O discurso que iniciou, ontem, o segundo mandato de Barack Obama foi marcado pelo tom progressista de defesa aberta dos direitos dos homossexuais e do papel do Estado no combate à pobreza. Mas uma das maiores surpresas foi a forma incisiva e inequívoca como ele abordou a questão climática:
Nós, o povo, ainda acreditamos que as obrigações que temos como americanos são não apenas para com nossa geração, mas com toda a posteridade. Vamos enfrentar a ameaça de mudanças climáticas sabendo que, se não agirmos, trairemos nossos filhos e as gerações futuras.
PUBLICIDADEAlguns ainda negarão as conclusões preocupantes da Ciência, mas ninguém pode evitar o impacto devastador de incêndios terríveis, secas catastróficas e tempestades ainda mais potentes.
O caminho rumo a fontes renováveis de energia será longo e por vezes difícil. Mas os Estados Unidos não podem resistir a esta transição, devemos liderá-la. Não podemos relegar a outras nações a tecnologia que criará novos empregos e indústrias – temos de garantir as suas promessas. Assim manteremos nossa vitalidade econômica e nosso tesouro nacional: nossas florestas e vias fluviais, nossas plantações e nossos cumes nevados. Assim preservaremos o nosso planeta, que Deus nos deu para cuidar.
O vice-presidente Joe Biden deu recado semelhante ao aparecer de surpresa, ontem à noite, no Green Inaugural Ball, festa que reuniu os ambientalistas que celebravam a posse de Obama. Ele pediu que eles mantenham a fé e declarou que tem um sonho: “que finalmente enfrentemos a questão das mudanças climáticas”. Para fechar o discurso, soltou uma de suas tiradas anti-republicanos: “Existe Ciência na Casa Branca”.
Tanta veemência não deixa de impressionar. Obama sempre deixou claro sua preocupação com o aquecimento global e seu primeiro mandato foi marcado pela promoção das renováveis, dos empregos verdes e da conservação de energia. Mas sua boa vontade nem sempre prevaleceu, diante da pressão republicana pela manutenção do status quo energético. Os Estados Unidos continuam entre os maiores emissores de gases estufa, atrás apenas da China, e o presidente não conseguiu que o Congresso aprovasse legislação estabelecendo limites para as emissões de gás carbônico. Além disso, o controvertido óleoduto Keystone XL, que trará petróleo do Canadá até o Texas, voltou à baila. Obama vetou a obra no ano passado, com o argumento de que ela destruiria ecossistemas sensíveis de Nebraska, mas o governador daquele estado, o republicano Dave Heineman, aprovou dias atrás um trajeto alternativo para a obra, que será submetido, mais uma vez, ao crivo de Obama.
Vários ambientalistas americanos e dirigentes estrangeiros vieram a público elogiar a aparente disposição do presidente de enfrentar a questão climática de frente. “Ele finalmente teve coragem de encampar o termo ‘mudanças climáticas'”, notou Andrew Hoffman, diretor do Erb Institute for Global Sustainable Enterprise, da University of Michigan. “Temos trabalho pela frente envolvendo as mudanças climáticas e o presidente Obama foi muito direto sobre a necessidade de enfrentá-lo”, declarou a primeira-ministra australiana, Julia Gillard. No entanto, as redes sociais foram invadidas por comentários céticos de gente que paga para ver se o presidente vai realmente bancar tudo o que prometeu. O destino do óleoduto Keystone será um bom barômetro da gestão ambiental de Obama. Se o projeto for aprovado, ficará claro que o presidente não tem como enfrentar o lobby do petróleo e a pressão republicana. Por enquanto, fiquemos na torcida.
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O discurso que iniciou, ontem, o segundo mandato de Barack Obama foi marcado pelo tom progressista de defesa aberta dos direitos dos homossexuais e do papel do Estado no combate à pobreza. Mas uma das maiores surpresas foi a forma incisiva e inequívoca como ele abordou a questão climática:
Nós, o povo, ainda acreditamos que as obrigações que temos como americanos são não apenas para com nossa geração, mas com toda a posteridade. Vamos enfrentar a ameaça de mudanças climáticas sabendo que, se não agirmos, trairemos nossos filhos e as gerações futuras.
Alguns ainda negarão as conclusões preocupantes da Ciência, mas ninguém pode evitar o impacto devastador de incêndios terríveis, secas catastróficas e tempestades ainda mais potentes.
O caminho rumo a fontes renováveis de energia será longo e por vezes difícil. Mas os Estados Unidos não podem resistir a esta transição, devemos liderá-la. Não podemos relegar a outras nações a tecnologia que criará novos empregos e indústrias – temos de garantir as suas promessas. Assim manteremos nossa vitalidade econômica e nosso tesouro nacional: nossas florestas e vias fluviais, nossas plantações e nossos cumes nevados. Assim preservaremos o nosso planeta, que Deus nos deu para cuidar.
O vice-presidente Joe Biden deu recado semelhante ao aparecer de surpresa, ontem à noite, no Green Inaugural Ball, festa que reuniu os ambientalistas que celebravam a posse de Obama. Ele pediu que eles mantenham a fé e declarou que tem um sonho: “que finalmente enfrentemos a questão das mudanças climáticas”. Para fechar o discurso, soltou uma de suas tiradas anti-republicanos: “Existe Ciência na Casa Branca”.
Tanta veemência não deixa de impressionar. Obama sempre deixou claro sua preocupação com o aquecimento global e seu primeiro mandato foi marcado pela promoção das renováveis, dos empregos verdes e da conservação de energia. Mas sua boa vontade nem sempre prevaleceu, diante da pressão republicana pela manutenção do status quo energético. Os Estados Unidos continuam entre os maiores emissores de gases estufa, atrás apenas da China, e o presidente não conseguiu que o Congresso aprovasse legislação estabelecendo limites para as emissões de gás carbônico. Além disso, o controvertido óleoduto Keystone XL, que trará petróleo do Canadá até o Texas, voltou à baila. Obama vetou a obra no ano passado, com o argumento de que ela destruiria ecossistemas sensíveis de Nebraska, mas o governador daquele estado, o republicano Dave Heineman, aprovou dias atrás um trajeto alternativo para a obra, que será submetido, mais uma vez, ao crivo de Obama.
Vários ambientalistas americanos e dirigentes estrangeiros vieram a público elogiar a aparente disposição do presidente de enfrentar a questão climática de frente. “Ele finalmente teve coragem de encampar o termo ‘mudanças climáticas'”, notou Andrew Hoffman, diretor do Erb Institute for Global Sustainable Enterprise, da University of Michigan. “Temos trabalho pela frente envolvendo as mudanças climáticas e o presidente Obama foi muito direto sobre a necessidade de enfrentá-lo”, declarou a primeira-ministra australiana, Julia Gillard. No entanto, as redes sociais foram invadidas por comentários céticos de gente que paga para ver se o presidente vai realmente bancar tudo o que prometeu. O destino do óleoduto Keystone será um bom barômetro da gestão ambiental de Obama. Se o projeto for aprovado, ficará claro que o presidente não tem como enfrentar o lobby do petróleo e a pressão republicana. Por enquanto, fiquemos na torcida.