Quinze anos atrás, este mês, o governo nigeriano enforcava Ken Saro-Wiwa, líder da minoria Ogoni e mártir da causa ambiental e dos direitos humanos. Saro-Wiwa e oito companheiros foram mortos em decorrência de seus protestos contra a ação da Shell que desde o fim dos anos 50 explorava petróleo no vale do rio Níger.
Saro-Wiwa, escritor, autor de telenovelas e produtor de televisão, tornou-se inicialmente conhecido por seu livro “Sozaboy”, um relato pacifista sobre um jovem obrigado a participar da guerra de Biafra. Essa região, que concentra a maior parte do petróleo nigeriano, lutou sem sucesso por sua independência no final dos anos 60 (e ocupou a terras dos Ogoni, em meio a esse processo). A militância política de Saro-Wiwa nasceu, em grande parte, da sua observação do conflito.
Nos anos 90, ele passou a liderar manifestações pacíficas com apoio internacional que chegaram a reunir 300 mil pessoas. Dentre suas reivindicações, mais autonomia para os 500 mil Ogonis, uma fatia justa dos lucros da extração do petróleo nas suas terras e a remediação de danos ambientais. Dentre esses danos, derramamentos de óleo, emissões poluentes e a destruição de mangues para dar espaço a oleodutos.
Saro-Wiwa recebeu o Prêmio Goldman, talvez a maior distinção para ambientalistas, pela sua campanha contra a petroleira (no Brasil, o prêmio foi concedido à presidenciável Marina Silva, ao ambientalista Tarcísio Feitosa da Silva e ao indigenista Carlos Alberto Ricardo).
A sua execução, após uma série de passagens pela cadeia e um julgamento de fachada que foi condenado internacionalmente, levou ao afastamento da Nigéria da Commonwealth (a comunidade que reúne as antigas colônias britânicas) por três anos.
Em meados do ano passado, após quase uma década e meia, a Shell fez um acordo com os descendentes de Ken Saro-Wiwa, numa ação em que eles foram representados por diversas entidades de defesa dos direitos humanos. A empresa aceitou pagar US$ 15,5 milhões para a formação de um fundo que beneficiasse o povo Ogoni.
Segundo o Center for Constitutional Rights, uma das ONGs que acompanhou o processo, “a poluição resultante da produção de petróleo contaminou os mananciais locais e as terras agricultáveis. Além disso, a empresa trabalhou por décadas com o regime militar nigeriano para eliminar qualquer tipo de oposição às suas atividades”. A Shell sempre contestou tais críticas. Segundo declaração publicada em seu website: “embora a empresa não fosse responsável por tais trágicos eventos e de ter tentado persuadir o governo a ser clemente, a família the Ken Saro-Wiva de de outros processou a Shell na Justiça. As alegações feitas são falsas e sem mérito”.
Assista (ao lado) à primeira parte do documentário Delta – O Jogo Sujo do Petróleo, do diretor grego Yorgos Avgeropoulos, lançado em 2006. As legendas estão em inglês.