Documentário Garrafas no Acaraú, criado por Igor Amin, mostra como a arte audiovisual pode ser usada como ferramenta de educação ambiental e de combate à vulnerabilidade de crianças e adolescentes
E se garrafas PET e outros resíduos, em vez de serem descartados no rio, se transformassem em instrumentos musicais? O curta-metragem Garrafas no Acaraú, criado por Igor Amin e Adolfo Borges, mostra que isso pode se tornar uma realidade. Gravado no bairro Sesmaria, na Serra do Mar, o filme aborda com leveza e diversão o uso da arte, a reutilização de materiais e a preservação das águas. A história acompanha Isaque e seus amigos, que coletam garrafas descartadas nas ruas ou separadas por moradores. Ao brincar no Rio Acaraú, Isaque une outras crianças para criar uma música em prol das águas do rio. Spoiler: durante o processo criativo, surge uma surpresa: o Telebarco, uma obra de arte sonora inventada a partir de canos de PVC e garrafas, capaz de navegar pelo rio até o mar.
Assista ao filme aqui.
“Certa vez eu cheguei a me questionar: eu sou cineasta ou educador? Aos poucos, eu fui percebendo que era um híbrido. Na escola não existe educador físico? Então, eu entendi que eu estava exercendo uma atuação semelhante, mas em outra área. Eu me tornei um educador audiovisual”, comenta Amin.
Ele enxerga o ofício como uma profissão nova, mas cada vez mais importante, em razão do modo como as telas atualmente fazem parte do nosso cotidiano e nos exigem o cuidado de orientar as crianças para que elas saibam conviver bem com todas essas tecnologias. De lá pra cá, ele fundou a comunidade de educação audiovisual “O que queremos para o mundo?”, unindo diversos profissionais da educação, do audiovisual e de outros campos transdisciplinares.
Garrafas no Acaraú contou com o patrocínio do Grupo SADA, via Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAc SP), a Lei Estadual de Incentivo à Cultura do estado de São Paulo. A produção do documentário, a cargo da QSL Produções, ocorreu durante oficinas audiovisuais, com a participação de crianças e adolescentes do Projeto Namaskar, que atende pessoas em situação de vulnerabilidade social e ambiental em Ubatuba (SP).
Diante disso, Página22 propôs Três Perguntas Para…
Igor Amin, cineasta e educador audiovisual
1.
A questão da poluição das águas é um tema central no documentário Garrafas no Acaraú. Como você enxerga a relação entre arte e ativismo ambiental? E de que maneira você acredita que o filme pode contribuir para a conscientização sobre os problemas socioambientais?
Acredito na potência dos filmes educativos com temática socioambiental, principalmente para crianças e jovens, pois quando podemos produzir um filme com a participação deles e delas, acredito ser possível aprender como um espelho. Verem o contexto ambiental que a comunidade vive e também ao se verem nas telas são formas de estimular o engajamento e novas ações a partir daquela experiência de conscientização.
2.
Como surgiu a ideia do filme e de que forma você chegou à história do projeto Namaskar em Ubatuba?
Nasceu da ideia de contectarmos uma serra tão especial, como a Serra do Mar, suas águas e as crianças que coexistem com elas. Assim, buscamos identificar crianças que vivem próximas às nascentes de um dos rios mais importantes de Ubatuba, o Acaraú, que passa por toda a cidade desde a serra. Foi daí que a comunidade Sesmaria e o Projeto Namaskar se tornaram protagonistas nesta história.
3.
Existem planos para expandir a iniciativa, criar novas produções ou colaborar com outras comunidades e outros projetos de educação ambiental?
Este projeto foi inspirado nas iniciativas do Instituto Mundos, fundado por mim e com diversos colaboradores, como Adolfo Borges, no projeto Telegarrafas. Estamos realizando outros filmes educativos, mais oficinas e exposições em estados como Minas Gerais, desde o Vale do Jequitinhonha até a cidade de Belo Horizonte e Betim. É possível acompanhar as iniciativas em www.oquequeremosparaomundo.com.br/telegarrafas.