Diante de eventos extremos, as empresas brasileiras costumam ser ágeis em responder a catástrofes, mas, muitas vezes, essa resposta ocorre de forma improvisada, sem planejamento prévio adequado, o que resulta em prejuízos. Integrar a gestão de riscos climáticos ao planejamento estratégico é uma das recomendações
Por Daniela Coelho*
Nos últimos anos, o crescimento dos riscos climáticos devido ao aumento da temperatura global tem ganhado destaque nas discussões globais, ao impactar não apenas a sociedade em geral, mas também a economia e, as empresas. Esses riscos podem ser divididos em físicos e de transição, sendo que ambos apresentam desafios significativos para o setor empresarial, exigindo ações proativas para mitigar impactos e promover a resiliência das organizações.
Os riscos físicos são aqueles relacionados aos eventos climáticos extremos, como enchentes, vendavais e secas prolongadas. Eles podem provocar perdas financeiras diretas, como danos à infraestrutura e à produção. Por exemplo, inundações podem destruir plantações, enquanto ventos fortes podem danificar fábricas e equipamentos. Essas perdas materiais têm consequências econômicas diretas para as empresas, diminuindo a produtividade e afetando o desempenho financeiro.
Já os riscos de transição referem-se aos desafios enfrentados pelas empresas em adaptar suas operações para práticas mais sustentáveis. Na medida em que os governos e a sociedade impõem novas regulamentações ambientais e políticas de sustentabilidade, empresas que dependem fortemente de combustíveis fósseis podem enfrentar dificuldades em se adaptar.
A transição pode envolver custos elevados, multas ou a necessidade de reestruturar operações inteiras. No entanto, ignorar essa mudança pode ser ainda mais prejudicial no longo prazo, expondo as empresas a sanções e à perda de competitividade. Além disso, ignorar essa mudança faz com que as empresas contribuam para o agravamento crise climática, da qual elas mesmas sofrerão as consequências.
O Furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos em 2005, é um exemplo emblemático sobre como a falta de preparação para cenários climáticos extremos pode ter consequências devastadoras. O furacão, inicialmente previsto como de nível 2, rapidamente escalou para o nível 5, causando danos massivos e tornando-se um dos piores desastres ambientais da história dos EUA. Embora houvesse alguma preparação, as medidas não eram adequadas para o cenário extremo que se desenrolou.
Um dos principais problemas durante o Katrina foi a falta de comunicação e coordenação entre as agências governamentais e as empresas privadas. O tempo de resposta foi atrasado e a evacuação em massa não foi adequadamente organizada, o que agravou a situação. A tragédia serviu de lição para a importância de prever cenários de maior gravidade e garantir que tanto o setor público quanto o privado estejam preparados para agir rapidamente e de maneira coordenada.
As previsões climáticas indicam um aumento na frequência e na intensidade de eventos extremos. Relatório do National Centers for Environmental Information (NCEI) revelou que, enquanto a média de desastres naturais era de 3,3 eventos anuais até 2017, desse período em diante o número saltou para 17 eventos por ano. Esse aumento dramático reforça a necessidade de as empresas incorporarem os riscos climáticos em suas estratégias de negócios, a fim de garantir sua continuidade e sobrevivência.
No Brasil, a frequência de eventos climáticos extremos tem aumentado. Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostrou que as ondas de calor no País aumentaram mais de quatro vezes nos últimos 30 anos, tornando esses eventos climáticos extremos ainda mais recorrentes e perigosos. As enchentes que ocorreram este ano no Rio Grande do Sul, por sua vez, mostram desastres ambientais nos quais os bloqueios a estradas e aeroportos dificultaram o socorro às áreas afetadas.
Diante de cenários como esses, as empresas brasileiras costumam ser ágeis em responder a catástrofes, mas, muitas vezes, essa resposta ocorre de forma improvisada, sem um planejamento prévio adequado, o que resulta em maiores prejuízos financeiros.
Como reduzir os riscos
O conceito de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) é ainda pouco integrado ao planejamento das empresas, deixando-as vulneráveis a perdas que poderiam ser minimizadas com um mapeamento adequado.
Uma pesquisa da KPMG revelou que 76% das empresas que integram ESG em projetos conseguem mitigar riscos operacionais, enquanto 64% reportam redução de custos. Por outro lado, empresas com baixa integração têm maior probabilidade de enfrentar atrasos e desafios significativos. A falta de um diagnóstico anterior impede que ações preventivas sejam implementadas, aumentando os danos quando os desastres ocorrem.
Adotar uma abordagem proativa é, portanto, essencial. As empresas precisam investir em mapeamento de riscos, identificando áreas vulneráveis e implementando medidas preventivas. Isso pode incluir desde a instalação de equipamentos resistentes a condições climáticas extremas, até a adaptação de cadeias de suprimento e logística para garantir que operações críticas continuem funcionando durante crises.
Além disso, é fundamental educar funcionários e a comunidade sobre como agir em emergências, criando uma cultura de resiliência. Preparar-se para esses eventos não apenas protege as empresas de perdas financeiras, mas também garante a segurança das pessoas e a continuidade dos negócios.
As catástrofes climáticas são uma realidade cada vez mais presente e desafiadora, e tanto os riscos físicos quanto os de transição exigem atenção e preparo. Ignorar esses riscos pode resultar em danos irreparáveis, enquanto se antecipar a eles permite que as empresas se adaptem e prosperem em um ambiente em constante mudança.
A chave para o sucesso é integrar a gestão de riscos climáticos ao planejamento estratégico, promover a resiliência organizacional e adotar uma postura proativa diante das adversidades.
*Daniela Coelho é diretora de Gestão de Riscos e Continuidade de Negócios da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados.