Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, as florestas plantadas também ajudam a sequestrar e estocar carbono, além de gerar energia renovável, conservar solo e água e preservar a biodiversidade
Por Virginia Camargos*
Cada vez mais, o mundo tem debatido a mudança climática, causada por séculos de ação humana, pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento, atividades que liberam muitos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. As implicações desse problema são numerosas e já as conhecemos quase de cor, mas vale relembrar as principais. A mudança do clima pode afetar a disponibilidade de água, a produção agrícola e a segurança alimentar mundial. A elevação da temperatura causa o derretimento de geleiras polares, elevando o nível do mar e colocando em risco áreas costeiras densamente povoadas.
Além disso, haverá a acidificação dos oceanos, que ocorre quando o dióxido de carbono emitido pela ação humana entra em contato com a água, formando o ácido carbônico, o que impacta a vida de mariscos, moluscos e plânctons e compromete o ciclo ecológico. Outro efeito é a perda de biodiversidade, com a extinção de diversas espécies e, ainda, o desequilíbrio nos ecossistemas.
Com esse cenário batendo à nossa porta, a tendência é sempre olhar para as florestas nativas, tendo em vista que a conservação e o manejo sustentável das florestas naturais são essenciais para enfrentar o desafio do aquecimento global. Além disso, ações como o reflorestamento, a prevenção do desmatamento e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis são importantes para reduzir as emissões de CO2, e ainda preservar os benefícios climáticos trazidos pelas florestas.
Contudo, é importante também considerar o setor de florestas plantadas como um importante aliado desse processo. Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), estima-se que os 9,9 milhões de hectares de área de plantio florestal no Brasil são responsáveis pelo estoque de cerca de 1,88 bilhão de toneladas de dióxido de carbono. O setor gera e mantém ainda a ordem de 2,6 bilhões de toneladas de CO2eq (carbono equivalente) e de 6 milhões de hectares na forma de Reserva Legal (RL), Áreas de Proteção Permanente (APP) e outras áreas de conservação. (O carbono equivalente é a medida utilizada para comparar as emissões de vários gases de efeito estufa, com base no potencial de aquecimento global de cada um.)
O carbono é um dos gases de efeito estufa, e as árvores armazenam carbono em sua biomassa, incluindo troncos, galhos e raízes. Esse armazenamento é crucial, pois evita que o carbono seja liberado na atmosfera. Além disso, a utilização da madeira proveniente de florestas plantadas como fonte de energia renovável pode ajudar a substituir os combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo. A queima de biomassa florestal como fonte de energia libera CO2, mas, como as árvores absorvem esse carbono durante o seu crescimento, a emissão líquida de carbono é reduzida, na comparação com a queima de combustíveis fósseis.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, as florestas plantadas também ajudam na conservação do solo, reduzindo a erosão e controlando o escoamento de água. Isso mantém a qualidade dos recursos hídricos e ajuda a preservar a biodiversidade.
Para alcançar esses resultados, é necessário que haja um manejo florestal responsável e adequado, levando em consideração a escolha de espécies e a proteção dos ecossistemas nativos. O setor de florestas plantadas adota rigorosamente todos esses cuidados e tem comprovado atuar como um excelente sumidouro de carbono.
Usando a Veracel como exemplo, podemos mencionar o que foi constatado em nosso Inventário de Emissão e Remoção de GEE referente aos dados do ano fiscal de 2022. Neste ano, a empresa removeu da atmosfera um total de 1.671.882 de toneladas de CO2eq com suas plantações de eucalipto e com as atividades de restauração florestal que promove, já descontando o que emitiu pela indústria (261.005 toneladas de CO2eq).
Nesse cenário, o setor florestal também acaba conquistando grande importância no mercado de carbono, um mecanismo econômico que visa a reduzir as emissões, por meio da negociação e da compensação de créditos. Isso vai incentivar empresas e governos a reduzirem suas emissões e estimular a transição para a tão sonhada economia de baixo carbono.
Apesar de ainda termos uma longa caminhada regulatória no País até atingirmos o pleno funcionamento do mercado de créditos de carbono, olhar para essa tendência é muito necessário. Um estudo internacional da consultoria WayCarbon mostra que os setores mais promissores para gerar créditos de carbono no Brasil são os de floresta, agropecuário e energia. De acordo com a pesquisa, o País pode movimentar entre US$ 493 milhões a US$ 100 bilhões com o mercado de carbono, gerar 8,5 milhões de empregos até 2050 e atender 48% da demanda mundial dessa atividade até 2030.
A transição para uma economia de baixo carbono envolve uma série de mudanças em vários setores e níveis, mas os créditos de carbono florestais já demonstram o seu grande potencial e oferecem uma maneira eficaz de valorizar essas contribuições e incentivar a proteção e o uso sustentável das florestas em todo o mundo.
Apesar do plantio de florestas não poder ser visto como uma solução única para mitigar o aquecimento global, a contribuição das florestas na redução dos impactos é uma realidade. Isso comprova que é possível, sim, aproveitar os benefícios econômicos do setor florestal sem comprometer a saúde do meio ambiente e ainda abrindo um leque de oportunidades para o futuro da economia do País.
*Virginia Camargos é gerente de Meio Ambiente e Gestão Integrada da Veracel Celulose