O slogan da ação realizada neste fim de semana, em Manaus, viralizou na internet como um imperativo na luta contra a Covid-19, muito além da urgência na saúde e economia. Descortinada pelo vírus que colocou a maior metrópole da Amazônia no epicentro de uma crise longe do fim, a desigualdade de gênero é um dos principais desafios que precisam ser tratados por quem pensa com seriedade sobre o futuro da floresta. Com a distribuição de kits de higiene pessoal, cestas básicas e lanche para mulheres em situação de vulnerabilidade social, o grupo Solidariedade – formado por voluntários mobilizados em redes sociais – marcou uma nova etapa da campanha iniciada há um ano para atenuar a dor diante da inoperância de governos.
A história do movimento foi contada em julho do ano passado pela Página22 em reportagem colaborativa, publicada no exato dia em que o País atingia 100 mil mortes pela Covid-19, e o drama dos sepultamentos e hospitais lotados em Manaus servia de alerta para o que poderia ocorrer Brasil afora. O trabalho jornalístico, conduzido de maneira colaborativa junto aos jovens do grupo, doadores e famílias beneficiadas, teve o apoio de estudantes de jornalismo, tanto como experiência de contato com a realidade a ser reportada por eles após o diploma e como oportunidade de fazer o bem. O que exatamente move as pessoas para atos solidários? Qual legado do atual momento para um mundo diferente?
Denunciar as entranhas sociais da desigualdade urbana, no pano de fundo amazônico, é um exercício que se completa com a narrativa das soluções, dentro de conceitos revigorados pela pandemia, como o de Comunicação Construtiva, difundido pelo jornalista e escritor Edvaldo Pereira Lima, integrante do projeto de reportagem sobre o grupo Solidariedade.
Em agosto do ano passado, após a doença arrefecer na capital amazonense, a sensação de dever cumprido desmobilizou os voluntários. Eles voltaram à ativa em janeiro, na reviravolta da curva, com a tragédia da falta de oxigênio e o brusco aumento do número de mortes. As lições do grupo no início da pandemia, mostradas pela Página22 à época, ajudaram na expertise para uma nova organização e fôlego para a retomada.
Como diz, na reportagem, a psicóloga Deborah Dubner, “a pandemia está mudando a noção de valor”. Na atual crise, reforça ela, a percepção de finitude está sendo alterada, em especial entre os mais jovens, que pensam mais no agora e do que na esperança de um futuro distante. Para Dubner, as pessoas se mobilizam para se sentirem vivas por dentro, escudo contra energias de raiva e medo do entorno:
“A gratidão é como um músculo que se fortalece por meio das nossas escolhas, relacionadas a dois pontos, na pandemia: ficar lamentando dores ou se conectar com o lado mais luminoso da esperança, concentrando-se no que faz sentido e no que podemos oferecer com base em nossas potências pessoais”.
O tema da diversidade e igualdade de gênero, tão presente no discurso das empresas na onda ESG, ganha na Amazônia um campo de prova que a obstinação de jovens manauaras no apoio ao próximo promete manter vivo. Não somente no Dia Internacional da Mulher.
Leia a reportagem original da Página22: “Uma luz na escuridão da floresta”