Dentro das instituições da sociedade civil, uma das maiores referências em esporte e educação é a Fundação Gol de Letra, criada pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo. Há 14 anos, atuam em um centro próprio de atividades esportivas e escolas da Vila Albertina, na Zona Norte de São Paulo, e também no Rio de Janeiro.
Sergio Andrade, professor de Educação Física e coordenador do projeto Jogo Aberto, afirma que o objetivo central da instituição é fazer do esporte o meio e não a finalidade da educação. Por isso, trabalham com o chamado “esporte-cidadão”. Os professores incentivam a participação dos alunos não só durante os jogos, mas também na criação das regras, entre outras atividades. “Com isso, as crianças e os jovens se sentem mais seguros e confortáveis para jogar”, explica. Vale até mesmo mudar um pouco os regulamentos. “Se a turma é pequena, abaixamos a rede, se tem dificuldade, facilitamos as regras. O objetivo é proporcionar o prazer pelo esporte. Não queremos que os alunos tenham experiências traumáticas, de humilhação e derrota.”
A fundação não pretende encontrar e desenvolver novos “Raís” e “Leonardos” ou talentos olímpicos. Da mesma forma, não deveriam pretender isso os professores de escolas, defende Andrade. “O esporte de alto rendimento é excludente. Escolhe-se apenas um grupo que vai receber atenção. Já para o esporte-cidadão, todos são bem-sucedidos.”
A ideia de que não cabe às escolas o desenvolvimento de atletas nem sempre é clara. Há uma cultura instituída que usa como referência os Estados Unidos e Cuba, em que as escolas concedem bolsas aos atletas e dão grande ênfase aos esportes. Especialistas em Educação Física Escolar, porém, criticam esse modelo que incentiva a segregação. Para Reinaldo Pacheco, professor da EACH-USP, a escola não é o caminho para ganhar medalha, isso cabe aos centros de treinamentos, clubes especializados, federações e confederações esportivas.
Marcos Garcia Neira, também da USP, ressalta que professores da educação básica não são formados para identificar potenciais infantis e juvenis e desenvolver um trabalho a longo prazo para torná-los atletas. “O professor de Ciências não quer formar cientistas. Por que o professor de Educação Física tem de formar atletas olímpicos?”, questiona.
Leia mais sobre educação e esporte na reportagem “O chute antes do gol”