Assim como em 1992, o chefe de governo dos EUA não está presente na cúpula sobre o meio ambiente que acontece no Rio. Na época, o presidente era George H. Bush, o pai, e sua ausência talvez não tenha causado tanto estranhamento quanto a de Barack Obama na Rio+20. Eleito em 2008 com uma plataforma que incluía a questão climática, Obama preside sob a pior crise econômica dos últimos tempos e praticamente deixou o tema de lado. Às vésperas de uma eleição em que meio ambiente e emissões de carbono não figuram entre as preocupações do eleitorado, o presidente achou de bom tamanho enviar sua secretaria de estado, Hillary Clinton, para negociar o “futuro que queremos”.
Talvez mais espantosa do que a ausência de Obama seja a indicação – vinda com os últimos números referentes às emissões mundiais de carbono – de que os EUA se tornou líder mundial no corte de emissões. Se a tendência continuar, os americanos provavelmente vão ultrapassar a meta voluntária de redução que estabeleceram para suas emissões em Copenhague.
Enquanto as emissões globais de CO2 cresceram 3,2% em 2011 sobre o ano anterior (atingindo 31.6 gigatoneladas), as emissões dos EUA caíram 1,7% (92 megatoneladas). Desde 2006, segundo a AIE, a redução nas emissões americanas foi de 7,7%, a maior entre todos os países ou regiões. A façanha não decorre de uma política de mitigação das mudanças climáticas ou de uma mudança de comportamento dos americanos. É, digamos, acidental. Deriva da crise econômica, da tendência entre os americanos de usar menos o carro devido aos altos preços do petróleo e, em grande parte, da substituição do carvão – o mais sujo dos combustíveis fosseis – pelo gás no setor de eletricidade.
Enquanto a AIE antevê uma “era de ouro” do gás – cuja queima gera menos CO2 do que o carvão e o petróleo –, ambientalistas se preocupam com o fato de que trata-se de um paliativo que atrasa a inovação e o uso de energias renováveis. Isso sem falar nos potenciais efeitos no meio ambiente da exploração de gás por meio da técnica de “fracking”.
A redução acidental das emissões americanas, porém, não tirou os EUA do grupo dos maiores emissores e não os isenta de participar dos esforços globais para mitigar as mudanças climáticas. O que talvez ela reforce é quanto o mundo mudou nos 20 anos desde a Rio 92. Como lembra Andrew Deutz, diretor da Nature Conservancy, em 92 vivíamos no mundo do G7 e hoje vivemos no mundo do G20.
“O modelo de 1992 era baseado no conceito de um acordo global negociado por governos por meio de um processo que buscava o consenso e que normalmente resultava no mínimo denominador comum como resultado”, escreve Deutz. “Essa abordagem é muito mais difícil em um mundo multipolar (especialmente um em que falta liderança ambiental global dos países mais poderosos). Em vez disso, o modelo de 2012 é essencialmente de-baixo-para-cima, voluntário e movido pelos líderes”.
Se parece certo que os EUA não vão liderar uma política global de mitigação das mudanças climáticas, pelo menos há a esperança que a redução de suas emissões dê força à pressão que vem de baixo, ajudando a tornar o acidente regra.