Cena 1
Se você gosta de pecar – e quem não gosta? -, sugiro manter distância de Amarillo. A milícia Repent Amarillo (Arrependa-se Amarillo) está travando uma cruzada contra porno shops, bares gays, casas de massagem, lojas maçônicas e até templos evangélicos considerados liberais, na esperança de converter a cidade texana à sua igreja. “Como cristãos, não podemos ficar parados vendo 67 mil vizinhos caminhar rumo ao Inferno”, diz seu website. Ou seja, segundo a Repent Amarillo, um terço da população local peca com gosto.
A principal arma do grupo é a pressão psicológica. No reveillon de 2008, chamaram a imprensa e fizeram um piquete na frente de um clube de troca de casais. Na sequência, a prefeitura fechou a casa por cinco meses, devido a pequenas irregularidades. Agora, por falta de clientes dispostos a se expor, ela está à beira da bancarrota.
A maioria dos manifestantes da Repent Amarillo é formada por adolescentes e rapazes em trajes militares e encapuzados. Seu líder, o auto-intitulado pastor David Grisham, é – pasmem – segurança de uma unidade que estoca armas nucleares. Entre as práticas que recomenda a seus seguidores, está a delação dos que considera moralmente corruptos. Primeiro, elaborou um Mapa do Pecado, que indica a localização de negócios de caráter sexual, praticantes de bruxaria, adoração de falsos ídolos e igrejas que aceitam gays. Os membros da organização fazem tocaia nesses endereços para anotar a placa dos carros de seus clientes, informação usada para difamá-los em seus bairros e empregos.
Cena 2 – Uma outra cidade texana, Temple, de 60 mil habitantes, decidiu reabilitar a palmatória como instrumento de disciplina escolar. Explicação para quem não é das antigas: trata-se de uma madeira usada para bater na palma da mão de crianças rebeldes, bastante comum nas escolas brasileiras até metade do século passado. Consta que dói um bocado.
Segundo o jornal The Washington Post, em 2006, um quarto dos 226 mil estudantes norte-americanos que receberam punições corporais viviam no Texas. Mas a palmatória, que sinaliza a formalização da violência contra os alunos, tinha sido banida há anos. Agora, volta com força a Tempe, graças à pressão das famílias. “Sem a palmatória, as crianças não sofrem consequências pelos seus atos”, explicou ao jornal Steve Wright, que preside o conselho das escolas da cidade.
Cena 3
O governador da Virgínia, Bob McDonnell, anunciou, dias atrás, que, doravante, abril será o Mês da História dos Confederados (os estados do Sul que lutaram, e perderam, a Guerra Civil Americana e que defenderam com unhas e dentes o direito de manter escravos). Em consequência, as crianças do estado desenvolverão atividades sobre o tema e participarão de atividades cívicas celebrando seus antepassados. A decisão gerou protestos de defensores dos direitos humanos, que consideram a decisão de McDonnell, que não faz qualquer menção à escravidão, revisionista e nostálgica de um passado que não deveria orgulhar ninguém.
O Texas, por sua vez, estuda banir a figura do líder campesino e sindicalista César Chavez dos livros escolares. Provavelmente o latino mais famoso da história norte-americana, Chavez é conhecido pelo seu papel na defesa dos direitos humanos.
Maravilha!