Por Lauro Marins*
Para contribuir com a clareza dos relatos e no combate ao greenwashing, o International Sustainability Standards Board (ISSB) criou padrões globais de reportes para o mercado financeiro. A partir de 2026, a elaboração e a publicação serão obrigatórias para as companhias de capital aberto no Brasil. Portanto, a hora de as empresas se prepararem é agora, revendo metas e compromissos
ESG é sinônimo de risco para o investidor. Antes de destinar capital para empresas, qualquer pessoa que adquire ações, independente do setor, vai querer avaliar o negócio a partir de métricas e gestão de risco, assim como o banco antes de liberar créditos, por exemplo. Por isso, as organizações que adotam critérios ESG se destacam, pois garantem mais segurança nos âmbitos trabalhista, socioambiental e financeiro. Por esse motivo, a cobrança por transparência em ESG cresceu e as companhias precisam demonstrar o que estão fazendo na prática para os seus stakeholders. O momento de promessas já passou, agora a cobrança é pela comprovação das ações.
Para contribuir com a clareza dos relatos e no combate ao greenwashing, o International Sustainability Standards Board (ISSB) criou padrões internacionais de divulgação de informações para o mercado financeiro: o International Financial Reporting Standards (IFRS) S1 – relacionado à sustentabilidade – e o IFRS S2, voltado ao clima.
Para o relato, as empresas devem compreender quais são os riscos e oportunidades de temáticas relacionadas à agenda ESG que podem afetar os fluxos de caixa. Para tanto, devem ser considerados aspectos climáticos e socioambientais na estratégia das companhias, além de métricas, metas e a governança transparente para o mercado.
Já existem alguns padrões de reporte, como GRI, CDP, TCFD, SASB, entre outros, que foram crescendo conforme o movimento da agenda ganhou relevância para o mercado. Entretanto, existe também uma pressão das organizações para ter um único padrão, já que consideram cansativo responder muitos questionamentos e fazer diferentes relatórios.
O IFRS surge com o propósito de solucionar o problema, como um padrão efetivamente mundial e adaptável aos requisitos locais. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já deu o aval para o reporte e sinalizou que, a partir de 2026, a elaboração e a publicação serão obrigatórias para as empresas de capital aberto no Brasil. Portanto, a hora de as empresas se prepararem é agora, revendo metas e compromissos.
A adoção do IFRS, no entanto, muda a dinâmica do mercado, já que indicadores ESG estarão relacionados à agenda financeira e a narrativa das empresas precisará ser muito bem escrita. Com o IFRS, a tendência é reduzir a prática, hoje um tanto quanto comum, de as empresas divulgarem relatos ESG extremamente extensos, às vezes com mais de 250 páginas, “marketizando” o conteúdo em vez de apresentar dados comprováveis.
Com isso, aumentará a pressão para as instituições por transparência, uma vez que o IFRS exigirá que se apresentem metas, métricas, políticas e a estrutura de governança para cada tema, assim como dados sobre como a companhia faz gestão de risco e qual materialidade das iniciativas ESG para o negócio. Em resumo, o objetivo é dar fim a relatórios que não dizem nada e escondem os indicadores no meio de informações desnecessárias e sem clareza.
Um padrão global de relatos aumenta a facilidade da comparação e evidencia o desempenho de ações ESG na companhia, bem como a alocação de capital, por meio de uma verificação crítica. Mais do que a publicação de informações de engajamento, interação direta e indireta com players e desempenho das ações que envolvem a cadeia de fornecedores, o novo padrão considera ainda a dependência das empresas de recursos de suas cadeias de valor (escopo 3), ou seja, os requisitos de reporte vão além, por exemplo, da contabilização de emissões diretas da empresa.
Todas as companhias, mesmo não listadas na CVM, precisarão entender a cadeia e compreender em qual momento se encontram, para trazer a transparência necessária, imposta pelo padrão. É necessário ter clareza sobre o tratamento do risco socioambiental e climático, que já ditam o debate atual, porque investidores, bancos e a sociedade não darão crédito para quem não tiver metas verdadeiramente comprometidas com uma jornada net zero, ou temas considerados materiais para seu negócio, e programas que encontrem as soluções dentro desta agenda. Este é um risco que, definitivamente, não compensa.
*Lauro Marins é gerente de estratégia ESG da WayCarbon