrutura do turismo ecológico. Foi muito malfeito no começo. Você vai num pântano ver jacaré. Acha que é tudo bonitinho, perfumado, como vê na Rede Globo? Ou como vê naquela novela Pantanal? Não. O voo do tuiuiú não é lindo? Você vê na televisão, é lindo. Se você for ver pessoalmente lá, é bonito, um espetáculo, mas vai ter que pisar no barro, no chão.
E o turista não quer isso também? Viver essa experiência? Isso não faz parte? (mais em reportagem desta edição)
Nada… o Joãozinho Trinta foi muito feliz quando disse que quem gosta de pobreza é rico. O pobre gosta de luxo e riqueza. Ninguém gosta de coisa ruim. Ele quer curtir a natureza, mas com conforto, não com borrachudo.
Certo… e como faz para tirar o borrachudo do lugar? Como faz para o turista ir em determinado lugar e não viver aquela realidade?
Você pode pôr uma rede para que as muriçocas não te ataquem. Você pode fazer uma visitação em um zoo, onde tem os jacarés, e é bonitinho, você pode fotografar o jacaré etc. etc., sem agredir a natureza. Tem um zoo em Gramado (RS) que é maravilha, é um espelho fantástico daquilo lá. Tá no meio do mato, mas com o maior conforto! (mais sobre conforto e turismo de resultado na coluna “Um jacaré e duas preguiças pra viagem por favor”, na edição 46)
O senhor não acha que há interesse em ver esses animais em seu próprio habitat natural?
No zoo, eles reproduzem direitinho o habitat deles.
Então por que a Amazônia e o Pantanal são tão procurados?
Por quem?
Pelo turista em geral… brasileiros, estrangeiros.
Na CVC, isso não se reflete.
Quais são os destinos mais procurados, então?
Destinos ecológicos?
Não, os destinos mais procurados pelo turista em geral.Porto Seguro, Fortaleza, Natal, Maceió, Porto de Galinhas, Rio de Janeiro, Gramado, Belo Horizonte e Cidades Históricas…
Esses primeiros destinos que o senhor citou são basicamente as praias do Nordeste.
É do que eles mais gostam.
E o que atrai o turista para a praia? Antes de tudo, não é a natureza, a paisagem, o mar, todo aquele ambiente?
Não é unicamente a natureza. O passageiro gosta de um hotel pé na areia e ser atendido por um garçom na praia. Isso não é só na CVC, é mundial. O alemão vai para Palma de Mallorca em busca de sol e mar, e não da natureza do mar. Ele quer uma mordomia, um conforto.
Como a CVC está vendo a ascensão da nova classe média no Brasil? Como está trabalhando para atender esse mercado, que oportunidades está visualizando?
Fomos pioneiros em trabalhar com a classe média já na década de 70. Foi quando houve o boom da indústria automobilísitica. Quando se fala hoje em “nova classe média”, a gente tinha descoberto isso há mais de 30 anos. Sempre trabalhamos com o varejo, diretamente com o trabalhador, com os grêmios de empresas, educando o trabalhador para o turismo de um dia, de fim de semana, de feriado prolongado e das próprias férias.
Mas como vocês estão se preparando para daqui pra frente, pois me parece que agora tem uma nova emergência social acontecendo, certo?
Com voos charter, com preços e programas bastante convidativos. O turista quer encontrar uma cama arrumadinha, limpinha, telefone no apartamento, ar condicionado. Tem que ser melhor do que ele tem em casa, sempre.
O. k., mas vocês têm alguma projeção, números de quanto esse mercado vai crescer?
Você tem 30 milhões de novos consumidores das classes C e D que estão entrando nesse mercado. E você vai conquistá-los com a qualidade de seu serviço, sempre.
O senhor tinha citado no começo da entrevista a questão da infraestrutura. Não estamos vendo ainda um aumento forte de investimentos, a começar do setor aeroportuário. Como isso pode afetar seus negócios?
Eu acredito que essa demanda será atendida, sim. Tranquilamente.
Mas, como o senhor disse, não tem o tal “Deus é brasileiro e vai resolver”. Quem está trabalhando para isso acontecer?
A expectativa que a gente tem com a melhora dessas infraestruturas realmente é fazer um trabalho que coloque o governo juntamente conosco para que a estrutura vá melhorando à medida que os problemas vão acontecendo. Veja o Rio de Janeiro. O Rio tinha um grande problema que era a ocupação de seus hotéis. Hoje, a rede hoteleira está com 85% de aproveitamento. Por que isso aconteceu? Porque melhorou um pouco da infraestrutura, reduziu-se a criminalidade, aquilo que apareceu no Morro do Alemão, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), os testes de bafômetro. Quando a pessoa sente que tem mais segurança e melhora de infraestrutura, ela viaja mais.
Minha dúvida é se justamente esse aumento da demanda pode resultar em problemas de gargalo, uma vez que não há planejamento. O exemplo do Rio mostra que a demanda já cresce muito com pequenas melhoras. Imagine com a emergência de milhões de pessoas das classes C e D?
Esses gargalos vão sendo resolvidos à medida que se vão construindo mais hotéis. O Hotel Glória, que o Eike (Batista) comprou, está fazendo uma bela reforma. O Hotel Nacional do Rio foi comprado e será reaberto em breve. Nós mesmos estamos construindo um hotel no Galeão, são 200 apartamentos. Tem uma série de coisas acontecendo no Rio que vão desenvolvendo a cidade, ela vai crescendo de novo.
Quando a gente tem um grande aumento de turistas, cresce muito a pressão ambiental nesses lugares, além da emissão de carbono. Como ordenar esse crescimento de forma mais sustentável, com menor pegada ecológica? Como se traz um pouco de sustentabilidade para o turismo de massa?
É um trabalho que precisa ser desenvolvido pelas autoridades, pelas prefeituras locais, pelo governo dos estados. Nós, empresários, podemos ter essa preocupação, é claro, nós levamos o turista para a cidade, mas cabe à cidade se preparar para isso. Os hotéis hoje são bem mais preparados. Só um minutinho, por favor (consulta informações). Hoje os hotéis já estão usando técnicas como captação de águas pluviais para irrigar jardins e descargas de banheiro; painéis de aquecimento solar que reduzem o consumo de energia elétrica; cobertura verde, que reduz a carga térmica e o uso de ar condicionado; vidros duplos que dão conforto termoacústico e redução no consumo de energia; geração de resíduos nos canteiros (de obra); uso de material local, com redução de CO2 no transporte de insumos; e recomposição da vegetação nativa. Os próprios ônibus que a Marcopolo produz já são totalmente diferenciados, com redução na queima de combustível.
A CVC é a líder absoluta em turismo no Brasil, certo?
Na América Latina também. Estamos entre as dez maiores operadoras do mundo.
No Brasil ela praticamente não tem um concorrente à altura, tem?Tem. O que se aluga de casa de temporada por aí… (risos). É nosso maior concorrente.
Digo especificamente na área de turismo.
Tem sim. Sempre tem alguém que rouba um pouquinho de passageiro da gente.
Qual é a fatia de mercado da CVC?
Gira em torno de 60%. Uns maldosos dizem que é 80%. Vamos ficar no meio? Setenta por cento.
Mas por que “maldosos”? É porque se assume que a concentração de mercado é prejudicial ao desenvolvimento do setor?
Não, não. Porque a CVC tem mais de 10.800 agentes de viagem que trabalham e vivem da produção dela. Somos uma grande fábrica de turismo, e distribuímos produtos para agências de viagem do Brasil inteiro.
O fato de ser uma empresa que domina o mercado é prejudicial para o setor?
Isso eu não posso responder, né? Nós profissionalizamos tanto o turismo que a CVC acabou sendo adquirida pelo Carlyle, que é o maior fundo de private equity do mundo (o fundo americano adquiriu o controle da CVC no começo de 2010).
O Carlyle detém quanto do capital da CVC? 66,4%.
E a CVC pensa em abrir o capital? Sim, temos possibilidade de abrir este ano ou no ano que vem.
Isso está em estudos ou já foi definido? Está em estudos (no dia seguinte, em 19 de maio, o jornal Valor Econômico noticiou que a CVC pretende vender 25% do capital no segundo semestre, e que o Carlyle continuará como controlador, com 50% do capital).