A Suprema Corte dos Estados Unidos ouviu dias atrás os argumentos a favor e contra um caso de discriminação por gênero contra a gigante do varejo Walmart.
Dez anos depois do início da batalha, as autoras da denúncia esperam que a Suprema Corte permita que até 1,5 milhão de mulheres – total de funcionárias da Walmart desde 1998 – se juntem contra as práticas da empresa que, segundo elas, são discriminatórias.
A Suprema Corte não julga o mérito da questão, mas a possibilidade de que as mulheres formem uma ação de classe – dois tribunais inferiores foram favoráveis, mas a Walmart recorreu. A decisão deve sair em junho.
O caso teve início em 2001 com Betty Dukes, uma funcionária do Walmart na Califórnia por nove anos, que apesar de vários esforços não conseguiu ser promovida dentro da hierarquia da empresa. Em 2003, Dukes e outras funcionárias se juntaram para pedir à justiça que o caso fosse julgado como ação de classe – a moção inicial foi apoiada por declarações de 110 mulheres que trabalharam em 184 lojas diferentes em 30 estados americanos.
As mulheres acusam a Walmart de sistematicamente discriminar as funcionárias – tanto as que recebem por hora como as assalariadas – ao negar-lhes promoções e pagamento equivalente aos homens.
As estatísticas compiladas pelas mulheres mostram que elas ganham de 5% a 15% menos do que homens em posições comparáveis, embora tenham melhor performance e mais anos de casa do que eles. Para funcionárias, a promoção a gerente assistente leva em média 4,38 anos, enquanto para funcionários são 2,86 anos. Para se tornar gerente de loja, uma mulher leva em média 10,12 anos, contra 8,64 anos para um homem.
Os defensores da Walmart dizem que, em uma mesma loja, não há diferença entre os salários de homens e mulheres e que as mulheres são promovidas na mesma proporção em que se oferecem para posições mais avançadas. As promoções acabam nas mãos dos homens, argumentam, porque geralmente envolvem a necessidade de mudança de cidade ou estado, e eles se mostram mais disponíveis do que as mulheres. Ou seja, não se trata de discriminação, mas da cultura da empresa.
O próprio fundador da Walmart, Sam Walton, entretanto, reconheceu que essa cultura pode resultar em problemas. Em sua biografia, Walton – falecido em 1992 – admitiu que a política da empresa deixa as mulheres em desvantagem.
Em relação ao consumidor, a cultura da Walmart significa oferecer os preços mais baixos do mercado e, quantos aos empregados, evitar a sindicalização e oferecer parcos benefícios, especialmente assistência de saúde. Os críticos da rede dizem que o resultado é arrasador para o pequeno comércio no entorno das lojas – e por conseqüência as comunidades – e torna a Walmart a maior beneficiária das políticas de bem-estar do governo: sem benefícios, os empregados dependem mais e mais dos sistemas públicos de saúde, por exemplo.
A jornalista Liza Featherstone, autora do livro “Selling Women Short: The Landmark Battle for Workers’ Rights at Walmart” diz que, no fim, a empresa se beneficia da pobreza feminina, seja de suas funcionárias ou de suas consumidoras. “Parte do problema com o modelo de negócios da Walmart é requer mais pobreza para crescer. A empresa realmente não tem incentivos para melhorar as condições de trabalho. Se abaixa os padrões de vida em todos os lugares onde se estabelece, as pessoas não têm outra escolha a não ser comprar na Walmart”.
A discriminação salarial contra as mulheres não é exclusividade da Walmart, e ocorre na economia americana em geral – e provavelmente em muitos outros países. O caso contra a Walmart não só contesta um modelo de negócio que se espalha pelo mundo e pleiteia que as mulheres possam agir coletivamente em defesa de seus interesses. Sublinha também que, apesar dos avanços das mulheres no passado recente e de toda sua contribuição para a economia e as comunidades, ainda há o que avançar.