Por Amália Safatle
Um ano depois, saiba como evoluíram as empresas selecionadas no ciclo anterior
Mesmo na bonança, manter a boa saúde de um pequeno negócio, por mais inovador que seja, exige dos empreendedores todo o esforço que possam reunir. O que dirá sob uma crise econômica grave e persistente como a que se abate sobre o Brasil há pelo menos dois anos. Em face da recessão, da redução dos investimentos privados e públicos, do desemprego e da queda no consumo das famílias, a que estratégias estariam recorrendo as 11 micros e pequenas empresas que integraram o Guia de Inovação para a Sustentabilidade em MPE de 2015 para se adaptar às dificuldades do momento?
Cada uma a seu modo encontrou soluções para driblar as dificuldades: o mercado no exterior atraiu os negócios já preparados para encarar o desafio da internacionalização, enquanto outros iniciaram uma aproximação com esse universo. Algumas empresas aprimoraram seus modelos de negócios, outras buscaram novos parceiros ou lançaram novos produtos. A boa notícia é que todas as 11 seguiram firmes em seus propósitos de inovação e sustentabilidade e continuam a mostrar bons resultados.
Apesar da volatilidade cambial sofrida pelo Brasil este ano, pelo menos cinco empresas apostaram no mercado externo. Uma delas foi a Atina, empresa que fabrica e fornece óleos essenciais e extratos vegetais para as indústrias cosmética, farmacêutica e alimentícia (seu diferencial está na produção do óleo de candeia [1] com certificação e garantia de rastreabilidade). O diretor-executivo da empresa, Eduardo Roxo, conta que a recessão profunda pela qual passa o País afetou muito as indústrias de cosméticos, razão pela qual ele direcionou esforços para as exportações, que hoje já respondem por 65% do faturamento da Atina.
[1] Árvore nativa da Mata Atlântica de onde se extrai o alfabisabolol – um composto apreciado pela indústria cosmética por suas propriedades cicatrizantes e anti-irritantes
A Biotechnos, start-up que fabrica equipamentos para produção de biodiesel a partir do óleo usado em cozinhas, resíduo que normalmente é descartado, também mirou o cenário internacional em 2016. O coordenador Vinícius Puhl destaca que o Programa Bioplanet – Energia para o Mundo, uma iniciativa socioambiental de inclusão produtiva e educação ambiental da empresa –, entrou em um novo patamar. “Ampliamos a sua referência no País e no exterior”, afirma. Como resultado, a Biotechnos foi a única organização sul-americana selecionada para expor suas soluções no evento anual da Clean Energy Ministerial [2]. “Também estreitamos os laços com organizações como a WWF e a União Europeia”, diz Puhl.
[2] Fórum global para políticas e programas que promovam tecnologias de energia limpa
No mercado interno, após o lançamento do Guia 2015, a Biotechnos aproximou-se de setores acadêmicos e empresariais brasileiros e transferiu uma de suas unidades de pesquisa para São Paulo, a fim de fortalecer as ações comerciais da empresa no Sudeste.
Outra que driblou bem a recessão econômica foi a Courrieros, serviço de entregas que tem a bicicleta como seu principal meio de transporte. Vários de seus clientes desapareceram do mercado, mas, ainda assim, a empresa conseguiu expandir-se e projetar um faturamento arrojado para este ano: R$ 2 milhões, mais que o dobro de 2015. Outras boas notícias, segundo o diretor André Biselli, foram a premiação internacional Best for the World, pela B Corp [3], e o convite para participar do Better Brands, um evento realizado na Suécia sobre sustentabilidade e construção de marcas.
[3] Organização global que certifica empresas com ótima performance em ação social e ambiental, em prestação de contas e em transparência
Ao longo deste ano, a Morada da Floresta – empresa que trabalha com o fomento da reciclagem de resíduos orgânicos por meio de atividades educativas e com o desenvolvimento e a venda de composteiras domésticas e empresariais – viu o número de concorrentes aumentar substancialmente nos últimos tempos e decidiu se preparar para a internacionalização.
Para isso, ingressou no ICV Global [4] e no Projeto Extensão Industrial Exportadora (Peiex) [5]. “Fomos aprovados para participar também do programa Design Export, que nos ajudará a preparar os materiais de comunicação (branding, site, flyers, displays, embalagens etc.) para a exportação”, informa o sócio-diretor da Morada Cláudio Spínola.
[4] Projeto do GVces criado em 2014 para ajudar pequenos empreendedores a desenvolver estratégia de exportação consistente e acessar mercados internacionais, ou ampliá-los, quando já forem exportadores
[5] Iniciativa da Apex-Brasil que tem por objetivo qualificar empresas para a exportação
A Poli Óleos, fornecedora de ingredientes vegetais brasileiros certificados para a indústria cosmética nacional e internacional, colheu este ano os frutos plantados em 2015, quando reviu suas estratégias para atuação no mercado internacional. “Com participações em feiras, eventos do setor e missões empresariais, realizamos novos contatos para abertura de novos mercados até 2018”, afirma a diretora-executiva Evelyn Steiner, que tem boas perspectivas para este e os próximos anos.
A BrasilOzônio – que desenvolve e comercializa sistemas modulares que utilizam ozônio para o tratamento de água, ar e efluentes, em substituição a produtos químicos convencionais –, apesar de ter fechado poucos negócios este ano, conseguiu o financiamento de dois fundos: Criatec 2 [6] e Schnurrbart Participações. O presidente Samy Menasce disse que esse reforço no caixa da empresa permitiu enveredar por novos caminhos na área comercial, ampliando o leque de opções.
[6] Fundo de investimento em venture capital
A retração do setor de construção civil, um dos maiores geradores de rejeitos no País, impactou diretamente os negócios na RedeResíduo, que no entanto não se deixou abater. Segundo o sócio e diretor de novos negócios Ricardo Olliani, a recessão os estimulou a buscar novos mercados: “Estabelecemos representações em Minas Gerais e Rio de Janeiro e ampliamos a área de gestão do conhecimento, com a participação ativa em congressos, workshops e seminários do setor”.
O grande destaque da CBPAK, produtora de embalagens compostáveis fabricadas a partir da fécula de mandioca, em 2016 ficou por conta de um novo modelo de negócios, o de “locação” de embalagens, situação em que a empresa passa a se responsabilizar pela destinação das embalagens depois de utilizadas. Segundo o fundador e presidente Cláudio Bastos, a CBPAK quer priorizar clientes que apresentem no seu core business “preservação ambiental, mitigação em ações de compensação de gases de efeito estufa e gestão de resíduos sólidos”.
Sem medo da crise, a TerpenOil – que desenvolve e comercializa produtos de limpeza, purificação de ar e neutralização de odor utilizando ativos naturais encontrados nos óleos essenciais das plantas – lançou novo produto este ano: o TerpenOil Natural Laundry, primeiro detergente líquido para roupas do mercado feito essencialmente com matérias-primas naturais e que dispensa o uso de amaciante.
O CEO Marcelo Ebert informa que este ano a empresa também recebeu o Rótulo Ecológico, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para produtos de limpeza de uso industrial e institucional. “Somos a primeira empresa na América Latina a ter essa certificação, que atesta o baixo impacto ambiental e a saúde dos produtos naturais da TerpenOil.”
Empresa que oferece soluções para resíduos de difícil reciclabilidade, como esponjas multiúso, instrumentos de escrita e escovas de dente, a TerraCycle perdeu um grande cliente ao longo do ano, a L’Oréal (Garnier-Fructis), mas encontrou uma solução para não deixar a crise tomar conta do negócio. Firmou nova parceria com o Grupo L’Occitane e participou de um evento internacional, o Sustainable Cosmetics Summit Latin America 2016.