“Se eu fosse presidente do Brasil não faria a Copa do Mundo aqui”, dispara Juca Kfouri
Apaixonado por futebol e pelo Corinthians, o jornalista Juca Kfouri rema mais uma vez contra a maré ufanista que costuma tomar conta do Brasil antes, durante e após as Copas do Mundo, nas vezes em que a seleção nacional vence o torneio. Sem papas na língua, principalmente em sua cruzada contra Ricardo Teixeira e aliados, que há décadas dominam a cartolagem no futebol brasileiro, o jornalista dispara contra a realização dos dois megaeventos esportivos que o Brasil sediará em 2014 e 2016. “Talvez eu não tenha espírito empreendedor ou uma visão global. Ou seja um cara medíocre, que pensa que não se deve fazer um megaevento desse tipo e gastar dinheiro com campo de futebol, enquanto houver mendigos nas ruas e necessidade de construir hospitais”, disse Kfouri a Página22, que o entrevistou por mais de uma hora na tarde nublada do dia 17 de maio, sexta-feira, em seu apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
O jornalista admite que sua opinião colide com a onda otimista e verde-amarela que se formará por todo o País em torno da Copa e das Olimpíadas. “Se pensarmos do meu jeito, o homem nem teria chegado à Lua. Como vamos para a Lua se há gente passando fome na África? Eu compreendo, talvez seja uma deficiência minha, mas é por isso que eu sou jornalista. Sou estilingue, e não vidraça. Admito.”
O ex-jogador e deputado federal Romário (PSB-RJ) tem levantado várias denúncias sobre supostos desvios de verbas por dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e protocolou um requerimento para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de devassar as contas da entidade (mais em entrevista com Bebeto e Romário). O senhor é otimista em relação aos desdobramentos da movimentação do Romário no Congresso?
Otimista, não. É um bom barulho, mas não acredito que ele será bem-sucedido. O conflito de interesses é muito forte (entre alguns parlamentares e executivos de entidades esportivas). A Bancada da Bola está cada vez mais influente e neste momento não há nenhum interesse de o governo levar isso adiante. Embora aparentemente o governo não goste da superestrutura do nosso futebol, ao mesmo tempo tem de jogar com ela para que a Copa transcorra dentro de uma certa normalidade.
Se a CPI fosse instalada, não seria uma grande oportunidade de fazer uma limpeza ética na CBF?
Já houve duas enormes CPIs, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Dizer que não deu em nada é bobagem, porque a sociedade foi bastante informada sobre o que se passava nos bastidores dessas nossas instituições futeboleiras. Mas objetivamente mudou muito pouco. Inclusive, temos visto o instrumento da CPI ser desvalorizado. Existe um problema estrutural no futebol brasileiro e na sua gestão. E não é apenas no futebol. Essa estrutura para ser mudada depende de um esforço da sociedade.
No futebol ou no esporte em geral?
No esporte como um todo. Basicamente é a mesma coisa em uma escala maior ou menor de democratização. Mas infelizmente os governos não se sensibilizam em fazer isso. A teoria mais maluca que tenho é baseada na minha experiência. Já conversei sobre política esportiva e estrutura do futebol com três presidentes da República: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula.
O Collor, em dois minutos, deixou muito claro que, embora tivesse o Zico como secretário Nacional de Esporte, sua preocupação era só dar choques e não mexeria em nada. O coronel alagoano… não seria ele a fazer. Com o Fernando Henrique, percebia-se que ele tinha a dimensão da coisa sociologicamente… mas, ao mesmo tempo, não tinha. Cada vez que eu conversava com ele, ficava com a impressão de que, quando eu saía da sala, ele falava para a próxima pessoa que entrava: “O Juca está maluco. A Rússia está quebrando, bate muita gente na minha porta e ele acha que vou mexer na CBF?”
Embora a legislação esportiva brasileira tenha registrado seus maiores avanços graças ao então secretário-executivo do Ministério do Esporte e Turismo, José Luiz Portella, com o Estatuto de Defesa do Torcedor e a Lei da Moralização do Futebol (ambos gestados no governo FHC e sancionados pelo presidente Lula em maio de 2003).
Muito bem, o que acontece com o governo Lula? O professor Gabriel Couto disse certa vez que só respeitava sociólogo no Brasil que tivesse o fundilho das calças unido pela arquibancada. E o Lula tinha. Diferentemente da minha relação com Fernando Henrique, que era de aluno e professor, com o Lula era algo mais próximo. Eu era diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo quando começaram as greve do ABC no fim da década de 1970. Eu era o jornalista destacado para acompanhar tudo o que acontecia com as greves do ABC.
Conheceu o Lula nas greves?
Sim, por volta de 1978, 1979. Quando se elegeu presidente da República no fim de 2002, o Lula me telefonou e pediu uma reunião com umas 20 pessoas para fazer uma proposta de política esportiva. Disse a ele que estava maluco, mas que certamente não faltariam propostas de política esportiva. Que cada ala do PT deveria ter uma, Recife uma, São Paulo uma, e ele disse: “Você está enganado, ninguém tem”. Nós fizemos a convocação em 25 dias e um grupo de pessoas participou: Raí, (José) Trajano, Bebeto de Freitas, aquele bando de funcionários do PT. Até recebeu formalmente a proposta do grupo.
E ele teve a generosidade de assinar como suas primeiras leis a Lei da Moralização do Futebol e o Estatuto de Defesa do Torcedor. Generosidade, porque este último era uma lei falida que o governo FHC conseguiu aprovar no Congresso. Foi a única lei nos oito anos da gestão Fernando Henrique que foi aprovada por unanimidade, por acordo de lideranças.
Então, o Gilberto Carvalho (chefe de gabinete de Lula) me telefonou perguntando se eu ia a Brasília para a cerimônia de assinatura da Lei da Moralização. Respondi que não. O Gilberto, então, insistiu, dizendo que o presidente Lula gostaria que eu participasse da solenidade. Acabei aceitando o convite e puseram-me na primeira fila. O Lula abriu o discurso dizendo o seguinte: “Nunca mais vamos ouvir o jornalista Juca Kfouri, aqui presente, dizer que no Brasil torcedor é tratado como gado”. E terminou o discurso com “a presença dele aqui é a homenagem que faço a todos os jornalistas que estes anos todos foram processados e tiveram as credenciais negadas por essa cartolagem”.
Eu tinha 52 anos de idade, já era avô, mas esmurrava o ar de felicidade. Passaram-se seis meses e Lula estava de braços dados com Ricardo Teixeira (presidente da CBF na ocasião) para fazer aquele jogo no Haiti. O presidente Lula cometeu a insanidade de criar uma loteria para dar dinheiro aos caras que criaram a dívida sem uma contrapartida de mu- dança de modelo de gestão. E mais, prometendo em uma segunda-feira que a loteria seria criada por um projeto de lei, mas assinando como medida provisória na quarta. Ele me levou a escrever uma coluna na Folha intitulada “Lula, o traidor”. E nunca mais nos falamos.
No Brasil e no mundo, com algumas exceções, o esporte é das últimas instituições que serão mudadas, porque ela não se limita a ser conservadora. Ao pensamento conservador o mundo deve muito em momentos importantes da História. Ao me assumir como democrata eu defendo a existência da direita e da esquerda. E descobri com a democracia que tem bandido e gente boa na direita como tem na esquerda. Essa é uma das vantagens da democracia.
Só que a estrutura do esporte, além de ser conservadora, é profundamente reacionária, absolutamente refratária a qualquer tipo de mudança. É corruptora e corrompida. E no Brasil, diferentemente do que se dá na Inglaterra, a estrutura do esporte vive de migalha, mata a galinha dos ovos de ouro. Porque essa gente é muito árida, muito sedenta; não tem sequer competência para roubar a longo prazo. Quer raspar o tacho.
O “País do Futebol” faz um Campeonato Nacional com média de público inferior a 15 mil pessoas por jogo, menor que a média de público da Segunda Divisão da Inglaterra. Pesquisas mostram que a maioria das pessoas se diz desinteressada pelo futebol: 26% não se interessam por esse esporte, 22% torcem para o Flamengo, 19%, para o Corinthians, 13%, para o São Paulo.
Por que, então, o Brasil é chamado de “País do Futebol”?
Nunca fomos o “país do futebol”. Durante muitos anos fomos o “país do jogador de futebol”. O Brasil não reverencia esse esporte como o inglês, por exemplo. Não há um lugarzinho, um estádio que se assemelhe ao Old Trafford, o estádio do Manchester United, na Inglaterra. Lá, aonde você vai, respira esporte, sente o cheiro da bola de couro, da chuteira, dos craques. Os caras têm as estátuas dos seus heróis, o túnel em homenagem aos jogadores que morreram num acidente aéreo com seus objetos.
Mas o Brasil para, quando a Seleção joga na Copa.
Porque a Copa do Mundo é uma manifestação que envolve gente que gosta e que não gosta de futebol, mas que não deixa de dormir no dia que o Brasil perde.
Se não é o País do Futebol, quais seriam os esportes de maior destaque no Brasil? Temos problemas estruturais nos individuais, não apoiamos os atletas, alguns esportes coletivos em que o Brasil se destacava decaíram bastante, como o basquete masculino. Não sobraria o futebol, em que nos tornamos grandes exportadores de talentos?
Deixa só eu terminar o raciocínio dessa coisa reacionária. Ela raspa o tacho. A intangibilidade de alguns preços e custos no esporte (favorece a corrupção e a má gestão). Quanto vale o (Lionel) Messi? Uns 150 milhões de euros? Mas acabaram de comprar um zagueiro na Europa por 90 milhões de euros. Será que o Messi só vale 60 milhões de euros a mais que um zagueiro? Ou ele valeria 200 milhões de euros? E o Pelé valeria quanto se o Messi valesse 200 milhões de euros? 400 milhões? Isso explica por que essa estrutura é tão conservadora e por que as pessoas quando chegam à direção de uma entidade não querem contrariar quem está no poder.
Você também é um crítico ácido da realização das Olimpíadas no Brasil.
Não faz o menor sentido o Brasil sediar as Olimpíadas. É um país que tem 513 anos sem uma linha de política esportiva.
Nem uma linha de política pública de educação para o esporte.
O Brasil até hoje não sabe o que quer ser quando crescer em matéria de esporte. É um país que está de costas para um dado da Organização Mundial da Saúde (OMS) que mostra que a cada dólar investido em acesso ao esporte economizam-se 3 dólares em gastos na saúde pública. O Ministério da Saúde no Brasil é o Ministério da Doença, que corre atrás de contratar médico cubano, português, italiano, porque não tem uma distribuição correta de médicos pelo Brasil. Um país que não foi capaz de erradicar a dengue e ainda não entendeu o esporte como fator de saúde.
Faz sentido realizar as Olimpíadas num lugar desses? E qual é a justificativa mentirosa, falsa, canalha? “Ah, os Jogos Olímpicos vão estimular a prática do esporte”. Este País que não tem quadras poliesportivas em boa parte das escolas vai fazer as Olimpíadas, gastando sabe lá Deus quanto. Estão fazendo essas Olimpíadas com a mesma gente que fez os Jogos Pan-Americanos no Rio em 2007, que foram um fiasco.
Os Jogos Olímpicos não seriam um bom pretexto para o Brasil implementar uma política pública mais ousada de esporte e educação para o esporte?
Mas, começar pelo fim, trazendo as Olimpíadas? Veja o absurdo. Uma política pública de esporte desembocaria nas Olimpíadas, e não o contrário.
Como os Jogos de 2016 são irreversíveis, não seria mais pragmático aproveitar o evento para iniciar um processo de formação de uma geração sólida de atletas?
Claro que não, você acha que se faz uma geração de esportistas em quatro, cinco, seis anos?
Quis levantar a questão sobre como minimizar o prejuízo, uma vez que os Jogos de 2016 são um fato consumado. É possível aproveitá-lo?
Não, porque na prática maximiza o prejuízo. A preocupação do Ministério do Esporte e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é fazer o Brasil ficar entre os dez primeiros (medalhistas) nas Olimpíadas. Daqui a pouco vai aparecer um atleta dando entrevista na Ucrânia e vai ser naturalizado brasileiro para fazer medalha para nós. Apostou-se nos esportes que mais têm a ver com medalhas individuais, mas que não têm nada a ver com nossa cultura. E estamos engolindo uma falácia. Não há o menor sentido em o Brasil ficar entre os dez primeiros países nas Olimpíadas. Porque será uma coisa feita para aquilo (as Olimpíadas), sem nenhuma sustentabilidade. Vai-se dissolver lá, como tudo o que é sólido, e ponto. É até desumano.
Como um cara que cobre essa área a vida inteira, estou pouco me lixando para o Brasil ganhar medalhas olímpicas. Quero que os indicadores de saúde do povo brasileiro melhorem. Quero que, da quantidade das pessoas que vão fazer esportes, possa-se tirar qualidade. O brasileiro tem aptidão especialmente para esportes com bola e coletivos. Aí começamos a constatar coisas que, claro, quem não é da área não presta atenção. Sabe quantos remadores da nossa equipe olímpica são da Região Amazônica? Nenhum. Eles vêm da raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP) e da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
E a maior parte da água doce do Brasil encontra-se na Amazônia.
Garotinho de 5 anos vai remando para a escola, na margem do Rio Solimões, no Rio Negro. Veja se alguém já foi lá prospectar talentos no remo. Nunca.
E a questão da melhora na infraestrutura de estádios e parques olímpicos que esses megaeventos prometem trazer?
Se você me perguntar: “Juca, se você fosse presidente do Brasil, faria a Copa do Mundo aqui? Eu diria que não. Talvez eu não tenha espírito empreendedor ou uma visão global. Ou seja um cara medíocre, que pensa que não se deve fazer um megaevento desse tipo e gastar dinheiro com campo de futebol, enquanto houver mendigos nas ruas e necessidade de construir hospitais. Aí, você pode me dizer “Juca, essa é uma postura simplória porque não se faz a Copa do Mundo, mas também não se faz hospital nem se tira gente da rua. Se pensarmos assim, o homem nem teria chegado na Lua. Como vamos para a Lua se há gente passando fome na África?” Eu compreendo, talvez seja uma deficiência minha, mas é por isso que eu sou jornalista. Sou estilingue, e não vidraça. Admito.
Como admito que se ouve por aí que, se a África do Sul fez uma Copa, por que o Brasil não pode fazer? Espere aí. O Brasil deveria fazer a Copa do Mundo do Brasil no Brasil. Não a da Alemanha, a da Ásia no Brasil Estamos fazendo a Copa do Mundo construindo praticamente 12 novos estádios ao passo que os EUA, em 1994, só construíram um, adaptando campos de beisebol e de futebol americano. A França, em 1998, só fez um estádio, o Stade de France, em Saint-Denis, um subúrbio ao norte de Paris.
Cobri (o jogo entre) Brasil e Noruega no Stade Vélodrome, em Marselha, no sul da França. Era o mesmo estádio em que o Brasil tinha jogado a Copa de 1938, 60 anos antes. Claro que com fibra ótica, outra louça no banheiro. Mas era o mesmo estádio, porque a comunidade de Marselha impediu que se mexesse nele.
No âmbito dos compromissos e promessas, o que eu vi na África do Sul é muito parecido com o que está acontecendo agora. Não é à toa que a última Copa do Mundo foi na África do Sul, a próxima é no Brasil, depois será na Rússia e a seguir no Catar. Olhe bem para o controle social que se dá nesses países. Sabendo-se que a Inglaterra se candidatou pra fazer a Copa de 1918 e só teve um voto. A Inglaterra faria a Copa amanhã sem uma obra. Por que eles não foram escolhidos? Porque não ia ter empreiteira.
A África do Sul nem tem tradição no futebol.
O problema maior é fazer onde não há controle social. Sabe qual foi o prejuízo da África do Sul na Copa de 2010? US$ 4 bilhões. Sabe qual foi o lucro da Fifa no torneio? US$ 4 bilhões.
De onde veio esse prejuízo?
Dinheiro que foi investido com a promessa de que voltaria e não voltou.
Por que Manaus e Cuiabá foram escolhidas para receber jogos da Copa em vez de Belém e Goiânia, onde há maior tradição futebolística?
Por que estão fazendo um estádio em Itaquera se já tem o Morumbi, que há 50 anos serve o futebol mundial? Não é o estádio ideal, mas nossa preocupação não seria fazer estádios ideais para eventos de um mês em que se receberão cinco jogos. O foco deveria voltar-se a termos aeroportos ideais, vias de acesso ideais, transporte coletivo ideal, rede hospitalar ideal. Não um estádio de futebol. Um campeonato nacional tem em média 15 mil pessoas por jogo e não ocupamos a capacidade criada no tempo da ditadura.
Naquela época se andou fazendo estádios pelo País como um fator de integração nacional. Em Erexim (RS), por exemplo, construiu-se um para 40 mil pessoas, mais gente que a população da cidade, sob a justificativa de que também atenderia aos municípios vizinhos. Claro que o estádio nunca lotou. E nós estamos reproduzindo isso na democracia, sob a justificativa de fazer a Copa do Mundo.
E os compromissos com ações sustentáveis nos dois megaeventos?
Vou falar de uma coisa que não aconteceu no século passado, aconteceu há seis anos no Brasil, nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, para entender por que não acredito em nenhum desses compromissos ecológicos. Eram três os legados prometidos nos Jogos: despoluição da Baía de Guanabara, despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, metrô ligando o Galeão à Vila Pan-Americana. Não foram entregues nenhum desses legados e os brasileiros passaram vergonha nas regatas e nas maratonas. O Pan-Americano foi orçado em R$ 400 milhões em dinheiro público, mas os gastos chegaram a R$ 4 bilhões, dez vezes mais que a projeção inicial.
O senhor comentou antes que teve reuniões com Collor, FHC e Lula. E com a presidente Dilma Rousseff, já falou alguma vez?
Nunca falei com a Dilma. A presidente me passa a sensação de que tolera conviver com Sarney, Renan Calheiros, mas não com esses caras do futebol. “Não vou conviver com o cara que torturou meu ex-marido” (Carlos Araújo, que foi torturado pelo delegado Sérgio Fleury em São Paulo). Há discursos do José Maria Marin (presidente da CBF) fazendo elogio ao Fleury. Ela também deve pensar consigo mesma que não sentará com Ricardo Teixeira, porque sabe das denúncias que o acusam de corrupção.
Como livrar a gestão do esporte dessa turma do Ricardo Teixeira?
É uma coisa difícil, o Estado não tem esse poder. Agora, é possível combater as dívidas dos clubes de futebol, tendo como contrapartida um trabalho com crianças, levá-las aos centros de treinamento do São Paulo, do Palmeiras. Vai ver se tem algum pretinho de São Januário nadando na piscina (onde está localizado o estádio do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro). E não tem ninguém que fiscalize.[:en]“Se eu fosse presidente do Brasil não faria a Copa do Mundo aqui”, dispara Juca Kfouri
Apaixonado por futebol e pelo Corinthians, o jornalista Juca Kfouri rema mais uma vez contra a maré ufanista que costuma tomar conta do Brasil antes, durante e após as Copas do Mundo, nas vezes em que a seleção nacional vence o torneio. Sem papas na língua, principalmente em sua cruzada contra Ricardo Teixeira e aliados, que há décadas dominam a cartolagem no futebol brasileiro, o jornalista dispara contra a realização dos dois megaeventos esportivos que o Brasil sediará em 2014 e 2016. “Talvez eu não tenha espírito empreendedor ou uma visão global. Ou seja um cara medíocre, que pensa que não se deve fazer um megaevento desse tipo e gastar dinheiro com campo de futebol, enquanto houver mendigos nas ruas e necessidade de construir hospitais”, disse Kfouri a Página22, que o entrevistou por mais de uma hora na tarde nublada do dia 17 de maio, sexta-feira, em seu apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
O jornalista admite que sua opinião colide com a onda otimista e verde-amarela que se formará por todo o País em torno da Copa e das Olimpíadas. “Se pensarmos do meu jeito, o homem nem teria chegado à Lua. Como vamos para a Lua se há gente passando fome na África? Eu compreendo, talvez seja uma deficiência minha, mas é por isso que eu sou jornalista. Sou estilingue, e não vidraça. Admito.”
O ex-jogador e deputado federal Romário (PSB-RJ) tem levantado várias denúncias sobre supostos desvios de verbas por dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e protocolou um requerimento para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de devassar as contas da entidade (mais em entrevista com Bebeto e Romário). O senhor é otimista em relação aos desdobramentos da movimentação do Romário no Congresso?
Otimista, não. É um bom barulho, mas não acredito que ele será bem-sucedido. O conflito de interesses é muito forte (entre alguns parlamentares e executivos de entidades esportivas). A Bancada da Bola está cada vez mais influente e neste momento não há nenhum interesse de o governo levar isso adiante. Embora aparentemente o governo não goste da superestrutura do nosso futebol, ao mesmo tempo tem de jogar com ela para que a Copa transcorra dentro de uma certa normalidade.
Se a CPI fosse instalada, não seria uma grande oportunidade de fazer uma limpeza ética na CBF?
Já houve duas enormes CPIs, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Dizer que não deu em nada é bobagem, porque a sociedade foi bastante informada sobre o que se passava nos bastidores dessas nossas instituições futeboleiras. Mas objetivamente mudou muito pouco. Inclusive, temos visto o instrumento da CPI ser desvalorizado. Existe um problema estrutural no futebol brasileiro e na sua gestão. E não é apenas no futebol. Essa estrutura para ser mudada depende de um esforço da sociedade.
No futebol ou no esporte em geral?
No esporte como um todo. Basicamente é a mesma coisa em uma escala maior ou menor de democratização. Mas infelizmente os governos não se sensibilizam em fazer isso. A teoria mais maluca que tenho é baseada na minha experiência. Já conversei sobre política esportiva e estrutura do futebol com três presidentes da República: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula.
O Collor, em dois minutos, deixou muito claro que, embora tivesse o Zico como secretário Nacional de Esporte, sua preocupação era só dar choques e não mexeria em nada. O coronel alagoano… não seria ele a fazer. Com o Fernando Henrique, percebia-se que ele tinha a dimensão da coisa sociologicamente… mas, ao mesmo tempo, não tinha. Cada vez que eu conversava com ele, ficava com a impressão de que, quando eu saía da sala, ele falava para a próxima pessoa que entrava: “O Juca está maluco. A Rússia está quebrando, bate muita gente na minha porta e ele acha que vou mexer na CBF?”
Embora a legislação esportiva brasileira tenha registrado seus maiores avanços graças ao então secretário-executivo do Ministério do Esporte e Turismo, José Luiz Portella, com o Estatuto de Defesa do Torcedor e a Lei da Moralização do Futebol (ambos gestados no governo FHC e sancionados pelo presidente Lula em maio de 2003).
Muito bem, o que acontece com o governo Lula? O professor Gabriel Couto disse certa vez que só respeitava sociólogo no Brasil que tivesse o fundilho das calças unido pela arquibancada. E o Lula tinha. Diferentemente da minha relação com Fernando Henrique, que era de aluno e professor, com o Lula era algo mais próximo. Eu era diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo quando começaram as greve do ABC no fim da década de 1970. Eu era o jornalista destacado para acompanhar tudo o que acontecia com as greves do ABC.
Conheceu o Lula nas greves?
Sim, por volta de 1978, 1979. Quando se elegeu presidente da República no fim de 2002, o Lula me telefonou e pediu uma reunião com umas 20 pessoas para fazer uma proposta de política esportiva. Disse a ele que estava maluco, mas que certamente não faltariam propostas de política esportiva. Que cada ala do PT deveria ter uma, Recife uma, São Paulo uma, e ele disse: “Você está enganado, ninguém tem”. Nós fizemos a convocação em 25 dias e um grupo de pessoas participou: Raí, (José) Trajano, Bebeto de Freitas, aquele bando de funcionários do PT. Até recebeu formalmente a proposta do grupo.
E ele teve a generosidade de assinar como suas primeiras leis a Lei da Moralização do Futebol e o Estatuto de Defesa do Torcedor. Generosidade, porque este último era uma lei falida que o governo FHC conseguiu aprovar no Congresso. Foi a única lei nos oito anos da gestão Fernando Henrique que foi aprovada por unanimidade, por acordo de lideranças.
Então, o Gilberto Carvalho (chefe de gabinete de Lula) me telefonou perguntando se eu ia a Brasília para a cerimônia de assinatura da Lei da Moralização. Respondi que não. O Gilberto, então, insistiu, dizendo que o presidente Lula gostaria que eu participasse da solenidade. Acabei aceitando o convite e puseram-me na primeira fila. O Lula abriu o discurso dizendo o seguinte: “Nunca mais vamos ouvir o jornalista Juca Kfouri, aqui presente, dizer que no Brasil torcedor é tratado como gado”. E terminou o discurso com “a presença dele aqui é a homenagem que faço a todos os jornalistas que estes anos todos foram processados e tiveram as credenciais negadas por essa cartolagem”.
Eu tinha 52 anos de idade, já era avô, mas esmurrava o ar de felicidade. Passaram-se seis meses e Lula estava de braços dados com Ricardo Teixeira (presidente da CBF na ocasião) para fazer aquele jogo no Haiti. O presidente Lula cometeu a insanidade de criar uma loteria para dar dinheiro aos caras que criaram a dívida sem uma contrapartida de mu- dança de modelo de gestão. E mais, prometendo em uma segunda-feira que a loteria seria criada por um projeto de lei, mas assinando como medida provisória na quarta. Ele me levou a escrever uma coluna na Folha intitulada “Lula, o traidor”. E nunca mais nos falamos.
No Brasil e no mundo, com algumas exceções, o esporte é das últimas instituições que serão mudadas, porque ela não se limita a ser conservadora. Ao pensamento conservador o mundo deve muito em momentos importantes da História. Ao me assumir como democrata eu defendo a existência da direita e da esquerda. E descobri com a democracia que tem bandido e gente boa na direita como tem na esquerda. Essa é uma das vantagens da democracia.
Só que a estrutura do esporte, além de ser conservadora, é profundamente reacionária, absolutamente refratária a qualquer tipo de mudança. É corruptora e corrompida. E no Brasil, diferentemente do que se dá na Inglaterra, a estrutura do esporte vive de migalha, mata a galinha dos ovos de ouro. Porque essa gente é muito árida, muito sedenta; não tem sequer competência para roubar a longo prazo. Quer raspar o tacho.
O “País do Futebol” faz um Campeonato Nacional com média de público inferior a 15 mil pessoas por jogo, menor que a média de público da Segunda Divisão da Inglaterra. Pesquisas mostram que a maioria das pessoas se diz desinteressada pelo futebol: 26% não se interessam por esse esporte, 22% torcem para o Flamengo, 19%, para o Corinthians, 13%, para o São Paulo.
Por que, então, o Brasil é chamado de “País do Futebol”?
Nunca fomos o “país do futebol”. Durante muitos anos fomos o “país do jogador de futebol”. O Brasil não reverencia esse esporte como o inglês, por exemplo. Não há um lugarzinho, um estádio que se assemelhe ao Old Trafford, o estádio do Manchester United, na Inglaterra. Lá, aonde você vai, respira esporte, sente o cheiro da bola de couro, da chuteira, dos craques. Os caras têm as estátuas dos seus heróis, o túnel em homenagem aos jogadores que morreram num acidente aéreo com seus objetos.
Mas o Brasil para, quando a Seleção joga na Copa.
Porque a Copa do Mundo é uma manifestação que envolve gente que gosta e que não gosta de futebol, mas que não deixa de dormir no dia que o Brasil perde.
Se não é o País do Futebol, quais seriam os esportes de maior destaque no Brasil? Temos problemas estruturais nos individuais, não apoiamos os atletas, alguns esportes coletivos em que o Brasil se destacava decaíram bastante, como o basquete masculino. Não sobraria o futebol, em que nos tornamos grandes exportadores de talentos?
Deixa só eu terminar o raciocínio dessa coisa reacionária. Ela raspa o tacho. A intangibilidade de alguns preços e custos no esporte (favorece a corrupção e a má gestão). Quanto vale o (Lionel) Messi? Uns 150 milhões de euros? Mas acabaram de comprar um zagueiro na Europa por 90 milhões de euros. Será que o Messi só vale 60 milhões de euros a mais que um zagueiro? Ou ele valeria 200 milhões de euros? E o Pelé valeria quanto se o Messi valesse 200 milhões de euros? 400 milhões? Isso explica por que essa estrutura é tão conservadora e por que as pessoas quando chegam à direção de uma entidade não querem contrariar quem está no poder.
Você também é um crítico ácido da realização das Olimpíadas no Brasil.
Não faz o menor sentido o Brasil sediar as Olimpíadas. É um país que tem 513 anos sem uma linha de política esportiva.
Nem uma linha de política pública de educação para o esporte.
O Brasil até hoje não sabe o que quer ser quando crescer em matéria de esporte. É um país que está de costas para um dado da Organização Mundial da Saúde (OMS) que mostra que a cada dólar investido em acesso ao esporte economizam-se 3 dólares em gastos na saúde pública. O Ministério da Saúde no Brasil é o Ministério da Doença, que corre atrás de contratar médico cubano, português, italiano, porque não tem uma distribuição correta de médicos pelo Brasil. Um país que não foi capaz de erradicar a dengue e ainda não entendeu o esporte como fator de saúde.
Faz sentido realizar as Olimpíadas num lugar desses? E qual é a justificativa mentirosa, falsa, canalha? “Ah, os Jogos Olímpicos vão estimular a prática do esporte”. Este País que não tem quadras poliesportivas em boa parte das escolas vai fazer as Olimpíadas, gastando sabe lá Deus quanto. Estão fazendo essas Olimpíadas com a mesma gente que fez os Jogos Pan-Americanos no Rio em 2007, que foram um fiasco.
Os Jogos Olímpicos não seriam um bom pretexto para o Brasil implementar uma política pública mais ousada de esporte e educação para o esporte?
Mas, começar pelo fim, trazendo as Olimpíadas? Veja o absurdo. Uma política pública de esporte desembocaria nas Olimpíadas, e não o contrário.
Como os Jogos de 2016 são irreversíveis, não seria mais pragmático aproveitar o evento para iniciar um processo de formação de uma geração sólida de atletas?
Claro que não, você acha que se faz uma geração de esportistas em quatro, cinco, seis anos?
Quis levantar a questão sobre como minimizar o prejuízo, uma vez que os Jogos de 2016 são um fato consumado. É possível aproveitá-lo?
Não, porque na prática maximiza o prejuízo. A preocupação do Ministério do Esporte e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é fazer o Brasil ficar entre os dez primeiros (medalhistas) nas Olimpíadas. Daqui a pouco vai aparecer um atleta dando entrevista na Ucrânia e vai ser naturalizado brasileiro para fazer medalha para nós. Apostou-se nos esportes que mais têm a ver com medalhas individuais, mas que não têm nada a ver com nossa cultura. E estamos engolindo uma falácia. Não há o menor sentido em o Brasil ficar entre os dez primeiros países nas Olimpíadas. Porque será uma coisa feita para aquilo (as Olimpíadas), sem nenhuma sustentabilidade. Vai-se dissolver lá, como tudo o que é sólido, e ponto. É até desumano.
Como um cara que cobre essa área a vida inteira, estou pouco me lixando para o Brasil ganhar medalhas olímpicas. Quero que os indicadores de saúde do povo brasileiro melhorem. Quero que, da quantidade das pessoas que vão fazer esportes, possa-se tirar qualidade. O brasileiro tem aptidão especialmente para esportes com bola e coletivos. Aí começamos a constatar coisas que, claro, quem não é da área não presta atenção. Sabe quantos remadores da nossa equipe olímpica são da Região Amazônica? Nenhum. Eles vêm da raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP) e da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
E a maior parte da água doce do Brasil encontra-se na Amazônia.
Garotinho de 5 anos vai remando para a escola, na margem do Rio Solimões, no Rio Negro. Veja se alguém já foi lá prospectar talentos no remo. Nunca.
E a questão da melhora na infraestrutura de estádios e parques olímpicos que esses megaeventos prometem trazer?
Se você me perguntar: “Juca, se você fosse presidente do Brasil, faria a Copa do Mundo aqui? Eu diria que não. Talvez eu não tenha espírito empreendedor ou uma visão global. Ou seja um cara medíocre, que pensa que não se deve fazer um megaevento desse tipo e gastar dinheiro com campo de futebol, enquanto houver mendigos nas ruas e necessidade de construir hospitais. Aí, você pode me dizer “Juca, essa é uma postura simplória porque não se faz a Copa do Mundo, mas também não se faz hospital nem se tira gente da rua. Se pensarmos assim, o homem nem teria chegado na Lua. Como vamos para a Lua se há gente passando fome na África?” Eu compreendo, talvez seja uma deficiência minha, mas é por isso que eu sou jornalista. Sou estilingue, e não vidraça. Admito.
Como admito que se ouve por aí que, se a África do Sul fez uma Copa, por que o Brasil não pode fazer? Espere aí. O Brasil deveria fazer a Copa do Mundo do Brasil no Brasil. Não a da Alemanha, a da Ásia no Brasil Estamos fazendo a Copa do Mundo construindo praticamente 12 novos estádios ao passo que os EUA, em 1994, só construíram um, adaptando campos de beisebol e de futebol americano. A França, em 1998, só fez um estádio, o Stade de France, em Saint-Denis, um subúrbio ao norte de Paris.
Cobri (o jogo entre) Brasil e Noruega no Stade Vélodrome, em Marselha, no sul da França. Era o mesmo estádio em que o Brasil tinha jogado a Copa de 1938, 60 anos antes. Claro que com fibra ótica, outra louça no banheiro. Mas era o mesmo estádio, porque a comunidade de Marselha impediu que se mexesse nele.
No âmbito dos compromissos e promessas, o que eu vi na África do Sul é muito parecido com o que está acontecendo agora. Não é à toa que a última Copa do Mundo foi na África do Sul, a próxima é no Brasil, depois será na Rússia e a seguir no Catar. Olhe bem para o controle social que se dá nesses países. Sabendo-se que a Inglaterra se candidatou pra fazer a Copa de 1918 e só teve um voto. A Inglaterra faria a Copa amanhã sem uma obra. Por que eles não foram escolhidos? Porque não ia ter empreiteira.
A África do Sul nem tem tradição no futebol.
O problema maior é fazer onde não há controle social. Sabe qual foi o prejuízo da África do Sul na Copa de 2010? US$ 4 bilhões. Sabe qual foi o lucro da Fifa no torneio? US$ 4 bilhões.
De onde veio esse prejuízo?
Dinheiro que foi investido com a promessa de que voltaria e não voltou.
Por que Manaus e Cuiabá foram escolhidas para receber jogos da Copa em vez de Belém e Goiânia, onde há maior tradição futebolística?
Por que estão fazendo um estádio em Itaquera se já tem o Morumbi, que há 50 anos serve o futebol mundial? Não é o estádio ideal, mas nossa preocupação não seria fazer estádios ideais para eventos de um mês em que se receberão cinco jogos. O foco deveria voltar-se a termos aeroportos ideais, vias de acesso ideais, transporte coletivo ideal, rede hospitalar ideal. Não um estádio de futebol. Um campeonato nacional tem em média 15 mil pessoas por jogo e não ocupamos a capacidade criada no tempo da ditadura.
Naquela época se andou fazendo estádios pelo País como um fator de integração nacional. Em Erexim (RS), por exemplo, construiu-se um para 40 mil pessoas, mais gente que a população da cidade, sob a justificativa de que também atenderia aos municípios vizinhos. Claro que o estádio nunca lotou. E nós estamos reproduzindo isso na democracia, sob a justificativa de fazer a Copa do Mundo.
E os compromissos com ações sustentáveis nos dois megaeventos?
Vou falar de uma coisa que não aconteceu no século passado, aconteceu há seis anos no Brasil, nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, para entender por que não acredito em nenhum desses compromissos ecológicos. Eram três os legados prometidos nos Jogos: despoluição da Baía de Guanabara, despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, metrô ligando o Galeão à Vila Pan-Americana. Não foram entregues nenhum desses legados e os brasileiros passaram vergonha nas regatas e nas maratonas. O Pan-Americano foi orçado em R$ 400 milhões em dinheiro público, mas os gastos chegaram a R$ 4 bilhões, dez vezes mais que a projeção inicial.
O senhor comentou antes que teve reuniões com Collor, FHC e Lula. E com a presidente Dilma Rousseff, já falou alguma vez?
Nunca falei com a Dilma. A presidente me passa a sensação de que tolera conviver com Sarney, Renan Calheiros, mas não com esses caras do futebol. “Não vou conviver com o cara que torturou meu ex-marido” (Carlos Araújo, que foi torturado pelo delegado Sérgio Fleury em São Paulo). Há discursos do José Maria Marin (presidente da CBF) fazendo elogio ao Fleury. Ela também deve pensar consigo mesma que não sentará com Ricardo Teixeira, porque sabe das denúncias que o acusam de corrupção.
Como livrar a gestão do esporte dessa turma do Ricardo Teixeira?
É uma coisa difícil, o Estado não tem esse poder. Agora, é possível combater as dívidas dos clubes de futebol, tendo como contrapartida um trabalho com crianças, levá-las aos centros de treinamento do São Paulo, do Palmeiras. Vai ver se tem algum pretinho de São Januário nadando na piscina (onde está localizado o estádio do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro). E não tem ninguém que fiscalize.