Enquanto o ESG aborda como atingir seus resultados por meio da governança, tendo o impacto social positivo e a redução de danos ambientais; a Responsabilidade Social Corporativa trata de como o negócio pode devolver à sociedade uma fatia daquilo que lucrou, principalmente por meio de filantropia. Não se deve subverter à lógica dos negócios que visam principalmente o lucro, mas sim ser complementar a esse modelo
Por Fernando Simões Filho *
O mundo terá de caminhar para um modelo mais sustentável de desenvolvimento com mais velocidade e consistência. E isso passa, entre outros fatores, pela postura dos consumidores, pela maior facilidade de acesso de empresas a recursos financeiros, e pelo estabelecimento de políticas públicas focadas na transição energética.
Vamos aos fatos? Uma recente pesquisa realizada pela National Retail Federation mostra que 70% dos mais de 19 mil consumidores entrevistados estão dispostos a pagar até 35% a mais por produtos, bens ou serviços considerados sustentáveis. Já a PwC Brasil conversou com 325 investidores institucionais e constatou que 56% deles já se recusaram a investir em companhias pela falta de práticas de sustentabilidade. Por último, vemos a União Europeia, que estuda aplicar sanções para produtos advindos de atividades de desmatamento.
A conclusão, claramente, é que qualquer caminho adotado que vá na contramão desse movimento pode gerar, no curto prazo, algo que nenhuma empresa quer: prejuízo.
Aqui entramos na sopa de letrinhas que está na moda, envolvendo ESG (Environmental, Social and Governance) e RSC (Responsabilidade Social Corporativa), e caminhamos como equilibristas na linha tênue que as separa. Enquanto ESG aborda como uma empresa atinge seus resultados por meio da governança, tendo o impacto social positivo e a redução de danos ambientais; RSC trata de como o negócio pode devolver à sociedade uma fatia daquilo que lucrou, principalmente por meio de filantropia.
Dito isso, vamos passar do ecossistema das letrinhas para uma palavra fundamental, tanto quando falamos de ESG quanto de RSC: a estratégia. Em um modelo de crescimento no qual o impacto real é uma exigência cada vez maior, como as empresas devem pensar o papel do seu dinheiro?
Vamos usar o exemplo hipotético de um banco que decide oferecer gratuitamente cursos de educação financeira. É claro que ele entende de finanças, mas educação é sua expertise também? Não seria mais estratégico, por exemplo, usar a filantropia para criar um fundo blended finance com foco em impacto socioambiental positivo, ou oferecer uma linha de microcrédito acessível e assistido, que não carregue em si o peso de recuperar esse montante rapidamente e de forma lucrativa?
Esse exemplo, ainda que no campo das ideias, traz em si algo que vai além das ações que geram boas fotos. É o uso da essência da empresa para trazer impacto positivo real. Não há nenhuma intenção utópica de que grandes empresas, que visam o lucro, de repente, decidam mudar o foco e transformem seu negócio em um negócio social. Mas, ao mesmo tempo, trata-se de usar seus principais recursos de experiência e inteligência para alimentar um ecossistema mais saudável, como, no caso acima sobre um banco.
O olhar estratégico, ainda que diante da falta de indicadores claros na avaliação e mensuração das ações desejadas em termos de sustentabilidade, pode nos levar a um sistema extremamente saudável de retroalimentação, em que responsabilidade social e sustentabilidade permaneçam, pacificamente, lado a lado. É possível, por exemplo, ampliar a diversidade de uma equipe, algo que pode ser considerado uma política social e de governança, desenvolvendo projetos filantrópicos para capacitação de minorias. Podemos – por que não? – traduzir isso em algo como “plantar RSC para colher ESG”.
Torna-se cada vez mais estratégico fomentar negócios sociais que objetivem gerar impactos positivos junto a seus stakeholders e às comunidades em que estão inseridos, bem como é fundamental assegurar o equilíbrio perfeito entre RSC e ESG, por meio da sustentabilidade financeira e da crescente escala do impacto socioambiental. A solução é alimentar, com formação e recursos financeiros, aqueles que ainda não têm o seu espaço garantido pelos modelos de negócios tradicionais.
Em resumo, a estratégia tem de ser garantir sucesso e impacto positivo com solidez; e isso passa por contribuir no desenvolvimento de negócios que fogem à lógica do lucro como propósito, abrindo espaço para a diversidade em equipes e ampliando o elenco de atores no palco dos negócios.
Como o mundo caminha na direção de um desenvolvimento mais sustentável, não se deve subverter à lógica dos negócios que visam principalmente o lucro, mas sim ser complementar a esse modelo.
*Fernando Simões Filho é sócio fundador da Bemtevi Negócios Sociais e Membro do Conselho da Simpar
[Foto: Amador Loureiro/ Unsplash]