O que ESG, ODS e FSC têm em comum? Nortear o desenvolvimento sustentável em todo o planeta pelos próximos anos, com participação dos investimentos, das iniciativas empresariais e das florestas – que constituem a base da vida terrestre, garantindo produção de alimentos, de água e de energia
Com o início da pandemia pelo novo coronavírus, renasceu a discussão sobre a interferência humana nos ambientes selvagens e suas consequências. E veio a reboque uma crescente preocupação com o papel do mercado financeiro no investimento sustentável.
Por isso, cada vez mais – e arrisco dizer com ainda mais recorrência a partir do segundo semestre de 2020 –, temos ouvido falar em ESG, uma sigla em inglês que significa meio ambiente, social e governança. Trata-se de um critério para guiar investimentos com foco em sustentabilidade, ou seja, consultores financeiros, bancos e fundos de investimento avaliam empresas de acordo com seu desempenho nessas três áreas, para além da questão financeira. Não se trata de uma novidade mas, diante dos desafios e questionamentos que nos foram impostos recentemente, tornou-se uma luz no fim do túnel.
Daí que outras três letrinhas, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, também têm funcionado como um referencial para o desenvolvimento de estratégias de investimento, alinhando os esforços empresariais, com maior objetividade nos negócios e na construção de um plano para a prosperidade mundial. De certa forma, ainda que sejam coisas distintas, ESG e ODS têm um objetivo comum, que é nortear o desenvolvimento sustentável em todo o planeta pelos próximos anos.
Falar de desenvolvimento sustentável sem falar de florestas torna-se incoerente, uma vez que elas são fundamentais para alcançar os objetivos dos investidores, da ONU e de todos nós. Tanto é verdade que o manejo florestal está claramente descrito no Objetivo 15 dos ODS, chamado de Vida Terrestre, que prevê proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, além de praticar um manejo correto das florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e frear a perda de biodiversidade. Mas, além disso, é possível reconhecer a relevância dos ecossistemas naturais na maioria dos 17 ODS, como no 1, que trata da Erradicação da Pobreza, e no 2, denominado Fome Zero e Agricultura Sustentável. Afinal, ambientes degradados não geram renda nem comida.
Coincidentemente, outras três letrinhas, há quase 30 anos, vêm promovendo o manejo florestal responsável ao redor do mundo, para garantir florestas para todos para sempre. Florestas, como se sabe, são a base de outras cadeias vitais à humanidade, pois seus serviços ecossistêmicos possibilitam a produção de comida, de água e de energia. É, portanto, impossível discutir desenvolvimento sustentável sem falar sobre manejo florestal responsável e sobre o FSC, único sistema de certificação que leva em consideração aspectos sociais, ambientais e econômicos.
Também é imprescindível reafirmar aqui que o manejo responsável é o oposto de desmatamento. Enquanto este implica em um aumento na concentração de terra, especulação imobiliária, empobrecimento de comunidades e trabalhadores, e em perda definitiva do capital natural, de serviços ecossistêmicos e de biodiversidade; o manejo florestal sustentável compatibiliza o uso dos recursos florestais com estratégias de conservação ambiental, ajudando a coibir o comércio ilegal de produtos florestais e melhorando a qualidade de vida da população que vive na região.
Mas, como às vezes é preciso ver para crer, uma associação de produtores de açaí do Bailique, um arquipélago a 250 km de Macapá, no Amapá, é a prova viva de que tudo isso escrito até aqui é factível. Ainda em 2016, eles obtiveram a certificação FSC para o seu manejo florestal, atendendo a rigorosos critérios ambientais e sociais.
Depois, conquistaram o selo para sua cadeia produtiva e, mais recentemente, demonstraram que suas atividades de manejo resultam em impactos positivos na manutenção dos estoques de carbono e conservação da biodiversidade, também verificados pelo FSC.
A partir daí, esses produtores ampliaram a área de produção certificada, atingindo um total de mais de 3 mil ectares. Eles citam como benefícios do manejo florestal responsável a valorização do produto, a diminuição dos acidentes de trabalho e o aumento da consciência ambiental, que os levou a se preocupar, por exemplo, com seus resíduos e com a recuperação das matas ciliares.
ESG, ODS, manejo florestal responsável, responsabilidade socioambiental – nada disso é “mimimi”. Nada disso é para poucos. Pequenos produtores, como o pessoal do Bailique, grandes empresas, investidores, consumidores, governos, todos nós precisamos, diariamente, fazer escolhas em prol do desenvolvimento sustentável, para um mundo melhor, mais justo e mais verde.
*Daniela Vilela é diretora executiva do FSC Brasil. Engenheira florestal pela Esalq-USP, tem especialização em Sistemas de Gestão da Qualidade pela Unicamp. Atuou na Veracel Celulose, no Imaflora e no Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais.
[Foto: Judit Klein/ Flickr Creative Commons]