Deu na Página22…há 11 anos
Por Magali Cabral
O professor, economista, político e diplomata brasileiro, Antônio Delfim Netto (1928-2024), concedeu entrevista memorável aos jornalistas Amália Safatle e José Alberto Gonçalves, para a edição de maio de 2013. Nela, Delfim foi procurado para analisar o pensamento do economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), considerado o pai da Economia Ecológica, que propôs nos anos 1970 uma visão do sistema econômico centrada na Termodinâmica.
A entrevista, que se torna acalorada, acaba explorando o conceito de desenvolvimento, os limites planetários ao crescimento dos países e as regulações globais da agenda multilateral pela sustentabilidade. Com o argumento de que a tecnologia resolverá os problemas ambientais e climáticos de cada país, ele parece se irritar com os questionamentos, acusa a sustentabilidade de impor valores que remetem à Idade da Pedra e diz que tem “chão pra burro” até o Sol apagar.
Georgescu lançou a ideia de que a economia depende da capacidade de recarga da natureza e dos limites ecológicos. Portanto, não poderia ser distanciada das Ciências Naturais e muito menos estaria imune à Segunda Lei da Termodinâmica, que trata da entropia.
Para Delfim, comete um “erro crasso” quem diz que Georgescu, ao defender suas ideias, rebateu o conceito dominante de crescimento econômico e, em consequência disso, suas teorias foram banidas do pensamento econômico mainstream.
“O problema do Georgescu ter sido banido é outro. É que sua conclusão nega boa parte da teoria neoclássica e ponto final. E a teoria neoclássica é o mainstream. Então ele foi posto fora, do mesmo jeito que o [Karl] Marx nunca foi parte desse sistema, foi posto fora porque falou algumas verdades”.
Na época dessa entrevista com Delfim, Georgescu estava até certo ponto sendo reabilitado, pelo menos pela comunidade acadêmica da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), que homenagem o economista. Delfim, professor da FEA, estava lá. “Quem iria imaginar que, depois de 45 anos, íamos fazer uma reunião e dizer: ‘Georgescu era grande’. Nós todos sabíamos que era. Ele só não teve seguidores”.
Ao discorrer sobre mudança climática, entretanto, Delfim mostra uma preocupação. Fala que se o Brasil não pensar nisso, em 50 anos será outra coisa. O nível do mar estará, segundo ele, não sei quantos centímetros acima, o Sul estará produzindo outra coisa, o Nordeste também. “Se os modelos apresentados estiverem certos, uma boa parte do País vai piorar. O mais importante é os governos verem isso. A coisa do planejamento é muito mais complexa do que foi no passado, porque hoje nem a natureza é estável. É mais uma variável brutal.”
A entrevista tem muito mais. Acesse aqui “O desenvolvimento e seus truques”.