Embora apresentem certa dificuldade de mobilidade, as anciãs, na roda aberta, rodopiam e cantam com uma vitalidade fenomenal. “Samba é a vida”, diz uma delas. É preciso vivenciar a festa, participar das cerimônias e dos rituais sagrados e profanos, celebrar com as irmãs, integrar os cortejos, acompanhar a procissão, comer o caruru e o mungunzá, se arrepiar com o canto sagrado e o batuque do samba de roda no Largo d’Ajuda, dançar miudinho. Enfim, viver os folguedos e folias presentes nesses cinco dias.
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Muito diferente das procissões noturnas com sua marcha fúnebre e o enterro simbólico de Nossa Senhora do começo da festa, o cortejo sai alegre e a orquestra filarmônica toca em ritmo carnavalesco. Não se trata mais de um funeral.
A diáspora e a escravização de pessoas de diferentes povos africanos dissolveram laços familiares e consanguíneos de inúmeras famílias separadas pelo tráfico transatlântico. Buscando uma vida melhor, escravizados e alforriados convertidos ao catolicismo criaram as irmandades, construindo relações de “irmãos de compromisso”. As irmandades negras foram fundamentais ao criar uma rede de assistência a seus associados e agregados, comprando alforrias e cuidando da vida e da morte de seus irmãos.
As pessoas seguiam compungidas, e logo todos cantavam com as irmãs. Como um funeral, nesse dia de rito sagrado, a atitude diante da boa morte era contida, de devoção e contrição. Estamos em um momento inicial absolutamente sagrado da festa. A celebração da morte, o canto, para alguns esperançoso, podia indicar a passagem e o descanso da alma