Spin-off do Programa de Aceleração e Investimento de Impacto da Plataforma Parceiros pela Amazônia, a AMAZ promoveu este ano sua primeira chamada de negócios. Foram recebidas 156 inscrições que, juntas, têm demanda de investimento de R$ 218 milhões e faturam anualmente R$ 32 milhões. Até 2030, a expectativa é alavancar R$ 50 milhões de investimentos com fundos de venture capital e investidores privados
A Amazônia tem um enorme potencial, ainda muito pouco explorado, no que se refere à conservação e ao uso sustentável de seus recursos florestais e da biodiversidade. O Brasil tem tudo para ser um dos maiores protagonistas na construção de uma nova ordem econômica mundial: a da economia de baixo carbono, ou economia da descarbonização. A mudança do clima já afeta a vida de todos nós, e deve reger os rumos da humanidade nas próximas décadas. Pode ser também a maior – e talvez a última – oportunidade para o Brasil voltar a ter relevância no cenário geopolítico global.
O desenvolvimento da bioeconomia, em que a conservação da floresta e a geração de renda para as populações locais convivem juntos, pode se revelar a partir de ingredientes preciosos para a produção de medicamentos, cosméticos e alimentos. É um caminho possível e absolutamente necessário para o futuro da Amazônia, capaz de colocar o Brasil na vanguarda do desenvolvimento sustentável no século XXI.
É esse movimento, ainda jovem na floresta, mas que motiva cada vez mais empreendedores da região e atrai outros tantos de outros lugares do país, que a AMAZ aceleradora de impacto apoiará nos próximos anos. Spin-off do Programa de Aceleração e Investimento de Impacto da Plataforma Parceiros pela Amazônia, a AMAZ está em evolução constante, baseada em dois anos de experiência focada na Amazônia Legal. Nesses dois primeiros anos, 30 negócios foram acelerados, e 12 deles receberam investimento e seguem sendo apoiados e acompanhados por nossa equipe, agora integrantes do portfólio.
Dando sequência a esse movimento, a aceleradora promoveu este ano sua primeira chamada de negócios, buscando predominantemente iniciativas já em operação, mesmo que em fases iniciais. Foram recebidas 156 inscrições. Juntos, os negócios inscritos têm demanda de investimento de R$ 218 milhões e faturam anualmente R$ 32 milhões.
As iniciativas inscritas mobilizam cadeias do açaí e outras palmeiras, castanha, cacau, óleos e manteigas, serviços ambientais e créditos de carbono, guaraná, café, pirarucu e outros peixes da Amazônia e artesanato. Trazem também soluções de logística, mercado, industrialização, turismo e serviços financeiros para apoiar a conservação da floresta e gerar renda para comunidades.
As inscrições vieram de 19 estados brasileiros, e também do Distrito Federal, sendo 43 delas originadas do Amazonas e 25 do Pará. São Paulo e Rondônia registram 20 e nove inscrições, respectivamente. A chamada permite inscrições oriundas de outros estados além daqueles localizados na Amazônia Legal, contanto que ofereçam soluções para a Amazônia e se comprometam a iniciar operação na região no prazo de seis meses a partir do início da aceleração.
Dados revelam impactos reais e potenciais
A análise dos dados inscritos demonstra diversidade: em 73,2% das iniciativas inscritas (112) há mulheres na liderança, e em 68,6% (105) há pessoas não brancas na liderança. A faixa etária das lideranças inscritas tem maior concentração entre 30 e 44 anos, mas há presença de pessoas entre 19 e mais de 60 anos.
Em 35 dos negócios inscritos, a comunidade onde está inserido o empreendimento ou a região de origem da matéria prima é sócia relevante do negócio.
Os negócios inscritos se conectam também a todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, sendo que o mais frequentemente acionado é o número 8 (trabalho digno e crescimento econômico), seguido pelo 12 (consumo e produção responsáveis).
Boa parte deles, 61, declara não possuir nenhuma prática de avaliação e monitoramento do impacto que causa – um dos focos principais de apoio e desenvolvimento da AMAZ. Outros 38 inscritos declaram coletar e analisar indicadores de processo e/ou operação do negócio; 16 dizem possuir indicadores de resultados/impactos socioambientais definidos, enquanto 29 informam tomar decisões com base na avaliação dos impactos.
A diversidade dos negócios, em termos de impacto, cadeia de valor impactada e composição da equipe, demonstra que já há negócios gerando soluções em uma nova economia para a Amazônia, movida pela conservação florestal, pelo desenvolvimento das comunidades locais e pela valorização da bioeconomia e da sociobiodiversidade. Esse é o ecossistema que queremos criar.
Novas soluções para um outro tipo de desenvolvimento
Entre os negócios inscritos, boa parte (107) tem como público alvo o consumidor final. Mas há também negócios que trabalham com venda para empresas e ainda muitos que fazem parcerias com outras empresas para chegar ao consumidor final.
Muitas dessas iniciativas operam em mais de um modelo de negócio, e destacam-se ainda empresas que vendem produtos e serviços para órgãos públicos e que promovem negociação direta entre consumidores.
Dos 156 inscritos, quatro apresentam faturamento na faixa de R$ 1 mil a R$ 1 milhão; 02 entre R$ 1,1 milhão e R$ 2 milhões; e dois entre R$ 4,1 milhões a R$ 10 milhões. E 52 deles têm faturamento entre R$ 1 a R$ 50 mil. O que é compatível com o perfil de negócios inscritos, em sua maioria em fase de organização ou tração.
São negócios jovens, tendo em grande parte entre um a cinco anos de atuação. E cujos empreendedores declararam ter interesse em temas como meio ambiente, empreendedorismo, geração de emprego e renda, desenvolvimento comunitário, ciência e tecnologia.
O apoio e o fomento a este tipo de negócios é o objetivo da AMAZ. O fortalecimento de uma cultura empreendedora focada em gerar impactos positivos para a região, conservando a floresta, valorizando saberes e gerando trabalho e renda para suas populações é fundamental para firmar e fortalecer vocações em um território que historicamente vem sendo desbravado de forma predatória. É preciso olhar para a região com mais ambição e visão de longo prazo.
Esse movimento deve seguir junto com ações de comando e controle e aumento da governança para combate aos crimes ambientais. Preservar a Amazônia é fundamental para o equilíbrio climático do mundo. E é também fundamental na prevenção de futuras pandemias como a que enfrentamos agora.
Nosso país lida neste momento com o enfraquecimento do aparato de fiscalização ambiental, e a floresta e seus povos originários padecem crescentemente com esse quadro nos últimos anos, com aumentos cada vez maiores de desmatamento e queimadas, garimpos e ataques a povos indígenas.
Esses movimentos – fiscalização e preservação da floresta somados ao fomento do empreendedorismo de impacto – precisam caminhar juntos, de modo que no momento em que conseguirmos reerguer o aparato fiscalizatório sabotado pelo atual governo, tenhamos uma nova economia em desenvolvimento, apontando caminhos e soluções inovadoras que vão atrair cada vez mais investimentos para o Brasil.
O papel da iniciativa privada, da filantropia, da academia e organizações da sociedade civil é fundamental para que isso se fortaleça cada vez mais.
Próximos passos
A equipe da AMAZ vem analisando esse rico pipeline de negócios inscritos na chamada. Até o final de outubro, 12 startups serão selecionadas para uma jornada de pré-aceleração, das quais seis serão então classificadas para o processo de aceleração intensiva, integrando o nosso portfólio de negócios e podendo receber investimentos de até R$ 600 mil.
A AMAZ planeja investir um total de R$ 25 milhões em 30 negócios de impacto na Amazônia nos próximos cinco anos, além de garantir a gestão e acompanhamento desses negócios pelos próximos dez anos.
O mecanismo de financiamento da AMAZ é um fundo de financiamento híbrido (blended finance), que recebe investimento de institutos, fundações e investidores privados. O fundo será composto por um montante de R$ 25 milhões, dos quais metade é de origem filantrópica, aportada por institutos e fundações. Essas organizações possuem assento no Conselho da AMAZ e participam da construção da tese de impacto da aceleradora e têm o status de fundadores. Outros R$ 12,5 milhões que compõem o fundo de financiamento híbrido virão de investidores privados, que devem ter retorno compatível ao mercado de investimentos de impacto.
Até 2030, a expectativa é alavancar R$ 50 milhões de investimentos com fundos de venture capital e investidores privados, beneficiando 10 mil famílias que promovam a conservação/recuperação de 5 milhões de hectares de floresta na Amazônia.
A aceleradora é coordenada pelo Idesam e tem como parceiros estratégicos e fundadores Fundo Vale, Instituto humanize, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Good Energies Foundation e Fundo JBS pela Amazônia. Conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures, Darwin Startups, Grupo Rede Amazônica e investidores privados.
Mais sobre a AMAZ aqui.
*Mariano Cenamo é CEO da AMAZ e coordenador de novos negócios do Idesam
**Mônica C. Ribeiro é jornalista e antropóloga
[Foto: Nareeta Martin/ Unsplash]