O recesso escolar é uma oportunidade de lazer, diversão e desenvolvimento infantil, mas as oportunidades são desiguais. Estudo do Itaú Social mostra que crianças de famílias com maior poder aquisitivo podem acumular mais de 7 mil horas adicionais de aprendizado em comparação às que vivem em situação de vulnerabilidade, sendo 2.232 horas apenas durante o período de férias
Estudante do nono ano do Ensino Fundamental de uma escola privada, Nilo é filho único de pais empresários. Quando era criança, seu pai adorava ler livros e contar histórias de heróis para o menino dormir. Sua mãe também gostava de propor novas brincadeiras para ajudar no seu desenvolvimento. Agora, com 14 anos, o adolescente concilia as aulas de inglês, natação e guitarra na sua agenda. Antes da pandemia, frequentava cinema ou teatro aos fins de semana e nas férias aproveitava uma colônia com seus amigos escoteiros.
Caíque, estudante do nono ano do Ensino Fundamental de uma escola pública, tem uma rotina bem diferente. Ele conta que a mãe nunca leu um livro para ele. Como ela trabalhava o dia todo em uma indústria, ficava bem cansada e não tinha muito tempo para brincar e dividir a atenção com os quatro filhos. Aos 14 anos, o menino queria frequentar a escolinha de futebol, mas o orçamento da família não permitia. Aulas de inglês somente na escola, uma vez por semana. Foi ao cinema uma vez na vida, mas ainda não teve a chance de ver uma apresentação teatral. Nas férias, sua diversão é ficar entre os amigos e aproveitar a internet dos vizinhos, já que em sua casa não tem banda larga.
Os personagens são fictícios, mas o impacto socioeconômico na vida dos estudantes é real. O estudo Cada Hora Importa demonstra que ao final do 9º ano do Ensino Fundamental, crianças como Caíque, com famílias de baixa renda, recebem 7.124 horas de aprendizado a menos do que meninas e meninos como o Nilo, que têm famílias mais abastadas. Esse período equivale a 7,9 anos de uma escola regular.
A pesquisa do Itaú Social, em parceria com o Plano CDE, revela que crianças de famílias com maior poder aquisitivo podem acumular mais de 7 mil horas adicionais de aprendizado em comparação às que vivem em situação de vulnerabilidade, sendo 2.232 horas apenas durante o período de férias.


“O tempo fora da escola representa uma oportunidade valiosa para que crianças e adolescentes pratiquem atividades esportivas, musicais e literárias, além de frequentarem espaços culturais como teatros, museus e cinemas, experiências que podem trazer benefícios significativos para o desenvolvimento emocional e cognitivo. No entanto, o acesso a essas atividades ainda é marcado por desigualdades. Por isso, é essencial que as políticas públicas assegurem a todas as famílias, independentemente do território em que vivem ou da classe social, o direito a essas opções de lazer e enriquecimento cultural”, afirma Juliana Yade, coordenadora de Educação Infantil do Itaú Social.
Educação integral e seus benefícios
As atividades oferecidas fora da grade curricular são parte do conceito de educação integral, previsto na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Segundo o estudo Artes e Esportes: Relação com o Desenvolvimento Humano Integral, também conduzido pelo Itaú Social, em parceria com pesquisadores da Universidade de Cambridge, práticas artísticas e esportivas realizadas dentro e fora do ambiente escolar têm impacto direto no desenvolvimento das crianças.
De acordo com a análise, atividades esportivas, por exemplo, podem promover a inclusão e o empoderamento de crianças e adolescentes. Já entre as manifestações artísticas, a música se destaca por favorecer o raciocínio espacial-temporal; a dança contribui para o desenvolvimento da persistência e da autoconfiança; e as artes plásticas estimulam diferentes formas de interpretar o mundo.