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A diáspora e a escravização de pessoas de diferentes povos africanos dissolveram laços familiares e consanguíneos de inúmeras famílias separadas pelo tráfico transatlântico. Buscando uma vida melhor, escravizados e alforriados convertidos ao catolicismo criaram as irmandades, construindo relações de “irmãos de compromisso”. As irmandades negras foram fundamentais ao criar uma rede de assistência a seus associados e agregados, comprando alforrias e cuidando da vida e da morte de seus irmãos.

As pessoas seguiam compungidas, e logo todos cantavam com as irmãs. Como um funeral, nesse dia de rito sagrado, a atitude diante da boa morte era contida, de devoção e contrição. Estamos em um momento inicial absolutamente sagrado da festa. A celebração da morte, o canto, para alguns esperançoso, podia indicar a passagem e o descanso da alma

A expectativa para este sábado é imensa. Ponto alto da cerimônia do Kuarup, os mortos ilustres serão, enfim, homenageados. Alinhados e separados por uma distância de dois a metros metros, ali estão representados Washington Novaes, Tabata e uma mulher Kuikuro que, ainda que perguntássemos, misteriosamente, não descobrimos seu nome

Um redemoinho enorme passa à nossa frente. Como não lembrar dos xapiris que tanto nos conta Washington Novaes em seu diário em 1984? São espíritos presentes em todos os seres vivos, que circulam pela aldeia e pelas matas, e são associados à saúde, à doença, à vida e à morte. Podem ser vistos com pajelança e tantas outras manifestações que, para nós, brancos, são inimagináveis

Um historiador e sua companheira imergem no ritual do Karup, no Parque Indígena do Xingu, que neste ano tem entre os homenageados o jornalista e ambientalista Washigton Novaes, morto em 2020. Acompanhe, no diário de viagem, o primeiro e segundo dia de uma jornada que começa no centro nervoso de São Paulo, com destino à aldeia Ipatse, do povo Kuikuro – passando pela aridez das fazendas de soja