Um dos argumentos mais repetidos sobre os impactos das mudanças climáticas é a ameaça de elevação de nível dos mares, pelo derretimento das calotas polares. Este não é um indicador desprezível, certamente, como bem alertaram as nações insulares que participaram da COP 21. Um caso recente e dramático é do Atol de Biquini, parte das Ilhas Marshall, que gerou pedido aos Estados Unidos para abrigar toda a sua população, uma vez que já não vê condições de perpetuação na ilha constantemente invadida pelas águas do mar. O caso noticiado pela BBC aponta para o contexto de deslocamentos humanos forçados por impactos ambientais que deve se tornar mais frequente com as mudanças climáticas.
Indicadores de outra natureza têm sido apresentados pela mídia e por uma rede de cientistas ao redor do mundo, mostrando que as mensagens vindas dos oceanos vão muito além do nível das águas. O aumento da temperatura no Pacífico Norte é um deles, conforme alerta da National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA, registrado pela Rolling Stone ). A reportagem destaca depoimento de cientistas e pescadores classificando o fenômeno como “jamais visto antes” e ilustra um amontoado de morsas em uma das poucas praias do Ártico que restaram para descanso durante o degelo de 2015.
A Universidade de Southern California já identificou também uma disrupção no ritmo reprodutivo da bactéria trichodesmium, em decorrência das mudanças climáticas. Segundo reportagem da Scientific American, essa bactéria é fundamental para a vida marinha pois converte nitrogênio da atmosfera em uma forma de nitrogênio que pode ser absorvida pela cadeia alimentar.
Um estudo do ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies da Universidade de Queensland, Austrália, mostra que toda a biodiversidade marinha está sendo afetada de modo geral e sofrerá impactos ainda maiores com o agravamento do aquecimento global. Publicado na Nature Climate Change e noticiado pelo Science Daily, o estudo aponta, entre os desdobramentos, a migração de espécies para outras regiões, impondo nova competição e predação a espécies já existentes ali. Também fala em menos diferenciação de comunidades biológicas de uma mesma região, o que pode causar o declínio de espécies.
E ainda o relatório da agência norte-americana NOAA, que mostra a forte queda nos estoques pesqueiros, segundo matéria do The Sault. Entre as razões, a redução do fitoplancton – alimento que é base para a maioria dos filhotes de peixes. O Atlântico Norte é apontado como o local onde este efeito das mudanças climáticas está mais intenso.
Mas a ciência ainda não tem uma noção completa do comportamento dos oceanos frente à mudança do clima, o que traz mais incertezas sobre o futuro. Um exemplo vem de estudo publicado na Science e noticiado pelo Guardian. Pesquisadores constataram um novo ciclo de absorção de carbono no oceano do Hemisfério Sul do planeta, um dos principais sumidouros de gases de efeito estufa da Terra.
Outra descoberta que traz uma certa esperança em relação ao sequestro de carbono veio de uma pesquisa feita com bactérias Thiomicrospira crunogena, encontradas nas profundezas do oceano. Cientistas da UF College of Medicine descobriram que ela produz anidrase carbônica, uma enzima que ajuda a remover dióxido de carbono de organismos. A ideia é estudar a aplicação dessas bactérias em processos industriais para reduzir a emissão de CO2, explica matéria do Tech Times.
Enquanto essa e outras soluções não se concretizam, os oceanos seguem o processo de aquecimento das águas e de acidificação e os sinais se multiplicam à velocidade da Internet.