Publicação apresenta iniciativas maduras, escaláveis e promissoras nos setores que estão entre os principais emissores de gases de efeito estufa – agricultura e pecuária, florestas, energia, indústria e resíduos – e evidencia o protagonismo do País na agenda global de sustentabilidade. Lançado pelo Instituto Arapyaú e Instituto Itaúsa, o relatório baseia-se em 66 entrevistas e pesquisas realizadas pela equipe da Página22. A edição em inglês será lançada durante a Climate Week de Londres, em 26 de junho
Se o Brasil é frequentemente considerado o país capaz de apontar as saídas para as crises geradas pela mudança climática e pela perda da natureza, que soluções são essas e de que forma os setores produtivos estão engajados em ações concretas? A partir deste questionamento, o relatório Soluções em Clima e Natureza do Brasil foi construído às vésperas da COP 30, mapeando os principais temas econômicos no Brasil, como agricultura e pecuária; florestas; energia; e indústria e gestão de resíduos (abordados sob a perspectiva da economia circular) – setores medidos pelo Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa.
A iniciativa é resultado de uma convocação direta da presidência da Conferência do Clima de Belém – composta por André Corrêa do Lago (presidente) e Ana Toni (diretora executiva) – que tem provocado instituições filantrópicas e setor privado a fazerem parte de um mutirão pelo clima, saindo do campo do debate para a agenda de implementação.
Protagonista na técnica do plantio direto, que substitui a aragem, protege o solo e evita a emissão de gases de efeito estufa (GEE), o Brasil também se tornou líder no uso de bioinsumos e tem avançado, nos últimos anos, rumo a uma agropecuária regenerativa. O País foi o sexto maior produtor de energia solar do mundo em 2023 e já conta com um centro de pesquisa e desenvolvimento para produção de combustível sustentável de aviação (SAF) a partir da macaúba – planta nativa brasileira de alto poder energético. Esses são apenas alguns dos exemplos de como os setores produtivos nacionais estão engajados em ações concretas pela descarbonização da economia. Dezenas de outros estão compilados no relatório Soluções em Clima e Natureza do Brasil, produzido pelo Instituto Arapyaú e pelo Instituto Itaúsa.
“O Brasil tem todas as condições para ser parte da liderança de uma nova economia regenerativa, inclusiva, de baixo carbono e orientada para o futuro. E o setor privado está preparado para responder aos desafios climáticos, com produtos, investimento e serviços já implementados”, afirma Renata Piazzon, diretora-executiva do Arapyaú.
Produzido a partir de entrevistas com 66 especialistas conduzidas pela Página22, o relatório também tem como base consultas a pesquisas e estudos. O levantamento classifica as soluções em três categorias: maduras, ou seja, que já comprovaram resultados amplos e positivos; em ascensão,
isto é, em processo de amadurecimento, caminhando para ganho de escala; e promissoras, que apresentam desafios, mas com alto potencial de crescimento.
“Quando o mundo busca com urgência referências para enfrentar a crise climática, o Brasil pode demonstrar ser um grande provedor de soluções. Por isso, estamos apoiando esta iniciativa para identificar e compartilhar exemplos escaláveis de soluções climáticas. Com este relatório, buscamos contribuir para que o País exerça um papel de liderança promovendo cooperação e atraindo investimentos”, afirma Marcelo Furtado, diretor-executivo do Instituto Itaúsa.
Entre as soluções estão as novas práticas agrícolas que buscam restaurar o solo, conservar a biodiversidade e produzir comida com baixa ou neutra emissão de carbono, ou até mesmo remover mais carbono do que emitem – ação que precisa ser concomitante à eliminação do desmatamento. Outra área promissora é a de restauração e plantio de florestas nativas e exóticas, que é amparada pelo Código Florestal e políticas públicas como o Programa Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia), a maior iniciativa de conservação de florestas tropicais do mundo.
A junção entre arcabouço regulatório e políticas públicas também é responsável pelo protagonismo do Brasil no uso das fontes renováveis: enquanto o setor de biocombustíveis já emprega mais de 2,2 milhões de pessoas e corresponde a cerca de 4,5% do PIB, as fontes eólica e fotovoltaica avançam na matriz elétrica nacional. Ambas respondem por 91% da potência que foi instalada no país em 2024 e por 268 das 301 usinas que começaram a operar no mesmo ano.
As respostas do Brasil para clima e natureza também incluem a economia circular, que é transversal a todos os setores e, apesar de ser ainda incipiente no País, deve ganhar tração ainda este ano com o lançamento da Política Nacional de Economia Circular. O relatório cita pesquisa segundo a qual 85% das indústrias brasileiras já desenvolvem pelo menos uma prática de reciclagem, reúso de embalagens e coleta seletiva, enquanto está em ascensão o uso de biomateriais, no chamado ciclo biológico.
“A indústria, como um agente de transformação, tem papel determinante nos processos de geração e distribuição de riquezas alinhadas à proteção do capital natural, do clima e das pessoas”, comenta Pedro Wongtschowski, conselheiro do Instituto Itaúsa e presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp.
“As soluções apresentadas confirmam o reconhecimento do Brasil como liderança global capaz de oferecer produtos e serviços para mercados maduros, nacionais e internacionais, atendendo à urgência climática e ao entendimento de que o capital natural em geral valerá, no futuro, mais do que vale hoje. Neste campo, várias das soluções apontam para a valoração da natureza como ativo econômico”, destaca Roberto S. Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú e membro do Conselho de Administração da Marfrig.
Com vantagens comparativas e estratégicas devido ao clima tropical, à megabiodiversidade e à abundância de sol, chuva e vento em seu extenso território – além de uma sociedade civil pujante –, o Brasil já colocou em marcha uma teia de ações que atesta sua liderança em soluções climáticas.
“A COP 30 será uma oportunidade única para mostrar que o País está pronto para receber investimentos para proteger a biodiversidade, ao mesmo tempo em que geramos prosperidade para as pessoas e combatemos a mudança do clima. É o Brasil consolidando sua vocação de provedor de soluções socioambientais e climáticas“, afirma Ana Toni, diretora-executiva da COP 30.
A publicação deste relatório, cuja edição em inglês será lançada durante a Climate Week de Londres, no dia 26 de junho, reforça esse movimento.