Deu na Página22… há cinco anos
Crônica escrita em forma de anúncio satiriza a forma meramente comercial como grileiros e especuladores de terras em geral enxergam uma floresta essencial para o equilíbrio climático e a biodiversidade do Brasil e do mundo – a Floresta Amazônica. O texto de João Meirelles Filho é de 2019, mas poderia ter sido publicado nesta semana
“Vende-se magnífica propriedade: Fazendão Amazônia. Área total: 365 milhões de hectares (84,4 milhões de alqueires goianos). Área aberta: cem milhões de hectares, destocada, queimada por vinte anos seguidos“
Inspirado no estilo telegráfico das seções de classificados dos jornais, o “anúncio” foi pinçado de uma crônica publicada pelo escritor e diretor do Instituto Peabiru, João Meireles Filho, em agosto de 2019, mas poderia ter sido escrita nesta semana. No texto, o autor e então colunista da Página22 satiriza a forma como grileiros e especuladores de terras provavelmente enxergam as áreas com vegetação nativa preservada: como uma oportunidade comercial, mesmo que dessa floresta dependa o equilíbrio climático de todo um país e do mundo.
Segundo dados do Monitor do Fogo MapBiomas, de janeiro a agosto de 2024 os incêndios no Brasil já haviam atingido mais de 11 milhões de hectares do território do país. Desse total, 5,65 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo apenas no mês de agosto, o que equivale a metade do total deste ano. Nos oito primeiros meses do ano, o fogo se alastrou principalmente em áreas de vegetação nativa, que representam 70% do que foi queimado.
Os incêndios que estão dizimando os principais biomas brasileiros, muitos dos quais de origem criminosa, mostram que os candidatos a adquirir o “Fazendão Amazônia” não são poucos e estão dispostos a tudo para “passar a boiada”. Afinal, trata-se de “investimento certo e seguro, rentabilidade tremenda para quem trabalha com a pecuária de corte. A joia da coroa da América Latina”, escreve Meirelles, leitor contumaz de classificados de terras, sítios e fazendas, e que se inspirou em informações de anúncios de vendas de imóveis rurais para compilá-las livremente.
Não deixe de ler, ou reler “Patrão, estou com o anúncio pronto do Fazendão Amazônia, posso divulgar?”