A Nigéria é testemunha de que a abundância de recursos naturais pode ser um flagelo se mal administrada. O 13o maior produtor de petróleo do mundo ocupa a 153a posição no ranking global de desenvolvimento humano, em grande parte devido a cinco décadas de corrupção e degradação ambiental associadas à exploração do petróleo.
A Anistia Internacional acaba de lançar um relatório mostrando que nada mudou no país nos últimos três anos, desde que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicou uma análise devastadora dos impactos ambientais da contaminação gerada pela indústria petrolífera Shell nas terras da minoria Ogoni, que concentra as reservas nigerianas. Segundo a entidade, “tanto a Shell quanto o governo nigeriano falharam na implementação das recomendações do relatório do Pnuma para acabar com o abuso contra o direito das comunidades à alimentação, à água e a uma vida livre de poluição”.
O estudo publicado pelo Pnuma em 2011 incorporou dados de visitas a 200 comunidades ao longo de 122 quilômetros de oleodutos, mais de 5 mil registros médicos e o depoimento de audiências públicas que congregaram mais de 23 mil pessoas. Também foram feitas coletas e análise de amostragens de solo e águas subterrâneas. Uma das conclusões foi que algumas áreas que pareciam intocadas na superfície apresentavam freático altamente contaminado e exigiriam uma intervenção imediata. Os mananciais de pelo menos dez comunidades da minoria Ogoni estavam tão poluídos por hidrocarbonetos que o risco para a saúde pública era muito grande. Segundo o Pnuma, numa das comunidades, cientistas encontraram uma camada de 8 centímetros de óleo refinado flutuando nas águas subterrâneas que abasteciam alguns poços – contaminação que foi associada a um derramamento ocorrido seis anos antes. Ali, foi identificada a presença de benzeno, um hidrocarboneto cancerígeno, em concentração 900 vezes superior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde.
O documento do Pnuma fez a estimativa de que a limpeza das terras dos Ogoni poderia levar de 25 a 30 anos. Mas, segundo a Anistia Internacional, o esforço sequer começou, seja da parte do governo nigeriano, seja da parte da Shell, que parou de operar nas terras Ogoni desde uma rodada de protestos com repercussão internacional, em 1993. Entretanto, seus oleodutos ainda estão presentes na região. Editorial do diário The New York Times informa que a empresa atribui a poluição a ladrões de petróleo. O diário entende que há uma dose de verdade nisso e cita um think tank britânico, Chatham House, que estima que 100 mil barris são roubados diariamente na Nigéria. Ainda segundo o Times, estas perdas representam um prejuízo anual de US$ 3,65 bilhões ao país, mais de três vezes o orçamento inicial de despoluição da terra dos Ogonis. Mas, claro, não há como eximir a aliança estabelecida durante meio século pela Shell e o governo nigeriano dessa responsabilidade.[:en]
A Nigéria é testemunha de que a abundância de recursos naturais pode ser um flagelo se mal administrada. O 13o maior produtor de petróleo do mundo ocupa a 153a posição no ranking global de desenvolvimento humano, em grande parte devido a cinco décadas de corrupção e degradação ambiental associadas à exploração do petróleo.
A Anistia Internacional acaba de lançar um relatório mostrando que nada mudou no país nos últimos três anos, desde que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicou uma análise devastadora dos impactos ambientais da contaminação gerada pela indústria petrolífera Shell nas terras da minoria Ogoni, que concentra as reservas nigerianas. Segundo a entidade, “tanto a Shell quanto o governo nigeriano falharam na implementação das recomendações do relatório do Pnuma para acabar com o abuso contra o direito das comunidades à alimentação, à água e a uma vida livre de poluição”.
O estudo publicado pelo Pnuma em 2011 incorporou dados de visitas a 200 comunidades ao longo de 122 quilômetros de oleodutos, mais de 5 mil registros médicos e o depoimento de audiências públicas que congregaram mais de 23 mil pessoas. Também foram feitas coletas e análise de amostragens de solo e águas subterrâneas. Uma das conclusões foi que algumas áreas que pareciam intocadas na superfície apresentavam freático altamente contaminado e exigiriam uma intervenção imediata. Os mananciais de pelo menos dez comunidades da minoria Ogoni estavam tão poluídos por hidrocarbonetos que o risco para a saúde pública era muito grande. Segundo o Pnuma, numa das comunidades, cientistas encontraram uma camada de 8 centímetros de óleo refinado flutuando nas águas subterrâneas que abasteciam alguns poços – contaminação que foi associada a um derramamento ocorrido seis anos antes. Ali, foi identificada a presença de benzeno, um hidrocarboneto cancerígeno, em concentração 900 vezes superior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde.
O documento do Pnuma fez a estimativa de que a limpeza das terras dos Ogoni poderia levar de 25 a 30 anos. Mas, segundo a Anistia Internacional, o esforço sequer começou, seja da parte do governo nigeriano, seja da parte da Shell, que parou de operar nas terras Ogoni desde uma rodada de protestos com repercussão internacional, em 1993. Entretanto, seus oleodutos ainda estão presentes na região. Editorial do diário The New York Times informa que a empresa atribui a poluição a ladrões de petróleo. O diário entende que há uma dose de verdade nisso e cita um think tank britânico, Chatham House, que estima que 100 mil barris são roubados diariamente na Nigéria. Ainda segundo o Times, estas perdas representam um prejuízo anual de US$ 3,65 bilhões ao país, mais de três vezes o orçamento inicial de despoluição da terra dos Ogonis. Mas, claro, não há como eximir a aliança estabelecida durante meio século pela Shell e o governo nigeriano dessa responsabilidade.