Campanha lança alerta sobre sucos industrializados que não são o que parecem
O açúcar já foi declarado por profissionais de saúde como um dos vilões modernos da saúde – e suas desvantagens não têm a ver necessariamente com o peso. Os consumidores cada vez mais preocupados em seguir uma alimentação saudável investem em alimentos que parecem benéficos. É o caso dos sucos de fruta industrializados, que vêm ganhando espaço nas gôndolas. Mas será que esses produtos que “vendem” saúde em seus rótulos são realmente o que parecem?
O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) quer mostrar aos consumidores que não é bem assim. Com a campanha “Agite-se”, a organização denuncia a quantidade exagerada de açúcar e mínima de fruta nos sucos industrializados. Em uma pesquisa feita com 31 amostras de néctar de fruta de sete marcas, o Idec apurou que a quantidade de frutas nesses produtos é muito baixa e, em 32% da amostra, está abaixo do exigido pela legislação.
O médico e pesquisador da USP Carlos Monteiro explica em reportagem para a revista do Idec que esta diferença se reflete na qualidade nutricional dos produtos: “A vantagem das frutas é que elas concentram grande quantidade de nutrientes, vitaminas e minerais, e fornecem poucas calorias. Já os alimentos que fazem alusão a elas não são nada nutritivos, além de terem muito açúcar”.
Para despertar a atenção do consumidor de maneira simples, a campanha está circulando o vídeo abaixo pelas redes sociais. Ele retrata a reação de crianças ao descobrirem a ínfima quantidade de fruta nos seus “suquinhos”.
Chamar a atenção para as propriedades nutricionais desses produtos é importante porque seu consumo é comumente associado a hábitos saudáveis. Os pais compram sucos em caixinha para a merenda escolar dos filhos, acreditando ser uma alternativa boa em relação a outras bebidas prontas, como refrigerantes e achocolatados. Entretanto, o excesso de açúcar e a deficiência de fibras da fruta in natura na sua composição os tornam tão prejudiciais à saúde quanto pacotes de biscoito recheado. Uma revisão científica divulgada pelo Idec estabelece, inclusive, a relação entre o consumo de bebidas açucaradas e o ganho de peso em crianças e adolescentes.
Rótulo enigmático
Apenas pelo rótulo, ainda é impossível saber as porcentagens e quantidades exatas de açúcar e fruta dos sucos industrializados. Mesmo quando a quantidade de açúcar está discriminada na tabela nutricional, não há como diferenciar o quanto é frutose ou açúcar adicionado industrialmente. A única pista existente ainda é a lista de ingredientes, que aparece em ordem decrescente – o primeiro ingrediente listado está em maior quantidade e o último, em menor.
Mesmo quando a porcentagem de frutas atende à legislação (confira na imagem no topo), as informações sobre a composição do produto não são claras. A informação de que o suco de uva feito é feito à base de suco de maçã aparece no seu rótulo apenas em letras minúsculas e cores que dificultam a leitura. Além da falta de informação, o uso ostensivo de imagens de frutas nas embalagens leva o consumidor à ideia equivocada de que a bebida é natural.
Segundo a assessoria do órgão, o objetivo da campanha é munir as pessoas de informações, inclusive sobre o que é exigido por lei. Por outro lado, a iniciativa também exige um padrão de averiguação da quantidade de frutas e açúcar nos sucos industrializados, já que cada empresa tem sua própria metodologia de análise, o que dificulta a fiscalização. Como o vídeo mostra, os consumidores parecem também não estarem satisfeitos com a qualidade do que lhes é vendido. Mais honestidade e transparência por parte da indústria, neste caso, fariam bem à saúde de todos.
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