Deu na Página22…há 15 anos
Edição de 2009 inteiramente dedicada ao tema da diversidade mostra que o preconceito e a discriminação sempre estiveram fortemente presentes na sociedade brasileira. Ainda hoje, o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIAP+, o quinto do mundo em registros de feminicídios, sem falar na infâmia do racismo contra negros e indígenas. O Brasil tolerante nunca existiu, ou o quadro vem sendo contaminado pelo discurso de ódio?
Por Magali Cabral
O Brasil é hoje o país que mais mata pessoas LGBTQIAP+, o quinto do mundo em registros de feminicídios, sem falar na infâmia do racismo contra negros e indígenas. Aonde foi parar aquela sociedade tolerante, cordial, aberta ao plural e ao diverso? Será que nunca existiu? Ou será que tantos se deixaram contaminar ultimamente pelo “algoritmo do ódio” – termo usado por Carmem Lúcia, ao tratar do combate às fake news, em seu discurso de posse na Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 3 de junho.
A edição de Página22, de julho de 2009, toda ela dedicada à diversidade, mostra que o preconceito e a discriminação sempre estiveram fortemente presentes na sociedade brasileira. Pesquisa encomendada à época pelo Ministério da Educação à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) trouxe uma contundente radiografia do pensamento brasileiro em relação a minorias.
Naquele ano, a Pesquisa sobre Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar ouviu 18.599 pessoas, entre alunos, professores, diretores, funcionários, pais e responsáveis de 501 escolas públicas em todo o País e concluiu que o preconceito é generalizado. Nada menos que 99,3% o manifestaram em relação a pelo menos uma área temática, entre as quais gênero (contra mulheres), geracional (pessoas mais velhas), deficiência física ou mental, orientação sexual (homossexuais), socioeconômica (pobres), etnorracial (negros, índios e ciganos) e territorial (pessoas da área rural) – nesta ordem de importância. [Observação: mantivemos aqui a terminologia utilizada na época.]
A reportagem Para Tod@s, assinada pela jornalista Amália Safatle, ouviu entrevistados sobre a possibilidade de o mundo corporativo ser um espaço propício para criar o caldo da diversidade e mudar o quadro de intolerância da sociedade, ao mesmo tempo em que traria equidade de gênero e raça, sobretudo em cargos de chefia.
“Funcionários competentíssimos, todos formados em Harvard, com visões de mundo e jeitos de trabalhar alinhados a um elevado padrão de eficiência pode parecer uma receita de sucesso. Entretanto, seria o primeiro passo para o empobrecimento da empresa, tornando-a incapaz de lidar fora de seus muros com uma realidade diversa, variável e volátil”, escreve a jornalista.
E o mais importante: “Não basta incluir os grupos minoritários e adaptá-los ao padrão dominante, é preciso quebrá-lo, modificá-lo. Caso contrário, o movimento é de homogeneização, não de diversificação”.
Leia mais em https://pagina22.com.br/wp-content/uploads/2009/07/ed32.pdf e compare com os dias atuais. O que ainda falta evoluir?