Reprovada, a educação básica que predomina no Brasil está longe de ser um agente transformador da realidade. A esperança é que as escolas passem a cumprir o papel de formar cidadãos críticos, de pensamento interconectado e construtores do conhecimento
A possibilidade de uma transformação da sociedade deve integrar a consciência, a cultura e a natureza, assim como a arte, a moral e a ciência, de forma a proporcionar à sociedade valores pessoais, sabedoria coletiva e conhecimento técnico. Essa é a opinião do polêmico pensador e criador da Psicologia Integral, Ken Wilber, autor do livro Uma breve história do universo: de Buda a Freud. Como afirmou o psiquiatra e ensaísta Humberto Mariotti a Página22, graças a adventos como a internet, indivíduos em rede foram capazes de demonstrar que o mundo não é apenas linear, mas sistêmico, interdependente e coparticipativo.
Mas tudo isso é pouco levado em conta quando se fala de educação básica no Brasil, sobretudo a pública – ainda muito pautada pelo pensamento linear, cartesiano, compartimentado, que acaba por estimular o individualismo ao desconsiderar a relação das partes com o todo. Sem abrir mão da linearidade, pois esta também tem sua função e importância, e nem do pensamento sistêmico, a Teoria da Complexidade – área de expertise do professor Mariotti, diretor da São Paulo Business School –, veio a combinar as duas vertentes de maneira integradora.
Tanto a complexidade como a transdisciplinaridade, que se encontram no limiar do que há de mais avançado em termos de educação (mais na reportagem “Travessia”), infelizmente são temas que ainda engatinham no Brasil.
Uma linha um pouco mais conhecida é a da interdisciplinaridade, que prevê a transferência de métodos de uma disciplina para outra. “Essa maneira de pensar e fazer a educação permitiria ampliar e construir novos referenciais e valores, que poderiam ajudar os alunos a recuperar o seu papel de agente de transformação no mundo a partir de sua própria realidade”, diz Arlete Zanetti Soares, educadora do Ensino Fundamental e Médio do município de São Paulo e pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Interdisciplinaridade (Gepi) [1] da PUC-SP.
Grupo de Estudo e Pesquisa em Interdisciplinaridade, ou Gepi, congrega professores e alunos do curso de pós-graduação em Educação da PUC-SP, bem como pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, no intuito de desenvolver pesquisas mais inovadoras sobre a educação brasileira
Mesmo a interdisciplinaridade foi introduzida no ensino básico de maneira tímida em algumas escolas privadas de referência, e ainda nem chegou à rede pública, espaço em que a educação tem a oportunidade de ser democratizada. Assim, a questão que surge é: como avançar nesses campos mais transformadores se a educação no Brasil ainda tropeça nos passos mais elementares?
O cenário que se apresenta em território nacional é desalentador quando comparado a nações que viveram momentos conturbados de forte crise econômica e guerra civil, mas que, em poucas décadas, conseguiram transformar a realidade social com uma forte artilharia de investimentos em educação, caso da Coreia do Sul [2] no início dos anos 1990.
A Coreia do Sul é considerada, até hoje, o país com o melhor ensino básico do planeta. Entre as medidas adotadas, premiou os melhores alunos com bolsas e aulas extras para desenvolverem seus talentos, incentivou os pais a se tornarem assíduos participantes nos estudos dos filhos e investiu na qualificação dos professores
É verdade que o acesso ao Ensino Fundamental no Brasil foi praticamente universalizado, mas o gap na qualidade persiste. Dados do IBGE mostram que 98% das crianças entre 7 e 14 anos frequentavam a escola, em 2009. Também foi considerável o aumento na taxa de matrículas dos jovens entre 15 e 17 anos: de 64% em 1995, para 85% em 2009. Apesar disso, o desempenho escolar dos alunos de 15 anos de idade garantiu ao Brasil o 53º lugar no ranking geral do Programme for International Student Assessment 2009 (Pisa) [3], em um total de 65 países. Pela avaliação, o Brasil ficou 19 pontos atrás do México, 26 do Uruguai e 38 do Chile.
[3] O Pisa é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar, coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com o objetivo a melhorar as políticas e resultados educacionais
NARCOTIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Até pouco tempo atrás, a falta de escolas, o alto índice de evasão das crianças e a carência de verbas eram os principais problemas da educação brasileira, como sustenta o artigo “Os desafios da educação no Brasil”, de Simon Schwartzman, especialista em educação e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
Segundo ele, foram precisos muitos anos para convencer políticos e a opinião pública de que, na verdade, é a má qualidade das escolas e a repetência que representam o grande obstáculo no ensino do País. “A pouca cobertura (financeira) e a altas taxas de abandono no Ensino Médio fazem com que poucos (alunos) cheguem ao Ensino Superior”, escreve ele. “E, embora o País gaste mais de 5% do PIB com educação, o que o coloca no mesmo nível da Espanha, da Itália e do Japão, esse montante está enviesado para o Ensino Superior.”
Em consequência de o professor receber uma formação universitária descompassada das realidades, contextos e situações que serão demandadas nas escolas, o aluno se torna despreparado para enfrentar a complexidade atual da sociedade. “Isso leva a certa narcotização da aprendizagem, impedindo-o de associar informações e ir mais além na reflexão”, diz Cláudio Picollo, vice-líder do Gepi, e coordenador do Projeto Institucional e Interinstitucional Pensar e Fazer Arte.
PARA REVER AS NOTAS
Embora recentes, há no Brasil algumas experiências de reforma educacional. Em 2008, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implantou o Programa de Qualidade na Escola, pelo qual foram criadas metas de desempenho para cada escola estadual até 2030. “Outra inovação importante foi a implantação de um sistema de bônus de desempenho para diretores, professores e funcionários, associado ao cumprimento das metas”, pontua o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Fernando Veloso.
Cientes de que qualidade no ensino é também uma questão de gestão educacional que envolve pais, diretores e professores, algumas escolas da rede pública optaram por se associar a entidades especializadas em educação, como forma de tentar corrigir o fluxo dos alunos e promover a melhoria da administração escolar. O Instituto Ayrton Senna (IAS) foi apontado como referência no apoio ao ensino público fundamental por alguns especialistas, entre eles o próprio Veloso, em seu artigo “Evolução recente e propostas para a melhoria da educação no Brasil” (Publicado no livro Brasil: a nova agenda social, LTC Editora, 2011).
“Ao auxiliar as redes públicas de ensino, estimulamos discussões que pretendem acabar com a visão simplista de que o aluno não aprende porque não tem interesse”, afirma a coordenadora da área de Educação Formal do IAS, Inês Kisil Miskalo. “Se isso acontece, é porque ele sofre de algum problema, que pode ser desde a incapacidade de ler, fome, problemas familiares até a falta de entendimento sobre a utilidade da informação oferecida pelo professor. Por essa razão, incentivamos o professor a ser um direcionador de conhecimento, e não apenas um detentor de informações”, diz Inês.
Outro exemplo de iniciativa que tem dado resultados positivos, influenciando políticas públicas Brasil afora, é o apoio institucional oferecido pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE Brasil [3]) às escolas públicas do Ensino Médio. O destaque de sua atuação, e que contribuiu para repercutir as ações da entidade por todo o País, foi a reforma realizada na Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano, no Recife, a primeira instituição de ensino integral da região, trazendo resultados surpreendentes.
[3] Entidade privada, sem fins lucrativos, que trabalha pela promoção da melhoria da qualidade da educação pública.
De acordo com o presidente da instituição, Marcos Magalhães, a plataforma básica desta metodologia é a gestão educacional, que está atrelada a um modelo pedagógico sustentado por três pilares: formação acadêmica de excelência, o que inclui quatro meses de aula de reforço em Português e Matemática para os novatos, como forma de suprir as deficiências do Ensino Fundamental (em geral, os alunos chegam ao Ensino Médio, segundo Magalhães, com uma lacuna de quatro anos de ‘não aprendizagem’); ensino de valores com base na elaboração de um projeto de vida; e aproximação dos estudantes com profissionais das mais diferentes áreas de atuação, com o intuito de apresentar a realidade e abordar a demanda do mercado de trabalho.
Segundo Magalhães, o protagonismo juvenil é incentivado a partir de projetos de valorização do patrimônio escolar, transmissão de conhecimentos por meio do jornal da escola, entre outros, idealizados pelos próprios estudantes. A metodologia tem dado tão certo que cerca de 50% dos alunos são aprovados nos vestibulares das melhores faculdades públicas e privadas do País, conforme o presidente da entidade. “Esse índice não chega a 10% em outras escolas públicas”, revela.
O sucesso da empreitada fez com que o governo adotasse o sistema integral no Ensino Médio em 153 escolas de Pernambuco. Outros estados também aderiram à ideia, como Ceará, Sergipe, Piauí e Rio de Janeiro. E, em 2012, São Paulo deve implementar a metodologia de modo piloto em 20 escolas do Estado.
ESTRATÉGIAS DO GOVERNO
Apesar do cenário preocupante, o fato de a educação estar no topo das discussões políticas no Brasil sinaliza uma tentativa, ainda que tímida e muito aquém das necessidades do País, de recuperar o tempo perdido.
De acordo com a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, as avaliações do sistema público de ensino permitem realizar um diagnóstico minucioso da educação, a partir do qual é possível criar um plano de ação nos municípios e cobrá-los de acordo com metas e prazos.
Outras medidas estão sendo levadas em consideração pelo governo federal, entre elas a análise de boas práticas de ensino – com possibilidade de replicá-las em outras localidades – e a necessidade de capacitação do professor.
A educação de qualidade, evidentemente, é o fator primordial para que mudanças profundas, em especial no que se refere à desigualdade social, sejam alcançadas. Os prejuízos do descaso que acometeu o setor por tanto tempo já deixaram marcas indeléveis na sociedade. O caminho é longo e o Brasil tem pressa.[:en]Reprovada, a educação básica que predomina no Brasil está longe de ser um agente transformador da realidade. A esperança é que as escolas passem a cumprir o papel de formar cidadãos críticos, de pensamento interconectado e construtores do conhecimento
A possibilidade de uma transformação da sociedade deve integrar a consciência, a cultura e a natureza, assim como a arte, a moral e a ciência, de forma a proporcionar à sociedade valores pessoais, sabedoria coletiva e conhecimento técnico. Essa é a opinião do polêmico pensador e criador da Psicologia Integral, Ken Wilber, autor do livro Uma breve história do universo: de Buda a Freud. Como afirmou o psiquiatra e ensaísta Humberto Mariotti a Página22, graças a adventos como a internet, indivíduos em rede foram capazes de demonstrar que o mundo não é apenas linear, mas sistêmico, interdependente e coparticipativo.
Mas tudo isso é pouco levado em conta quando se fala de educação básica no Brasil, sobretudo a pública – ainda muito pautada pelo pensamento linear, cartesiano, compartimentado, que acaba por estimular o individualismo ao desconsiderar a relação das partes com o todo. Sem abrir mão da linearidade, pois esta também tem sua função e importância, e nem do pensamento sistêmico, a Teoria da Complexidade – área de expertise do professor Mariotti, diretor da São Paulo Business School –, veio a combinar as duas vertentes de maneira integradora.
Tanto a complexidade como a transdisciplinaridade, que se encontram no limiar do que há de mais avançado em termos de educação (mais na reportagem “Travessia”), infelizmente são temas que ainda engatinham no Brasil.
Uma linha um pouco mais conhecida é a da interdisciplinaridade, que prevê a transferência de métodos de uma disciplina para outra. “Essa maneira de pensar e fazer a educação permitiria ampliar e construir novos referenciais e valores, que poderiam ajudar os alunos a recuperar o seu papel de agente de transformação no mundo a partir de sua própria realidade”, diz Arlete Zanetti Soares, educadora do Ensino Fundamental e Médio do município de São Paulo e pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Interdisciplinaridade (Gepi) [1] da PUC-SP.
Grupo de Estudo e Pesquisa em Interdisciplinaridade, ou Gepi, congrega professores e alunos do curso de pós-graduação em Educação da PUC-SP, bem como pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, no intuito de desenvolver pesquisas mais inovadoras sobre a educação brasileira
Mesmo a interdisciplinaridade foi introduzida no ensino básico de maneira tímida em algumas escolas privadas de referência, e ainda nem chegou à rede pública, espaço em que a educação tem a oportunidade de ser democratizada. Assim, a questão que surge é: como avançar nesses campos mais transformadores se a educação no Brasil ainda tropeça nos passos mais elementares?
O cenário que se apresenta em território nacional é desalentador quando comparado a nações que viveram momentos conturbados de forte crise econômica e guerra civil, mas que, em poucas décadas, conseguiram transformar a realidade social com uma forte artilharia de investimentos em educação, caso da Coreia do Sul [2] no início dos anos 1990.
A Coreia do Sul é considerada, até hoje, o país com o melhor ensino básico do planeta. Entre as medidas adotadas, premiou os melhores alunos com bolsas e aulas extras para desenvolverem seus talentos, incentivou os pais a se tornarem assíduos participantes nos estudos dos filhos e investiu na qualificação dos professores
É verdade que o acesso ao Ensino Fundamental no Brasil foi praticamente universalizado, mas o gap na qualidade persiste. Dados do IBGE mostram que 98% das crianças entre 7 e 14 anos frequentavam a escola, em 2009. Também foi considerável o aumento na taxa de matrículas dos jovens entre 15 e 17 anos: de 64% em 1995, para 85% em 2009. Apesar disso, o desempenho escolar dos alunos de 15 anos de idade garantiu ao Brasil o 53º lugar no ranking geral do Programme for International Student Assessment 2009 (Pisa) [3], em um total de 65 países. Pela avaliação, o Brasil ficou 19 pontos atrás do México, 26 do Uruguai e 38 do Chile.
[3] O Pisa é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar, coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com o objetivo a melhorar as políticas e resultados educacionais
NARCOTIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Até pouco tempo atrás, a falta de escolas, o alto índice de evasão das crianças e a carência de verbas eram os principais problemas da educação brasileira, como sustenta o artigo “Os desafios da educação no Brasil”, de Simon Schwartzman, especialista em educação e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
Segundo ele, foram precisos muitos anos para convencer políticos e a opinião pública de que, na verdade, é a má qualidade das escolas e a repetência que representam o grande obstáculo no ensino do País. “A pouca cobertura (financeira) e a altas taxas de abandono no Ensino Médio fazem com que poucos (alunos) cheguem ao Ensino Superior”, escreve ele. “E, embora o País gaste mais de 5% do PIB com educação, o que o coloca no mesmo nível da Espanha, da Itália e do Japão, esse montante está enviesado para o Ensino Superior.”
Em consequência de o professor receber uma formação universitária descompassada das realidades, contextos e situações que serão demandadas nas escolas, o aluno se torna despreparado para enfrentar a complexidade atual da sociedade. “Isso leva a certa narcotização da aprendizagem, impedindo-o de associar informações e ir mais além na reflexão”, diz Cláudio Picollo, vice-líder do Gepi, e coordenador do Projeto Institucional e Interinstitucional Pensar e Fazer Arte.
PARA REVER AS NOTAS
Embora recentes, há no Brasil algumas experiências de reforma educacional. Em 2008, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implantou o Programa de Qualidade na Escola, pelo qual foram criadas metas de desempenho para cada escola estadual até 2030. “Outra inovação importante foi a implantação de um sistema de bônus de desempenho para diretores, professores e funcionários, associado ao cumprimento das metas”, pontua o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Fernando Veloso.
Cientes de que qualidade no ensino é também uma questão de gestão educacional que envolve pais, diretores e professores, algumas escolas da rede pública optaram por se associar a entidades especializadas em educação, como forma de tentar corrigir o fluxo dos alunos e promover a melhoria da administração escolar. O Instituto Ayrton Senna (IAS) foi apontado como referência no apoio ao ensino público fundamental por alguns especialistas, entre eles o próprio Veloso, em seu artigo “Evolução recente e propostas para a melhoria da educação no Brasil” (Publicado no livro Brasil: a nova agenda social, LTC Editora, 2011).
“Ao auxiliar as redes públicas de ensino, estimulamos discussões que pretendem acabar com a visão simplista de que o aluno não aprende porque não tem interesse”, afirma a coordenadora da área de Educação Formal do IAS, Inês Kisil Miskalo. “Se isso acontece, é porque ele sofre de algum problema, que pode ser desde a incapacidade de ler, fome, problemas familiares até a falta de entendimento sobre a utilidade da informação oferecida pelo professor. Por essa razão, incentivamos o professor a ser um direcionador de conhecimento, e não apenas um detentor de informações”, diz Inês.
Outro exemplo de iniciativa que tem dado resultados positivos, influenciando políticas públicas Brasil afora, é o apoio institucional oferecido pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE Brasil [3]) às escolas públicas do Ensino Médio. O destaque de sua atuação, e que contribuiu para repercutir as ações da entidade por todo o País, foi a reforma realizada na Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano, no Recife, a primeira instituição de ensino integral da região, trazendo resultados surpreendentes.
[3] Entidade privada, sem fins lucrativos, que trabalha pela promoção da melhoria da qualidade da educação pública.
De acordo com o presidente da instituição, Marcos Magalhães, a plataforma básica desta metodologia é a gestão educacional, que está atrelada a um modelo pedagógico sustentado por três pilares: formação acadêmica de excelência, o que inclui quatro meses de aula de reforço em Português e Matemática para os novatos, como forma de suprir as deficiências do Ensino Fundamental (em geral, os alunos chegam ao Ensino Médio, segundo Magalhães, com uma lacuna de quatro anos de ‘não aprendizagem’); ensino de valores com base na elaboração de um projeto de vida; e aproximação dos estudantes com profissionais das mais diferentes áreas de atuação, com o intuito de apresentar a realidade e abordar a demanda do mercado de trabalho.
Segundo Magalhães, o protagonismo juvenil é incentivado a partir de projetos de valorização do patrimônio escolar, transmissão de conhecimentos por meio do jornal da escola, entre outros, idealizados pelos próprios estudantes. A metodologia tem dado tão certo que cerca de 50% dos alunos são aprovados nos vestibulares das melhores faculdades públicas e privadas do País, conforme o presidente da entidade. “Esse índice não chega a 10% em outras escolas públicas”, revela.
O sucesso da empreitada fez com que o governo adotasse o sistema integral no Ensino Médio em 153 escolas de Pernambuco. Outros estados também aderiram à ideia, como Ceará, Sergipe, Piauí e Rio de Janeiro. E, em 2012, São Paulo deve implementar a metodologia de modo piloto em 20 escolas do Estado.
ESTRATÉGIAS DO GOVERNO
Apesar do cenário preocupante, o fato de a educação estar no topo das discussões políticas no Brasil sinaliza uma tentativa, ainda que tímida e muito aquém das necessidades do País, de recuperar o tempo perdido.
De acordo com a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, as avaliações do sistema público de ensino permitem realizar um diagnóstico minucioso da educação, a partir do qual é possível criar um plano de ação nos municípios e cobrá-los de acordo com metas e prazos.
Outras medidas estão sendo levadas em consideração pelo governo federal, entre elas a análise de boas práticas de ensino – com possibilidade de replicá-las em outras localidades – e a necessidade de capacitação do professor.
A educação de qualidade, evidentemente, é o fator primordial para que mudanças profundas, em especial no que se refere à desigualdade social, sejam alcançadas. Os prejuízos do descaso que acometeu o setor por tanto tempo já deixaram marcas indeléveis na sociedade. O caminho é longo e o Brasil tem pressa.