Carlos Gabriel Koury*
Os fundos de investimento que captaram grandes quantias para promover impacto positivo estão, em muitos casos, estagnados. Essa tendência global pode facilmente se repetir aqui no Brasil, particularmente na Amazônia, o que seria um desastre não apenas para a região, mas para todos nós
No Dia da Amazônia, é imperativo refletir sobre o verdadeiro impacto dos investimentos direcionados à preservação e ao desenvolvimento sustentável dessa região tão crucial para o planeta. Nos últimos anos, a pauta de ESG (Environmental, Social, and Governance) ganhou destaque mundial, sendo promovida como um caminho para um futuro mais responsável, tanto social quanto ambientalmente. No entanto, temos observado, especialmente nos Estados Unidos, um preocupante retrocesso nesse tema. Empresas que inicialmente adotaram, com entusiasmo, a agenda ESG agora, parecem recuar.
Os fundos de investimento que captaram grandes quantias para promover impacto positivo estão, em muitos casos, estagnados. Essa tendência global pode facilmente se repetir aqui no Brasil, particularmente na Amazônia, o que seria um desastre não apenas para a região, mas para todos nós.
O maior risco que corremos hoje é o de não investir de maneira eficaz. Investir na Amazônia significa aceitar a incerteza, entender que a inovação carrega consigo o potencial de falhas, mas que essas falhas são parte essencial do processo. Não podemos permitir que o medo de errar paralise os investimentos necessários para promover a bioeconomia e, por conseguinte, o desenvolvimento sustentável da região. Parar de investir, ou investir de maneira tímida e avessa ao risco, é o verdadeiro perigo que enfrentamos.
Assim como a agenda ESG, durante a pandemia, o mundo se voltou para a filantropia e para a resolução dos grandes desafios globais, gerando um fluxo significativo de recursos para fundos de impacto. No entanto, o que temos visto é que muitos desses fundos não estavam preparados para executar projetos com eficácia. Com isso, grandes somas de dinheiro permanecem paradas, rendendo apenas em aplicações de renda fixa, enquanto a Amazônia, que deveria ser a grande beneficiária desses recursos, continua à margem de um desenvolvimento real e sustentável.
Nunca se falou tanto da Amazônia quanto agora, mas precisamos questionar: o quanto dessa conversa realmente se traduz em melhorias concretas para a região? Quantos empregos foram criados? Quanto de renda foi gerada? Onde estão os resultados econômicos e sociais que tanto esperamos ver florescer na bioeconomia? A verdade é que, embora os fundos de impacto com foco na Amazônia nunca tenham sido tão numerosos, poucos estão de fato gerando mudanças tangíveis.
A sociedade precisa construir espaços que permitam que esses investimentos fluam com mais liberdade e eficácia. É necessário coragem para tomar decisões ousadas, que não se limitem a preservar o status quo, mas que impulsionem verdadeiras inovações. A Amazônia é um patrimônio inestimável, e o interesse de instituições filantrópicas, bancos, fundos de investimento e famílias ricas em contribuir para a sua preservação é um passo importante. No entanto, esse interesse deve ser canalizado para ações concretas, que façam a diferença na vida das pessoas que vivem na região e na saúde do planeta como um todo.
Hoje, o nosso compromisso deve ser com a ação é preciso garantir que os recursos destinados à Amazônia sejam realmente aplicados, que os fundos de impacto cumpram suas promessas e que o desenvolvimento sustentável da região seja prioridade. O risco de não agir, ou de agir de forma inadequada, é simplesmente grande demais para ser ignorado.
A Amazônia precisa de investimentos reais, comprometidos e corajosos que tragam resultados palpáveis. Somente assim poderemos celebrar verdadeiramente o Dia da Amazônia, com a certeza de que estamos no caminho certo para proteger e valorizar esse tesouro global.
*Carlos Gabriel Koury é diretor de Inovação em Bioeconomia do Idesam