Debatido na sexta plenária da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, o significado de bioeconomia é chave para delimitar políticas públicas e investimentos empresariais na região
O conceito de bioeconomia reúne diferentes visões e narrativas, cujos níveis de complexidade e abrangência influenciam prioridades de investimentos e políticas que possam efetivamente gerar negócios e promover o desenvolvimento sustentável, em consonância com as realidades locais. O tema, estratégico para o futuro da maior floresta tropical do mundo, foi o centro das atenções nos debates da sexta plenária de Uma Concertação pela Amazônia. O encontro, em 16 de novembro de 2020, reuniu representantes de variadas linhas que buscam o amadurecimento de um framework capaz de inspirar uma nova economia baseada na biodiversidade.
A abertura do evento com a participação cultural do artista plástico amazonense Rui Machado, cuja obra é referenciada na natureza amazônica, ilustrou a multiplicidade de perfis que contribuem para o diálogo: “Quem ama a região e nela vive conhece mais do que ninguém os seus problemas e reais necessidades”, apontou.
Rui Machado, 2014, Série Pachamama
Os avanços na discussão sobre premissas e possíveis caminhos para a bioeconomia deverão subsidiar, por exemplo, o plano setorial a ser adotado pelo governo do Amazonas, estado brasileiro diferenciado pelas maiores extensões de ativos florestais aptos a nutrir uma lógica de desenvolvimento sem desmate, no contexto de demandas globais importantes, como a da mudança climática. “Começamos a construir um grande quebra-cabeça para juntar peças ainda dispersas, desafio que exige um processo de escuta junto a grupos diversos para construção de uma narrativa, de um entendimento para que elas se encaixem”, revelou Tatiana Schor, secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Amazonas, na reunião.
Entre as peças trabalhadas no plano do Amazonas estão a que representa o extrativismo, a atividade primária, e as do setor industrial e governamental. “Para nossa surpresa, a visão [dos setores envolvidos, como extrativismo e indústria] sobre o que é bioeconomia mostrou-se muito rasteira, dificultando o desafio de formular uma política pública, o que evidenciou a necessidade de construir um Fórum Estadual de Bioeconomia”, afirmou Schor. A expectativa, segundo ela, é juntar expertises no grupo da Concertação e assim “construir um cronograma de ações para o próximo ano, de forma democrática, plural e coletiva”.
A ênfase está em políticas para mudanças na estrutura de incentivo e financiamento, com a estratégia inicial de um projeto-piloto que “reconheça os erros do passado e os desafios do presente, e estabeleça como seguir no curto, médio e longo prazos para transformar a realidade do Amazonas”. Na visão da secretária, o trabalho é complexo: “Não temos estrutura de certificação fitossanitária, a conectividade por Internet é muito baixa e há buracos negros de informação sobre mercado ao longo de todas as cadeias produtivas, o que dificulta a atração de investimentos”. Nesse tema, disse Schor, “há um novo cenário de demandas e reestruturação de fundos com olhar na sustentabilidade, que precisa ser considerado”.
A questão conceitual sobre o que é bioeconomia, suas aplicações e sobre qual o modelo de desenvolvimento a ser defendido e apoiado, apresenta-se como elemento-chave para avançar no desenho coletivo do que se espera para a Amazônia. “A bioeconomia é entendida de diferentes formas no mundo, muitas vezes associada por investidores ao capital natural”, observou Roberto Silva Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú. O detalhamento sobre a evolução histórica e conceitual da bioeconomia compõe o retrato técnico específico do setor, elaborado pela Concertação, acessível aqui.
Entre a floresta nativa e as commodities agrícolas
No exercício de alimentar um quadro inicial provocativo com elementos para o debate, Waack reconheceu que o debate intenso sobre bioeconomia não permite colocá-la “em caixinhas”, mas apontou duas vertentes conceituais principais: a bioeconomia florestal tradicional, baseada no extrativismo e nos recursos da biodiversidade, associados à identidade dos territórios; e a bioeconomia de commodities, lastreada na produção intensiva e monocultura. Entre as duas pontas, há um diapasão chamado de contínuo florestal, que compreende as múltiplas formas de uso da floresta.
A primeira vertente está ligada à gestão florestas naturais e silvicultura de espécies nativas; a segunda, a plantações e agricultura comercial. “O grau de impacto pelas atividades humanas, como o desmatamento, difere muito entre as duas, sendo que a primeira, a tradicional, apresenta menor densidade de antropização em comparação à baseada em grandes volumes de produção e capital”, pontuou Waack.
Ambas possuem relação com a questão climática, mas a produção em larga escala representa “um ponto de atenção pela pressão para conversão de floresta natural”, apesar de algumas culturas poderem potencialmente reduzir emissões de carbono ao substituir combustíveis fósseis.
No mundo da bioeconomia florestal, acrescentou Waack, as barreiras vão da convivência com a ilegalidade que envolve a extração de produtos da biodiversidade à falta de fiscalização e de padronização de insumos, além das “questões fitossanitárias, dificuldades impostas pela legislação de acesso aos recursos genéticos, baixo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento e preconceitos entre a linha de frente da academia e a lógica dos negócios”.
Por outro lado, a bioeconomia baseada em commodities caracteriza-se pela expressiva influência política e de grupos econômicos e, segundo Waack, pela “inércia comportamental diante da produção em monoculturas de grande escala e seus impactos, embora uma parte importante do agro esteja caminhando para padrões de sustentabilidade, como o cumprimento do Código Florestal e a valorização de serviços ambientais”. Como pano de fundo, há desafios na “adoção de práticas ambientais mais sustentáveis para redução de externalidades negativas”.
A economia baseada na biodiversidade da floresta é altamente dependente da consolidação de áreas protegidas: “Não adianta falar em bioeconomia, sem falar da conservação de áreas, principalmente as que ainda estão intocadas”, disse Waack. No debate, destacou-se ainda o alto potencial de inovação que envolve essa agenda, indo além das práticas tradicionais de produção, com a necessidade de bioindústrias e avanços na governança olhando para os diferentes desafios e realidades. “O açaí, por exemplo, uma das principais joias amazônicas, convive atualmente com três modelos produtivos diferentes: extrativismo, monocultura e sistema de manejo”.
Rui Machado, 2014, Série Pachamama
Como promover negócios e reverter a degradação?
“O modelo tradicional é insustentável e falhou totalmente em valorizar a natureza, porque só em 2020 teremos 15 mil km2 desmatados na Amazônia, além dos 25 mil km2 de áreas degradadas e dos recordes de queimadas”, enfatizou o cientista Carlos Nobre, idealizador do Projeto Amazônia 4.0. Para ele, a pergunta é: “Como transformar o Brasil na primeira potência ambiental da sociobiodiversidade? (Leia mais sobre o Projeto Amazônia 4.0 aqui.)
O desafio é complexo, porque não existe nenhum país tropical plenamente desenvolvido ou com sociobiodiversidade significativa para a economia. “Devemos pensar um Amazon Green Deal no pós-pandemia sem copiar modelos desenvolvidos lá fora, como ocorreu com a agricultura, pecuária e silvicultura, mas criando uma inovadora bioeconomia da floresta em pé e rios fluindo, que gere empregos, bem-estar e prosperidade, além proteção da biodiversidade e combate à mudança climática”, destacou Nobre.
Em sua análise, a questão é como superar um modelo de desenvolvimento atual que não traz bem-estar para as populações amazônicas, nem segurança climática, mas impacto à biodiversidade, às custas de subsídios públicos. “Queremos consolidar projetos estruturantes que dialoguem com esse potencial econômico da biodiversidade.”
Um dos pilares é a bioeconomia circular da floresta em pé, junto com a agricultura regenerativa e de baixo carbono, com utilização de menor área produtiva, passando dos atuais 650 mil km2 para algo em torno de 300 mil km2. Além disso, a estratégia prevê infraestrutura sustentável e financiamento verde. “Não devemos ir para a monocultura, mas para sistemas agroflorestais, que recuperam 60% dos serviços ambientais e até 80% do carbono, mantendo 60% da biodiversidade, com grande potencial de uso por modelos científicos de manejo”, defendeu.
O cientista lidera a iniciativa de levar o conceito da indústria 4.0 para cadeias produtivas da Amazônia, como a de cupuaçu, cacau, azeites gourmet e castanha, com recursos de filantropia doados por instituições representadas na Concertação. “Além do investimento em laboratórios, estamos desenvolvendo a Green Social Businesses School, uma parceria entre Projeto Amazônia 4.0, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade do Estado do Amazonas”, informou Nobre.
Em cooperação com a Coppe, instituto que coordena os programas de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o objetivo é levar infraestrutura de energias renováveis, internet das coisas, telecomunicações e telemedicina. “Temos que liderar tecnologias, e não apenas importar, incorporando conhecimento tradicional e sistemas educacionais e de saúde de qualidade.”
Como justificativa econômica, Nobre apresentou no debate o argumento de que soja e carne representam uma receita de R$ 604 reais por hectare/ano, enquanto açaí, castanha e cacau produzidos na floresta atingem R$ 12,4 mil por hectare/ano. Mas Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), integrante da plenária, fez um contraponto: “Não dá para comparar açaí com soja porque são produtos totalmente diferentes, que atendem mercados também distintos, e esse tipo de comparação não ajuda os produtos amazônicos”. “Preferiria dizer que temos uma grande variedade de produtos que poderiam ter o sucesso do açaí, sem a necessidade de ocupar o lugar da soja, porque o mundo vai continuar comprando grãos, carne e frango”, completou.
Para Brito, a inteligência do negócio não é se abster desses processos, mas justamente fazer a união entre os dois lados, criando investimento com “aderência de mundo [com base na realidade de mercado) porque quando partimos para a agricultura regenerativa, com sistemas agroflorestais, necessitaremos de mão de obra, qualificação, inovação e mecanização”.
“Não adianta fazer algo muito bonito, sem ser competitivo no mundo”, afirmou Brito, ao anunciar a realização do Fórum Mundial de Bioeconomia em Belém, em 18 a 20 de outubro de 2021, que trará participantes de todo o mundo com visões diferentes sobre o tema.
Na análise do empresário, a ênfase não deve estar no produto ser bom ou ruim, mas na forma como é produzido. “Em um grupo como o da Concertação, a discussão deve identificar pontos de intersecção entre a utopia do desenvolvimento sociobioeconômico que almejamos e a miopia de como operamos hoje na Amazônia, uma situação dramática e criminosa, que vem de décadas sem que a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e os governos lembrassem a existência da economia da floresta”, afirmou.
De acordo com o presidente da Abag, o conceito de sustentabilidade varia de geração em geração e de país para país, com suas diferentes expectativas. “Na Arábia Saudita, a visão é completamente diferente do que no Brasil ou Japão, e o mesmo acontece em relação à bioeconomia”. Em visita à Escandinávia, o empresário constatou o alto grau de evolução e rentabilidade da bioeconomia em setores consolidados. O desafio, segundo ele, está em como repetir isso em agrofloresta de países tropicais, ricos em biodiversidade e pobres em desenvolvimento econômico. “Como fazer a domesticação de produtos que têm a floresta como mainstream é base dessa transformação econômica e cultural”, afirmou Brito, lembrando que há pelo menos 2 mil anos a humanidade não domestica nenhum alimento novo.
O dinheiro para a bioeconomia, em sua opinião, pode estar no montante que hoje é repassado como subsídio a combustíveis fosseis – “US$ 4 trilhões em 2018 e US$ 5 trilhões em 2019, apesar de toda a discussão sobre mudança climática em fóruns internacionais”. No Brasil, segundo dados citados por Brito, os subsídios vão de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões por ano. “Nos debates sobre a manutenção da floresta em pé, esquecemos que já derrubamos entre 60 milhões e 70 milhões de hectares, hoje degradados na Amazônia.”
Sem floresta não há bioeconomia
Vice-presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) e presidente do Instituto Bionegócios, o biólogo Cláudio Pádua, painelista da plenária, contou que há 15 anos escreveu artigo defendendo que fazer conservação exigia envolver-se na economia e desenvolver-se com conhecimento e empreendedorismo. A mensagem não perdeu atualidade. “Os jovens brasileiros precisam mudar o mindset e olhar para a biodiversidade como potencial de negócios”, afirmou. “Para isso, devemos reduzir a xenofobia, trazer conhecimento e conservar a Amazônia”.
“Como tirar a bioeconomia do papel, dos estudos, palestras e webinars e criar empreendimentos no setor?”, perguntou Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do Idesam, municiando o debate da plenária com novas provocações. “Sem uma reposta, há o risco de ficarmos na bioeconomia caviar ou saci-pererê, que é aquela que todo mundo ouve falar mas nunca de fato encontrou com ela”, ilustra. Para ele, é importante a premissa de que não existe bala de prata: “A bioeconomia é uma solução de médio e longo prazo, que só vai prosperar se conseguirmos reter a atual sangria do desmatamento”.
Diante dos milhões de reais de governos e filantropia já investidos nas cadeias de valor, com o surgimento de pouquíssimos negócios, “a questão agora é como atrair empreendedores para a Amazônia”, reforçou Cenamo. “Nas décadas de 1970 e 1980 já fizemos isso, mas com efeitos trágicos, atraindo produtores que levaram à perda de 20% da vegetação nativa da região, e agora o desafio é usar de forma sustentável os 80% de floresta que restaram”.
Segundo Cenamo, na bioeconomia tradicional, o trabalho do Idesam e da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) tem acelerado negócios no modelo de processamento primário e comercialização de produtos principalmente com foco em B2B, com castanha, copaíba, pescado e açaí – além de outras iniciativas de beneficiamento mais avançado. Há potencial de bioprospecção de princípios ativos para produtos inovadores de biotecnologia na área de saúde, inclusive envolvendo vetores de doenças de origem na floresta, na esteira da Covid-19 e da corrida por uma vacina. “Os sinais vêm de empresários como o fundador da Amazon, Jeff Bezos, que colocou parte da sua fortuna em biotechs”, ilustra Cenamo.
Há potencial para sistemas agroflorestais, como também na biotecnologia de commodities, intensificação produtiva com menos áreas e produção sustentável em cadeias tradicionais, como a própria agropecuária, piscicultura e biorrefinarias para aproveitamento de biomassa em larga escala, segundo análise de Cenamo. Mas há também necessidade de negócios de infraestrutura para viabilizar tudo isso, como logística, distribuição e rastreabilidade, além da reestruturação de cadeias de fornecimento. “Buscamos uma economia que reduza desigualdades e gere renda para as comunidades, pois não adianta falar de grande cadeia de produção de açaí, se não resolver problemas sociais e ambientais da Amazônia.”
Em sua visão, inovações no mercado de papel e celulose, etanol e serviços ambientais podem ser a cereja do bolo para viabilizar negócios com melhor taxa de retorno, estratégica capaz de reduzir riscos e atrair capital privado à bioeconomia. O turismo científico e de base comunitária, além da pesca esportiva, são outras possibilidades. “A planilha aceita tudo; falar de bioeconomia no computador é fácil, mas conseguir transformá-la em bons negócios depende de muito suor dos empreendedores, o principal desafio”.
Em busca de convergências
“Concluímos com um bom grau de concordância que existem um mix de soluções e múltiplas possibilidades de investimentos – das áreas degradadas onde precisamos gerar prosperidade e maior escala ao apoio para o conhecimento tradicional e pequenos empreendedores”, disse o empresário Guilherme Leal, após a divisão da plenária em grupos para dinamizar a discussão.
No debate, levantou-se a questão sobre os riscos de tratar como bioeconomia as commodities associadas a monocultura, caminho que poderia confundir uma agenda de transformação necessária para a Amazônia como ponto focal. “Na discussão sobre o desenvolvimento da região, é trágico empacotar conceitualmente bioeconomia como tudo o que se relaciona à biomassa pois, desta forma, os números da pecuária e da agricultura, por exemplo, poderiam justificar que o cenário está bom”, advertiu Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.
Pelas características da Amazônia, disse ele, o Brasil deveria priorizar o conceito florestal, evitando distorções. “A discussão neste grupo tem que focar não a atividade de commodities, mas a parte da bioeconomia que precisa de ajustes”, propôs Azevedo, lembrando que nas áreas produtivas já consolidadas, o alvo deve concentrar-se na agrofloresta e na restauração com uso da biodiversidade local, entre outras estratégias.
Marcello Brito, por sua vez, discordou do ponto de vista: “Em um processo embrionário como o nosso, gastar tempo precioso com o que dever ser excluído ou incluído é um exercício despropositado de desenvolvimento futuro”. Em sua visão, o processo bioeconômico em um país deve ser inclusivo e transformador, e não definido por entendimento individual sobre o que pode ou não ser considerado. “Se excluirmos de início setores importantes, precisaremos descobrir como financiar o processo como um todo”, argumentou Brito.
“Devemos explicitar prioridades para o País neste campo e de forma alguma negar o fato de que uma parte relevante dessa economia relacionada à biodiversidade, a gente goste ou não, precisa ser transformada, porque do jeito como é feita hoje não para em pé”, ponderou Roberto Waack.
Sistemas agroflorestais e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, por exemplo, são alternativas para o Arco do Desmatamento e para zonas que estão hoje sob o risco de conversão de floresta, na Amazônia. Além disso, a biologia molecular de fibras florestais – importante driver da bioeconomia no Hemisfério Norte, trabalhado no Brasil por empresas de papel e celulose – pode desempenhar função importante na valorização de essências nativas, entre outras possibilidades, conforme dito no debate da Concertação.
Segundo Ricardo Abramovay, professor do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, o que domina hoje a bioeconomia no mundo são as florestas de clima temperado e, fundamentalmente, produtos plantados como milho e cana-de-açúcar. “Ninguém neste fórum fala contra isso, mas temos que olhar para uma carência: a realidade de que o mundo está engatinhando no aproveitamento moderno, racional e competitivo dos potenciais da economia da sociobiodiversidade florestal, apesar da grande importância que possui. É uma lacuna que queremos preencher e para a qual estão sendo traçados vários caminhos aqui”.
“O agronegócio está migrando para sistemas mais sustentáveis de produção e isso é inevitável. A questão que devemos colocar é se isso vai resolver os problemas sociais e ambientais da Amazônia hoje”, acrescentou Mariano Cenamo, para quem a questão não é excluir, mas olhar com dedicação e a prioridade para economia do extrativismo.
O debate abordou também a necessidade de protagonismo dos povos da floresta, no contexto do desenvolvimento da bioeconomia, subsidiando a inovação baseada na biodiversidade e no conhecimento tradicional, com vínculo aos diferentes territórios. Foi também destacada a importância da regularização de áreas contra a atual expansão do desmatamento em terras devolutas, essencial à garantia de acesso aos recursos da biodiversidade. “A relação territorializada da bioeconomia com o componente social é fundamental”, enfatizou Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
Sugeriu-se trabalhar no framework com as potencialidades de cada região e priorizar os blocos da ciência, crédito e acesso ao mercado para escalar soluções de negócios. Quanto às questões estruturantes do fluxo do dinheiro, um dos desafios apresentados foi a adequação da agricultura familiar à bioeconomia, uma vez que a Amazônia recebe cerca de R$ 3 bilhões por ano para pequenos agricultores e extrativistas via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com a necessidade de tornar-se mais “esverdeado”. “É preciso olhar para esses gatilhos como estímulo para um ecossistema mais empreendedor”, propôs Andrea Azevedo, na época diretora de desenvolvimento institucional na Conexsus e hoje diretora do Fundo JBS pela Amazônia.