A oferta de cursos é crescente, mas ainda insuficiente para atender a demanda
“Três anos atrás eu contava nos dedos os cursos ligados à sustentabilidade. Hoje, as duas mãos não bastam”, diz Marcus Nakagawa, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps). Ele também é professor universitário nas disciplinas de Responsabilidade Socioambiental e Sustentabilidade na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Gestão no Terceiro Setor e Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa no curso de Administração das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).
Mesmo assim, Nakagawa assume que os cursos que existem são insuficientes diante de uma grande procura por mão de obra especializada na área. “E os títulos dos cursos sempre estão acompanhados de algum complemento, ‘Sustentabilidade & Tal Coisa’, como administração, gestão, comunicação etc.”, diz.
Diferentemente do engenheiro que aprende a construir um prédio, quem vai trabalhar com sustentabilidade precisa aprender pelo menos sobre três áreas: ambiental, econômica e social. É raro o curso de nível superior em que o profissional sai com conhecimento tão amplo. A saída são as pós-graduações, especializações ou cursos encomendados por companhias, os chamados “cursos in company”, que duram algumas horas ou meses e suprem a demanda por formação específica de acordo com o tipo de empresa e as atividades dos funcionários.
A organização Uniethos foi criada em 2004 pelo Instituto Ethos para atender à demanda das empresas por programas educacionais in company voltados para a sustentabilidade. Segundo Margarida Curti Lunetta, coordenadora de projetos, corporações em fase de estruturação de departamentos, comitê de sustentabilidade ou institutos para trabalhar com responsabilidade socioambiental compõem uma parcela significativa do público. “São empresas até grandes, mas que só agora estão começando a tratar do tema e precisam saber onde estão pisando, quais são os riscos e as oportunidades.”
Há também empresas que procuram o Uniethos antes de fazer seu primeiro relatório de sustentabilidade. Afinal, a organização é credenciada para ministrar cursos de elaboração desses relatórios conforme os padrões da Global Reporting Initiative (GRI).
Entre os cursos de graduação, Nakagawa não é o único que explora o tema da sustentabilidade. Na Escola de Administração de Empresas da FGV foi lançada há três anos a disciplina eletiva Formação Integrada para a Sustentabilidade (FIS). Seu objetivo é, além de tratar dos desafios das responsabilidades socioambientais no mercado de trabalho, preparar os estudantes para a vida e para serem líderes com visão estratégica, aptos a lidar com uma realidade complexa, com alta demanda por inovação.
No curso, os assuntos são abordados de forma transdisciplinar, para que tudo faça sentido dentro de um sistema econômico, cultural e social e, principalmente, para si mesmo.
Já entre as pós-graduações, o Instituto Ipê oferece um mestrado profissional em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento. O tema atrai dois tipos de público, em razão do local onde o curso é promovido. Em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, os alunos são, em geral, recém-formados no Ensino Superior em busca de aprendizado teórico mais próximo da prática ou quem deseja mudar de área de atuação profissional. Cristiana Saddy Martins, coordenadora do curso, explica que esse último perfil é composto por pessoas acima dos 40 anos e oriundas de carreiras muito especializadas, como engenheiros ou professores.
“Eles enxergam na sustentabilidade algo que lhes permitirá uma atividade mais abrangente. São alunos que chegam com um discurso de cidadania; querem lidar com desafios maiores que os enfrentados em suas carreiras.”
Em Uruçuca, na Bahia, o curso do Ipê atende trabalhadores vinculados ao governo – de Unidades de Conservação, ou de órgãos ambientais, por exemplo – e empresas com departamentos de sustentabilidade, especialmente as florestais. “O curso foi criado para fomentar o desenvolvimento de uma região com poucas oportunidades de educação. São indivíduos que procuram a teoria para se capacitar melhor ao trabalho.”
Margarida e Cristiana afirmam que tanto quem procura quanto quem oferece os cursos estão hoje mais preocupados com a sustentabilidade na prática e em como operacionalizar esses conceitos. “Até dois anos atrás a procura maior era por cursos conceituais. As pessoas perguntavam: ‘O que é sustentabilidade? O que é isso no meu negócio?’ Agora, têm procurado o “como fazer”. Em muitos casos, os profissionais estão desafiados por suas empresas a encontrar instrumentos que solucionem problemas socioambientais”, afirma Margarida, do Uniethos.
(Colaborou Gisele Neuls)
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