Não é novidade que alguns dos maiores gargalos para viabilizar produtos e serviços da biodiversidade amazônica são a logística e a comercialização. Mas é relativamente novo pensar soluções em rede, que conectem demandas comuns de vários produtores a estratégias de maior escala
Essa é a proposta do Lab Amazônia: Desafio de Logística e Comercialização de Produtos da Sociobiodiversidade da Amazônia, que reuniu em Manaus, em 28 de junho, cerca de 40 representantes de organizações e empresas, como Instituto Socioambiental (ISA), Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Fundação Certi, Natura, Mercado Livre, Fundo Vale, Imaflora, Instituto Chão, Rede Maniva de Agroecologia, Pacto das Águas, além de empreendedores amazônicos e consultores de transporte e logística.
A diversidade de perfis foi pensada para fomentar novas conexões que possibilitassem o desenvolvimento de protótipos de soluções mais coletivas. O Desafio, realizado pela plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA) e pela Climate Ventures, com apoio do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), utilizou uma metodologia adaptada dos Labs de Inovação da Aoka, baseando-se em um processo de ação coletiva para que líderes de diferentes setores compreendam melhor oportunidades e desafios e busquem soluções concretas que possam gerar benefícios para as organizações e o ecossistema no menor tempo possível.
Antes do encontro desse grupo, foram realizadas entrevistas com empreendedores e prestadores de serviços para compreender os principais gargalos e oportunidades, além de curadoria e engajamento de parceiros para construção de soluções para as seguintes questões:
Como viabilizar ferramentas ou instrumentos de comercialização que permitam reduzir os custos de logística e comercialização para pequenos e médios negócios sustentáveis na Amazônia? Como uma rede de colaboração entre empresas de transporte, prestadores de serviço e outros atores estratégicos pode ajudar a reduzir os custos e aumentar a repartição dos benefícios para as comunidades, melhorando o escoamento de produtos locais? Como é possível criar mais valor para os produtos da sociobiodiversidade amazônica por meio de storytelling, parcerias comerciais e outras soluções que valorizem os impactos sociais e ambientais desses produtos?
A ideia de voltar o olhar para soluções nessa direção veio a partir do Programa de Aceleração da PPA, que selecionou, em 2018, quinze negócios de impacto para participarem de formações e mentorias. Logo de saída as dificuldades de logística e comercialização foram apontadas como fator determinante para o sucesso desses arranjos produtivos que envolvem empreendedores e comunidades que tiram seu sustento do uso sustentável de produtos da floresta Amazônica, tais como cacau, café, cupuaçu, açaí, peixes, pimenta, guaraná, borracha, mel, farinhas, entre outros.
Daniel Contrucci, da Climate Ventures, diz que o potencial desse Desafio é muito grande: “São redes de redes, organizações que estão representando diferentes regiões da Amazônia, e o que está saindo aqui é um marco em termos de colaboração em prol de algo que é muito maior do que a própria agenda dessas organizações e iniciativas participantes, e que diz respeito a um futuro mais sustentável para a floresta”.
Prototipando soluções a várias mãos
A participação dos empreendedores que sentem em seu dia a dia as dores dessas dificuldades de logística e comercialização forneceu contribuições importantes para o desenvolvimento de soluções. Alguns deles já estão investindo em centros de distribuição em São Paulo para minimizar custos de envio dos produtos. Outros relataram usar diversos modais, entre balsa, carro e caminhão, para poder fazer chegar os produtos da sociobiodiversidade até outros mercados. O alto custo do frete complica o envio de pequenas quantidades, e pode chegar a 40% do valor de custo.
Em espaço aberto de ideação, os participantes apresentaram ideias para solucionar os desafios, buscando se aglutinar em grupos por afinidade, e iniciaram a prototipagem de projetos cujos temas são variados: mapeamento tributário, criação de um grande centro de distribuição em São Paulo, valorização do mercado local, escalonamento da produção de borracha, ampliação e reaproveitamento de estruturas de frete, criação de uma marca forte que fomente a comercialização dos produtos amazônicos, aglutinação de plataformas que já existem num grande portal da sociobiodiversidade englobando vários territórios.
Marcos Da-Ré, da Fundação Certi, destaca a diversidade dos atores, incluindo tanto a perspectiva de quem sofre com os problemas como a de pessoas que olham tudo isso como uma grande oportunidade de desenvolvimento de soluções: “explorar essa diversidade é talvez o ponto chave de mudança que precisamos para transformar a floresta em uma economia que ao mesmo tempo resgate e mantenha os valores culturais, estéticos e de resistência presentes tanto nas comunidades quanto na própria biodiversidade”.
O Desafio continua com a evolução dos protótipos. Cada grupo de trabalho vai avançar em um plano de ação para promover a implementação dessas soluções, visando sempre a redução de custos e emissões de CO2, maior eficiência, otimização de recursos e aumento de benefícios paras as comunidades produtoras. Os resultados serão divulgados nas páginas da PPA e da Climate Ventures assim que o processo de desenvolvimento avançar.
Mariano Cenamo, coordenador da PPA e responsável por novos negócios do Idesam, avalia que o evento superou as expectativas: “Saímos com oito protótipos, vários deles soluções ambiciosas e estratégias bem definidas. Houve muita gente compartilhando aprendizados e soluções sobre logística, transporte regional, entrepostos de distribuição, várias propostas que estão sendo criadas sob demanda para a região amazônica. Foi interessante ver especialistas em logística conversando com empreendedores que batalham para fazer seus produtos chegarem no mercado, e como um em ‘estalo de dedos’, saírem soluções viáveis para os seus negócios”.