Deu na Página22… há 8 anos
Se a História é contada pelo ponto de vista dos vencedores, é preciso recontá-la para olhar o futuro de outra forma, disse Djamila Ribeiro nesta entrevista concedida em 2016. Sem poupar a direita nem a esquerda, a filósofa cita o antropólogo Kabengele Munanda, segundo o qual o racismo no Brasil é um crime perfeito
Por Magali Cabral
“O [filósofo alemão] Walter Benjamin diz que a História é contada pelo ponto de vista dos vencedores e, por isso, é importante que nós, que fomos vencidos, lutemos contra isso, se não eles continuam a vencer sempre. Então, quando me perguntam o que eu penso para o futuro, eu digo que antes de pensar o futuro acho que é importante recontar a História, porque é a partir dela que vamos olhar para o futuro de outra forma”.
Esta declaração é da filósofa Djamila Ribeiro e foi pinçada da entrevista concedida às jornalistas Fernanda Macedo e Magali Cabral, nos idos de 2016, sobre como o Brasil lida com a sua diversidade. Por aqui, “o racismo é o crime perfeito”, resume ela. “Apesar de a desigualdade social escancarar o racismo no País, muitas pessoas ainda negam que exista”.
A filosofa cita também o antropólogo Kabengele Munanda, especialista em antropologia da população afro-brasileira: ele diz que o racismo é um crime perfeito, porque, vivemos em uma sociedade extremamente racista, mas as pessoas dizem não ser racistas. Para ela, o mito da democracia racial escamoteou durante muito tempo o racismo no Brasil, o que se reflete na falta de maturidade ao debater esse assunto.
Um elemento que contribui para essa falta de entendimento, segundo explica, é miscigenação. Outro, é que, ao contrário dos Estados Unidos e da África do Sul, no Brasil não houve uma lei, como o apartheid, que tornasse o racismo constitucional. Naqueles países tinha escola para negro, escola para branco, e o negro sabia que não podia ir a determinados espaços.
“No Brasil, não houve uma lei, mas o racismo se tornou institucional. O apartheid existe aqui, basta ir ao Morumbi e ao Capão Redondo [bairros paulistanos de alto e de baixo poder aquisitivo]. Basta ir às escolas públicas e ao Colégio Objetivo”, afirma Djamila Ribeiro.
Sobre política, ela não poupa a esquerda que, durante muito tempo, só se guiou por questões de classe. “Dizia-se ao movimento feminista e de raça que eles dividiam a luta. Só que, no Brasil, não tem como falar de classe sem falar de raça e de gênero, porque raça indica classe, e o racismo impede a mobilidade social da população negra, criando uma grande massa de negros pobres”.
Nessa entrevista a filósofa também fala da trajetória do racismo no Brasil até ser entendido como um crime, das ações afirmativas, dos ganhos que uma sociedade mais diversa pode proporcionar para as empresas e para a política e muito mais. Acesse aqui: O Crime Perfeito.