A economia global em transformação pede negócios cada vez mais sintonizados com a natureza. Nesse contexto, a bioeconomia da Amazônia encontra grande espaço para florescer. Com inscrições até 11 de junho, a chamada de negócios da aceleradora Amaz busca startups com impacto socioambiental positivo na região
“Qual será o diferencial do Brasil na economia global nos próximos 10 a 15 anos? Difícil prever, mas tenho certeza que a Amazônia precisa estar no centro dessa estratégia”, afirma Mariano Cenamo, fundador do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) e CEO da Amaz, aceleradora de negócios de impacto na Amazônia.
Criada dentro do Idesam em parceria com diversos atores, a Amaz é uma evolução do programa de aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Tem como objetivos encontrar, acelerar e investir em bons negócios com potencial de transformar a economia regional e, por decorrência, o desenvolvimento do País.
Cenamo sublinha que o momento é bastante desafiador, com a Amazônia sofrendo o maior desmatamento dos últimos 12 anos, que soma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo, e acarreta perdas para o País nos aspectos sociais, ambientais, econômicos e nas relações geopolíticas. A Amaz surge, portanto, como um contraponto para esse quadro, ao estimular negócios com a floresta viva.
“A pergunta que devemos fazer, como País, é de que forma atrair investidores para desenvolver novos negócios na região”, diz ele, ao abrir o ciclo de três webinars promovidos pela Amaz em maio, em parceria com a Página22 – Economia da Floresta, Empreender na Amazônia e Novos Mercados para Negócios Amazônicos. O ciclo contou com especialistas, parceiros e empresas já aceleradas que puderam dar seus depoimentos.
“Ainda não há grandes referências sobre negócios que prosperaram e transformaram a economia regional amazônica com base na conservação na floresta. Mas alguns já estão surgindo”, diz Cenamo.
Para estimulá-los, a Amaz abriu uma chamada de negócios que vai até 11 de junho (saiba mais e inscreva-se em amaz.org.br/chamada2021). Podem participar negócios de impacto de qualquer lugar do Brasil ou mesmo do exterior, desde que o foco seja gerar impacto social e ambiental positivo na Amazônia, priorizando a parte rural ou florestal. A aceleradora procura negócios em alimentação, extrativismo, turismo sustentável, artesanato, moda, transporte, logística e geração de energia para áreas rurais.
Os selecionados vão participar de jornada de aceleração e ter acesso a bolsas de estudos, apoios jurídico, contábil e de marca, contato com o mercado, além de receber investimentos de até R$ 600 mil. Além do Idesam e da PPA, os fundadores e parceiros estratégicos são Instituto Humanize, Fundo Vale, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Fundação Good Energies e Fundo JBS pela Amazônia.
A chamada é um passo inicial para fomentar um ecossistema de investidores e negócios de impacto capaz de fazer frente à economia predatória, que derruba a floresta basicamente para criar gado, dilapidando as riquezas naturais sem distribuir renda e muito menos criar perspectivas antenadas com a era de baixo carbono que desponta globalmente.
Nesse trabalho de formiguinha a que propõe a Amaz, em meio a um cenário que lembra a luta de Davi contra Golias, o professor da USP Ricardo Abramovay lembra que são inevitáveis as transformações rumo a uma economia calcada na relação mais harmônica com a natureza – e que é preciso estar preparado para isso, na forma de pequenos negócios emergentes e inovadores.
Nesse contexto global descrito por Abramovay, a mudança de chave já está em curso nos Estados Unidos, na Europa e em relações militares e diplomáticas e determinará os rumos da economia mundial. Um exemplo disso está estampado no Plano Biden, anunciado em abril.
Um dos adventos do Plano Biden, na visão do professor, é que pela primeira vez uma política governamental foi traçada não só com o intuito de fazer a economia crescer, mas também com um objetivo de natureza ética: reformar a maneira como a sociedade se relaciona com o meio ambiente. “O Plano Biden não é simplesmente plano climático, ambiental, mas que muda a sinalização dos investimentos, da infraestrutura e da cultura”, afirma.
Segundo Abramovay, essa nova e promissora visão contrasta com a forma pela qual a Amazônia historicamente é vista pelo restante do Brasil, oscilando entre um santuário intocável e um almoxarifado de onde se extraem recursos, como já disse o ex-governador do Pará Simão Jatene: “Nós transitamos de inferno verde para celeiro do mundo, de almoxarifado para santuário, dependendo da lente com que nos olham. Mas essa visão bipolar, maniqueísta, certamente nos leva a cair em algumas armadilhas”, afirmou em um webinar realizado por Uma Concertação pela Amazônia, também em parceria com a Página22 (leia mais aqui).
Mesmo que uma rede como a Amaz hoje seja minoritária, está alinhada com o futuro próximo: os negócios apoiam-se em Soluções baseadas na Natureza, movem-se com respeito ao conhecimento ancestral dos povos das florestas – o que não nada incompatível com novas tecnologias – ; e promovem o uso sustentável da sociobiodiversidade.
“Vão dizer que essas são iniciativas de nicho. De fato, são. Mas, o que ocorre no mundo é tão grande, que só podemos apostar que o ambiente de negócios vai mudar e precisar de inovações como essas. O que hoje é considerado nicho, ou um mero experimento, vai crescer e contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, do Brasil e do mundo”, garante Abramovay.
Mariano também acredita na transformação em curso, em direção a uma Revolução Florestal – após a humanidade já ter atravessado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. Basta olhar para as florestas: elas ensinam que pequenas sementes são capazes de produzir árvores enormes.
Quem sabe disso é a Coex Carajás. Por meio da venda de sementes ou da folha do jaborandi, essa cooperativa mostra como é possível gerar renda a partir do uso sustentável da floresta. “Vivemos da floresta e com a floresta desde os anos 80″, conta Ana Paula Nascimento, que representa 45 famílias da cooperativa dos extrativistas da Floresta Nacional de Carajás. A região, no sudoeste do estado do Pará, abriga um dos maiores projetos de ferro do mundo, tendo 70% a 80% da economia gerada pela mineração.
Mas, diante desse Golias, a Coex é como um Davi que encontrou na floresta viva uma fonte de renda viável para as famílias locais. “No início, era uma atividade conhecida como clandestina, mas hoje é valorizada e reconhecida mundialmente”, conta a gestora. O jaborandi é usado na indústria farmacêutica internacional em colírios para tratamento de glaucoma e em antibióticos para tratamento de câncer. Enquanto isso, sementes viram mudas de copaíba, jatobá, andiroba e gigantesca castanheira.
“O que pode ser pequeno para você, para nós é gigante. Hoje, a Coex é um gigante da floresta. Por isso, é importante o reconhecimento dos povos da floresta – nós somos e precisamos do meio ambiente”, afirma ela.
Nascimento conta que esta foi a primeira vez que a Coex se inscreveu em um processo como o da Amaz. “Precisávamos de uma caminhonete, mas um parceiro nosso do ICMBio me disse: ‘Tem uma chamada que pode te dar bem mais que um carro'”. A Coex se inscreveu em 2019 no então Programa de Aceleração da PPA, hoje Amaz, e obteve um empréstimo que foi fundamental para atender às necessidades da cooperativa, especialmente diante da pandemia. “O ano de 2021 tem sido de prosperidade. Hoje temos autonomia financeira e sabedoria para decidir no que investir”, diz ela.
Mas a bioeconomia da Amazônia não vai deslanchar se não houver um sistema de logística que vença as imensas distâncias da região, comumente medidas em dias e dias de viagem. A dificuldade é tamanha, que muitas vezes sai mais barato comprar um produto que venha do Sul do que da própria região, o que inviabiliza a economia local. Para resolver esses problemas da Amazônia fluvial, surgiu a Navegam, também acelerada pela PPA.
“Temos de olhar cadeias produtivas no estado, dar visibilidade para quem está no interior”, diz Geferson Oliveira, CEO da Navegam, que busca oferecer um sistema de logística mais previsível. Ele conta que, por meio de mentorias no Programa de Aceleração da PPA, a empresa aprendeu como gerar impacto e como medi-lo. “Isso ajudou o desenvolvedor, que em geral é mais técnico, a ser mais humano”, diz. Hoje a Navegam está captando mais investimentos para dar saltos de crescimento.
Abramovay vê os empreendimentos da Coex e da Navegam como embriões de uma rede que vai além dos negócios. “É uma rede cultural também, é sobre fazer negócios em uma região tão desafiadora como a Amazônia. Precisamos de políticas públicas e precisamos interromper a destruição, mas também dependemos de empreendedores para mudar a forma de fazer negócios”, afirma.
Se depender do entusiasmo de Ana Paula Nascimento, meio caminho está andado: “Vamos despertar o gigante que existe em cada um de nós”, afirma, sorrindo.
“Botocórnio“
Se empreender no Brasil não é nada fácil, imagine em uma região com as peculiaridades da Amazônia. E imagine, ainda, que esse empreendimento da Amazônia tenha como premissa lucrar e ao mesmo tempo gerar impacto positivo do ponto de vista socioambiental. É uma tarefa e tanto. Não por acaso, se um estudante em uma escola de negócios quiser se inspirar em um grande caso de sucesso com essas características, não o encontra na Amazônia, como lembra Mariano Cenamo.
Esse case de sucesso, porém, ainda pode emergir dos meandros da floresta na forma de um unicórnio (startup com valor de mercado de U$ 1 bilhão), aposta o empresário e investidor-anjo Denis Minev. “A próxima Natura não vai nascer em São Paulo, vai nascer no Rio Juruá, essa é minha esperança”, vislumbra o diretor-presidente do Grupo Bemol e um dos fundadores da Amaz, sobre a qual comenta: “A Amaz é a mais interessante iniciativa ocorrendo no momento. É preciso tornar a Amazônia um solo fértil para o empreendedorismo. Quero ver empresas faturando a partir de indígenas, ribeirinhos, amazônidas”, diz.
Ele explica, por exemplo, que a região pode se tornar um dos grandes produtores de proteína do mundo – não com o gado extensivo que abre pastagens derrubando a floresta, mas com a piscicultura. Essa atividade é capaz de produzir 10 toneladas de proteína em um único hectare (ao ano). Outro caminho, diz ele, é reflorestar. “Em vez de desmatamento, vamos falar em ‘rematamento’, para tornar a floresta mais produtiva economicamente, capaz de produzir mais óleos, mais essências, mais madeira”, propõe.
Um dos empreendedores que recebeu ensinamentos de Minev é Macauley Abreu, que está à frente da Onisafra, startup acelerada em 2019 e investida em 2020. A empresa promove a conexão com consumidores finais na cadeia de alimentos. Seu principal produto é um marketplace que digitaliza feiras offline para o formato online e faz toda a distribuição e rastreabilidade dos produtos.
“A maturidade da Onisafra coincide com a minha como empreendedor”, conta Abreu, hoje com 26 anos. “No início eu tinha uma visão romantizada do empreendimento, e Denis me alertou para a questão dos números, das métricas e a necessidade de mensurar o impacto que gerava”, conta ele. Estatisticamente falando, Abreu considera difícil a Amazônia abrigar o surgimento de um unicórnio. “Mas a gente pode pensar em um ‘botocórnio’, com faturamento de milhões”, diz.
Empreender na Amazônia hoje
O empreendedorismo na Amazônia em tempos “pré-sustentabilidade” levou diversos estados a se desenvolver socioeconomicamente, alcançando uma certa medida de prosperidade. Rondônia, por exemplo, é citada por Minev como um estado que recebeu ousados empreendedores paranaenses e catarinenses, “com sangue nos olhos e com faca nos dentes para conquistar a vida” no período em que o Brasil se apoiava em uma visão desenvolvimentista. Esse tipo de colonização na região, no entanto, levou a Amazônia a perder 20% de sua floresta.
“Aquele modelo dos anos 70 não nos serve mais. É preciso capturar a energia empreendedora para usá-la no século XXI, com preocupação ambiental, social e criar empresas muito prósperas. Além disso, é preciso haver muita empatia com a realidade amazônica e pisar na lama”, diz o empresário.
Para Renato Farias, coordenador adjunto do Instituto Centro de Vida (ICV), a intensidade da energia empreendedora na Amazônia não mudou de lá pra cá, mas passou a enfrentar maiores gargalos, como no acesso a crédito, nas regras contábeis e no alcance de públicos consumidores. “O que se planta aqui dá, mas como acessar o mercado?”. A preocupação de Farias se alinha à atuação do ICV, organização não-governamental com 30 anos de vida que veio se modificando ao longo da história, justamente para pisar na lama e entender as dores do produtor local.
Segundo ele, a ONG nasceu com um perfil muito conservacionista, justamente em um estado com forte vocação para o agronegócio como Mato Grosso. Mas, com o tempo, foi se adequando à necessidade de conciliar conservação com produção. Hoje,de quatro iniciativas do ICV, duas são ligadas a incentivos econômicos para conservação e negócios sociais.
O objetivo é que Mato Grosso deixe de ser conhecido apenas como estado do agronegócio – a “China do Brasil” – e passe a dar visibilidade também à agricultura familiar na Amazônia. Vemos o estado quase como um laboratório mundial nesse sentido”, diz Farias, com o olhar voltado ao funcionamento da cadeia produtiva e seus elos.
Assim como o ICV, o Instituto Ouro Verde (IOV) está sediado no município matogrossense de Alta Floresta. Lá, mais de 20 mil famílias de agricultores e técnicos atuam juntos na produção de alimentos em Sistema Agroflorestal. “Aqui o nosso poder é numérico, pela quantidade de famílias”, diz a diretora Andrezza Olival. É um claro contraponto ao poder econômico detido pela monocultura na região.
O IOV, com 22 anos completos, participou da aceleração em 2020. Tudo começou nas agroflorestas, ao produzir alimentos que não só combatiam a insegurança alimentar dos agricultores, como geravam excedentes, como sementes e frutas. Um passo importante do IOV deu-se em 2012, com a ideia de criar o Banco Comunitário Raiz, a partir do microcrédito que começa a ser oferecido. Com isso, o Raiz veio a se somar aos mais de 100 bancos comunitários existentes hoje no Brasil.
O Banco Raiz oferece linhas de crédito individual e coletivas, relacionadas com produção, processamento e comercialização de produtos. São ofertadas linhas de R$ 5 mil a R$ 15 mil para indivíduos e de R$ 50 mil para grupos. “Isso visa a autonomia da agricultura familiar e a criação de um fundo para se avançar com investimentos em agrofloresta. Em bioeconomia, há toda uma rede que precisa de apoio. Não temos a mesma oportunidade que outras atividades econômicas”, diz Olival, que se mostra otimista. “Quem sabe o Banco Raiz possa financiar outros empreendedores na Amazônia”, vislumbra.
O empurrão do comércio digital
Assim como o crédito é um fator-chave, outro elemento fundamental para o avanço da bioeconomia florestal e rural são os canais de comercialização e logística. A mesma pandemia que impôs desafios fortaleceu o e-commerce, que surgiu como uma ferramenta de grande valia para os emergentes negócios amazônicos.
“A pandemia acelerou a digitalização, e o e-commerce no varejo mais que dobrou no ano passado. Só no Mercado Livre, foram mais de 17 milhões de novos compradores na América Latina”, diz Laura Motta, gerente de sustentabilidade da empresa e parceira da Amaz. “Acreditamos muito no potencial estratégico da bioeconomia no Brasil. Por isso, buscamos colocar o Mercado Livre a serviço desses negócios, apoiando a comercialização por meio do marketplace da categoria de produtos sustentáveis e também da nossa malha logística”, diz.
Ela explica que a compra direta permite vantagens para a pequena empresa, que geralmente encontra muitas dificuldades em colocar seus produtos em uma grande rede varejista. “O Mercado Livre é um marketplace que facilita a entrada no mercado, ao oferecer tráfego alto para marcas pouco conhecidas do público”.
Além de estar em um marketplace para alcançar consumidores que não conhecem sua marca, a gerente dá as seguintes dicas aos empreendedores: ter uma loja virtual própria e investir em marketing digital. Isso é importante para contar a história de seu negócio, e mostrar seus diferenciais, aproveitando que a internet democratiza vozes e a produção de conteúdo.
No último ano, segundo ela, mais de 1,5 milhão de pessoas fizeram buscas na categoria de produtos sustentáveis do Mercado Livre, enquanto pesquisas internas com os clientes mostram interesse e disposição de pagar mais por produtos da Amazônia, se isso contribuir para a conservação da floresta. “Mais de 85% dos brasileiros compram pelo celular, então temos chance de gerar impacto por meio da comercialização desses produtos”, diz.
Empresas como a Manioca provam como é importante a estratégia do comércio digital. A conexão com o Mercado Livre foi fundamental para os negócios resistirem em meio à crise gerada pela pandemia. “Se você quiser comprar tucupi em São Paulo ou no Rio, o produto chega em 48 horas. Antes levavam 15 dias ou tinham um custo altíssimo. Essa agilidade foi importante para os nossos negócios”, conta Joanna Martins, fundadora da Manioca.
A empresa produz alimentos que geram impactos positivos na floresta a partir de ingredientes ou processos tradicionais e e culturais amazônicos, atuando junto com a agricultura familiar, os extrativistas, os povos tradicionais, os quilombolas e também os amazônidas urbanos. Um dos objetivos da empresa é que a gastronomia amazônica seja conhecida no País, para estimular a conservação do bioma e de sua cultura (mais sobre a Manioca nesta reportagem).
Acelerada pelo Programa da PPA, a Manioca passou a se ver como um negócio de impacto e lançar um olhar mais crítico sobre os próprios resultados financeiros e métricas. A aceleração ajudou na captação, levando a empresa a três rodadas de investimentos. Com isso, novos produtos devem ser lançados este ano.
Também no sentido fortalecer a frente do comércio digital, foi criado o movimento Amazônia em Casa, Floresta em Pé. Lançado em 2020 por Mercado Livre, Amaz, Idesam e Climate Ventures, busca a abertura de novos mercados, fomentando soluções logísticas e estratégias de vendas online para os negócios amazônicos. Conta com co-realização de Amazônia Hub, Biobá e Instituto Auá, parceria da Costa Brasil, Lothar Consultoria e Logística e Origens Brasil e apoio institucional do Fundo Vale, iCS, Climate and Land Use Alliance e Instituto Humanize. E já trabalha na ampliação e próximos passos em 2021.
Desenvolver e lançar produtos é uma forma de ampliar o impacto de quem já atua como organização socioambiental há muito tempo. É o caso da Peabiru Produtos da Florestas, que nasceu do Instituto Peabiru, atuante há mais de 20 anos com fortalecimento de cadeias produtivas na Amazônia e parceiro de divulgação da chamada.
Mariana Faro, gerente de comunicação do instituto, ressalta a importância de suprir a carência inicial dos produtores: a assistência técnica. A partir disso é que consegue chegar a produtos bem acabados, com qualidade e diferencial de origem, com destaque aos territórios que os tornaram possíveis.
Das cadeias produtivas de farinha, açaí e mel, foi a partir da melicultura, produzida a partir de abelhas sem ferrão, que o instituto deu origem à startup Peabiru Produtos da Floresta. “Nós tínhamos um produto especial de abelhas brasileiras, com diferenciais de qualidade, embora o mercado não estivesse estruturado para viabilizar a comercialização desses produtos florestais”, conta o diretor executivo do Instituto Peabiru, Hermógenes Sá. Por ser um produto de fauna silvestre, havia necessidade de autorização ambiental.
Depois de vencer etapas e obter o selo de inspeção do governo federal, o Peabiru percebeu que poderia canalizar esses aprendizados para outras cadeias que virão. “Nós podíamos esquecer os aprendizados ou aproveitá-los para empreender. Decidimos, então, criar a empresa”, conta.
Hermógenes Sá enfatiza que a iniciativa da Amaz está estimulando o ambiente de “negócios do bem”. “Tem uma turminha buscando soluções coletivas em outras bases de mercado. Para quem quiser entrar nessa turma, esta é a oportunidade”, diz. Formado em Administração tempos atrás, Sá conta que, na aceleração, havia muita coisa da qual nunca tinha ouvido falar.
Para fortalecer esse ecossistema, é preciso tirar as sementes do modo de dormência. “Queremos despertar o empreendedor que existe em um aluno, ou um líder comunitário, e colocá-lo no mercado”, diz Rafaela Reis, coordenadora de projetos do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, que também é um parceiro de divulgação da Amaz.
O Despertar, um dos 30 programas geridos pelo Centro, dedica-se a formar uma nova geração de empreendedores socioambientais. Com atuação nos estados do Pará, Amazonas, Amapá e Maranhão, o Centro tem como frentes a educação empreendedora, os negócios sustentáveis, os negócios de base comunitária e as políticas públicas.
Enquanto as primeiras mudas de empresas aceleradas já começam a dar frutos, outra floresta de gigantes se prepara para eclodir suas sementes.
[Foto: Rio Negro. Hannai Haia/ Pixabay]